De bebedor a produtor: Confira dicas para empreender no ramo da cerveja

Em pleno crescimento do mercado de rótulos artesanais, produtores baianos da bebida se unem para ganhar lojas e clientes

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  • Priscila Natividade

Publicado em 11 de junho de 2018 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/ CORREIO

Que a cerveja tem um lugar no coração do baiano, a gente sabe. A paixão é tanta que aumenta cada vez mais o espaço ocupado pela sua versão mais artesanal. Puro malte, cítrica, frutada ou até mesmo que remetam a sabores de  biscoito e café, o mercado de cervejas artesanais fabricadas na Bahia está em expansão. 

“A maioria das cervejas artesanais daqui partiu de um hobby que virou paixão e depois se tornou negócio”, diz o presidente da Associação dos Cervejeiros Artesanais da Bahia (Acerva Baiana), Sergio Lopes Júnior. “O Sul e Sudeste têm um mercado mais desenvolvido, porém, de uns dois anos para cá as cervejarias artesanais têm se fortalecido no estado. O surgimento das primeiras minifábricas foi o pontapé inicial. Estávamos muito restritos ao que vinha de fora”, completa. 

A Acerva Baiana tem atualmente cerca de 150 associados, que produzem suas cervejas em casa. Mas a estimativa  é que muito mais gente fabrique sua própria cerveja, sobretudo, em Salvador. “A  nossa tendência de crescimento anual de novos cervejeiros caseiros é de 10% a 15% ao ano”. 

E demanda, garante ele, é o que não falta: “Com o surgimento de novas cervejarias e mais certificações junto ao Ministério da Agricultura (Mapa), a tendência agora é que o mercado se aqueça. Com uma maior oferta, isso também deve reduzir o preço da cerveja”.

Bom de copo

Segundo dados do Mapa, no ano passado, o total de produtos registrados de cervejarias, cervejas e chopes em todo país chegou a 8.903 produtos. O estado do Rio Grande do Sul possui o maior número de cervejarias, seguido por São Paulo e Minas Gerais. A Bahia ainda tem uma participação bem tímida: são quatro fábricas certificadas pelo Mapa e mais duas em processo de certificação.

Para acelerar esse movimento e fomentar a cadeia produtiva e de consumo, empresários do setor criaram o Selo Beba Local. Dentre as ações previstas está a criação de site e aplicativo com o mapa das cervejarias baianas e os pontos de vendas onde encontrar os rótulos. 

“O consumidor vem demandando uma cerveja com mais qualidade, voltada à sensação gastronômica, aos sabores, aromas e não só o fato de beber uma  cerveja por ser refrescante e gelada. O potencial é muito grande”, afirma o sócio da Cervejaria 2 de Julho, Bernardo Lepikson, uma das empresas que integram o movimento. 

Recentemente, a cervejaria conquistou a certificação do Mapa. Bernardo fazia cerveja caseira há 10 anos antes de decidir montar a minifábrica até largar o emprego na área de logística no Polo de Camaçari e abrir o novo negócio.  “A gente começou com uma produção mensal de 1,8 mil litros. Hoje, essa produção está sendo ampliada em julho para três mil litros. Até o final do ano, vamos chegar a cinco mil litros por mês e o mercado tem absorvido isso muito bem”. 

Também sócio de outra cervejaria que apoia o Selo Beba Local, o empresário Adriano Mendonça da Sotera estudou muito antes de decidir fabricar e vender seu próprio chope. “Cada mês estamos tendo crescimento no faturamento. No início, tínhamos apenas dois fermentadores de 500 litros e hoje já compramos mais um fermentador de mil litros, o que duplicou a nossa capacidade. Queremos  ampliá-la com mais um fermentador de mil, aumentando nossa produção e faturamento”, pontua.

A fábrica da Feyh Bier é mais uma marca baiana que também aposta no selo. A Feyh produz mensalmente 2,3 mil litros, com capacidade de ampliar a produção, nas mesmas instalações para até 12 mil litros/mês. Para o cervejeiro e empresário Rodrigo Feyh, os poucos fabricantes que existem no mercado e a identificação do baiano com o produto são os fatores que tornam o segmento ainda mais promissor. “A maior oferta destes produtos vai dar mais robustez ao segmento. Por isso, o objeto principal do Beba Local é viabilizar ações que uma empresa sozinha não conseguiria fazer para fomentar ainda mais a cadeia produtiva da cerveja artesanal baiana”. 

Diversificação

É possível diversificar a atuação também em outros negócios dentro do mesmo segmento, como orienta o analista técnico do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-BA), Anderson Teixeira. Há oportunidades não apenas na linha de produção, mas na área de distribuição, lojas especializadas, parcerias com bares e restaurantes e com minifábricas.  “Primeiramente é necessário conhecer o mercado como um todo. O público que consome cerveja artesanal é altamente exigente por conta do valor agregado mais elevado e do processo de produção mais elaborado”, diz. 

Foi o que fez o empreendedor  Marcus Lutz, da empresa Bahia Malte, que se consolidou como única importadora de insumos para produção de cerveja artesanal do Nordeste brasileiro. “A melhor cerveja é aquela fabricada na sua cidade, que não sofreu com armazenagem, transporte e o calor. Fresquinha, direto do tanque para o seu copo. Acredito que o maior diferencial de se consumir uma cerveja local seja esse”, avalia.  

CONHEÇA CINCO CERVAS BAIANAS (Foto: Divulgação) Cervejaria 2 de Julho

A 2 de Julho produz atualmente 2 mil litros, distribuídos em quatro rótulos: a Best Bitter, com notas de malte, biscoito e leve toffe;  a American IPA, com uma generosa carga de lúpulo e sabor mais amargo; a English Porter, com aromas e sabores de pão, biscoito, tostado, chocolate e café; e a Munich Helles,  com sabores suaves maltados de cereais, pão e lúpulo alemão. A marca deve partir para experimentações, com rótulos sazonais, cerveja maturada em barril e com frutas. (Foto: Divulgação) Feyh Bier

A fábrica da Feyh Bier completou um ano em fevereiro e produz, mensalmente 2,3 mil litros, e tem capacidade de ampliar a produção, nas mesmas instalações, para até 12 mil litros/mês. Todo primeiro sábado de cada mês, a fábrica abre suas portas para o Sábado On Tap. Entre os rótulos produzidos pela cervejaria estão o German Pils – Sem Pedigree: cerveja de estilo alemão, corpo leve, amargor médio e a APA (American Pale Ale) - Pensando Melhor: com amargor e aroma de lúpulos, que remetem a frutas tropicais como manga e maracujá.  (Foto: Divulgação) Cervejaria Sotera

A Sotera nasceu nos  encontros da Associação de Cervejeiros Artesanais da Bahia (ACERVA BAIANA). Instalada em Abrantes, no município de Camaçari, a cervejaria produz dois rótulos: A APA Sotera, cerveja tipo American Pale Ale, de cor dourada escura, aromas de frutas cítricas, amargor médio e com um final seco; e a Carnavalia  Session IPA (India Pale Ale), mais leve e refrescante, e com o estilo tropical da Bahia. A capacidade de produção é de 3 mil litros mensais. A certificação pelo Ministério da Agricultura (MAPA) aconteceu no ano passado.   (Foto: Divulgação) Cervejaria Berenice  A marca leva o nome da avó do idealizador do empreendimento e chefe de cozinha, Diogo Pereira. Criada em 2012, a  cervejaria produz chopes artesanais e os rótulos de cerveja pilsen, MangabaSoul (com polpa natural de mangaba),  Manjeripa (à base de manjericão), Tamarindus Red Ale (com tamarindo), Berimbrown (com notas de biscoito, caramelo e café) e Abaeté Stout (traz em sua composição café e rapadura). A cervejaria também é uma das certificadas pelo Ministério da Agricultura. (Foto: Divulgação) Cervejaria Arraial d’Ajuda Localizada em Porto Seguro, a  Cervejaria Arraial d’Ajuda iniciou suas atividades com certificação pelo Ministério da Agricultura em 2015. São produzidos seis estilos de cerveja - todas do tipo ALE (Alta Fermentação). A campeã de vendas é a CaraIPA:  puro malte, de elevado amargor com intenso aroma cítrico e floral.  Outras  cervejas fazem referência às praias de Arraial d’Ajuda como a de Mucugê, a Apaga Fogo e a Pitinga. Os preços variam de R$ 10 (300 ml) a R$ 25 (600 ml).

PARA FAZER E VENDER SUA PRÓPRIA CERVEJA

Estudo Não basta só gostar de beber cerveja. É preciso estudar bastante o mercado, o setor e o processo produtivo de fabricação para desenvolver um produto diferenciado. 

Tendência Como o volume de cervejarias na Bahia ainda é pequeno e o baiano - não por um acaso - gosta muito de cerveja, a tendência é que o mercado se desenvolva cada vez mais. Mais uma vez, fica a dica de pesquisar bastante  e ver a melhor estratégia para transformar o seu hobby em negócio. 

Custo  Segundo o presidente da Associação dos Cervejeiros Artesanais da Bahia (Acerva Baiana), Sérgio Floripa, em termos de insumos, fazer sua própria cerveja em casa custa em média R$ 150. A estimativa não leva em conta os equipamentos necessários para a produção da bebida. 

Nichos de negócio Quem quer empreender não precisa se restringir só à fabricação. Segundo especialistas em negócios, é possível investir também na distribuição ou na montagem de uma loja especializada em cervejas artesanais, por exemplo. 

Conheça seu público  O consumidor de cerveja artesanal é extremamente exigente, até porque o valor agregado do produto coloca o preço lá em cima. Se você conseguir conquistá-lo, vai ter um consumidor fiel. Agora, se oferecer um produto de qualidade mediana, vai acabar perdendo espaço no mercado.

Insumos  De acordo com o analista do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-BA), Anderson Teixeira, um dos diferenciais para produzir uma cerveja artesanal de qualidade  é identificar quem serão seus fornecedores. Isto porque  a qualidade da matéria-prima vai interferir no resultado do produto colocado no mercado.