“Sabe quando um castelo de cartas está sendo montado e alguém mexe na base da estrutura?”. Foi com essa pergunta que um cacique petista respondeu sobre o efeito que a desistência do senador Jaques Wagner (PT) teve sobre o planejamento do partido para as eleições deste ano. “Uma grande m...”, definiu o destacado membro de um outro partido da base que há pouco mais de 15 anos governa a Bahia. Sem o Galego no páreo, o PT deixará de ter candidato próprio ao governo da Bahia pela primeira vez desde 1994, quando partido apoiou Jutahy Magalhães Júnior (PSDB).
A diferença é que lá atrás o jogo foi combinado com antecedência. Agora, aliados se dizem surpresos. Na última segunda-feira (28), o senador avisou ao diretório estadual do PT que não disputará a eleição e deixou para o partido a responsabilidade de traçar uma nova estratégia. “Quem decidirá se terá candidatura ou não, não sou eu, será o Partido”, disse, dando início a uma corrida contra o tempo. Ou na correria, como queiram. Em nota, naquele momento, o presidente do PT baiano, Eden Valadares, lamentou a decisão.
Por mais que notícias aqui e ali dessem conta de que o ex-governador petista resistia a candidatar-se novamente para o governo estadual, e Wagner demonstrasse desde o final do ano passado pouca empolgação diante da empreitada, a coisa era vista mais como um alerta: “sempre entendi que ele estava avisando ali que não iria admitir nenhuma espécie de bate-chapa, ou ter que justificar a candidatura internamente”, conta um companheiro de longa data.
Sem tempo nem mesmo para lamentar, a base aliada governista corre para viabilizar o nome do senador Otto Alencar (PSD), visto como a melhor possibilidade de manter unidos os partidos que compõem o atual arco alianças. Ainda que o período de convenções partidárias esteja distante, entre junho e agosto, a corrida agora é para dar ao líder pessedista condições de ser competitivo na disputa contra o ex-prefeito de Salvador, ACM Neto (União Brasil), que desponta como favorito nas pesquisas.
A expectativa é que o martelo seja batido no início da próxima semana. Neste sábado, os petistas devem se reunir para tratar do assunto. Entre domingo e terça-feira, a nova chapa, que deverá ter ainda o atual governador Rui Costa (PT) como candidato ao Senado, vai ser apresentada ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Se tudo correr bem, Otto será ungido como o candidato da base.
Nos bastidores, o que se diz é que a candidatura do senador carece de três definições para ganhar corpo: Otto não pretende encarar a empreitada com o PT dividido em relação a ele; quer presença massiva de Lula em sua campanha; e garantias de que terá toda a estrutura necessária para ser competitivo. Ele e o PSD contavam com uma disputa a reeleição no Senado. A campanha para o governo estadual é bem mais cara e o PT vai precisar dar garantias de que haverá recursos para a disputa.
“Otto não vai entrar só para marcar posição. É uma campanha muito difícil e ele sabe inclusive que pode perder, mas faz questão de ser competitivo”, explica um aliado.
Em um sinal de que convencer Otto é tarefa difícil, o deputado federal Otto Filho (PSD) avisou a parlamentares e dirigentes petistas na última quinta-feira à tarde, no CAB, que o pai dele não deseja a vaga, segundo informações da coluna Satélite do CORREIO. Um dia antes, o próprio senador falou com aliados sobre o desinteresse na disputa eleitoral.
Por outro lado, no PT já existe uma lista de possíveis candidatos a substituir Wagner. A expectativa do partido é que todos abdiquem do desejo e abram caminho para Otto.
Quem ganha com a desistência de Wagner é o vice-governador João Leão (PP). Sem o Galego na disputa, Rui se desincompatibiliza para disputar o Senado e Leão assume como governador tampão por nove meses. Quem esteve com o vice-governador nos últimos dias conta ter ouvido ele já falando como chefe do Executivo estadual. “Me garantiu que nesses nove meses será o melhor governador que a Bahia já teve”, diz um amigo. O que preocupa os outros partidos da base é apenas a possibilidade de Leão “puxar a sardinha” para as candidaturas do seu PP à Câmara dos Deputados e deixar os integrantes dos outros partidos da base à míngua.
Outro ponto que precisa ser pacificado dentro do PT é a candidatura de Rui Costa ao Senado. A grande dificuldade que o partido e os demais partidos da base aliada enfrentam é justamente a falta de tempo para “amadurecer” o nome de Otto, explica o petista que fez a analogia com o castelo de cartas no início deste texto. Na política, decisões indigestas costumam se tornar mais palatáveis com o tempo. As mudanças são absorvidas aos poucos. O grande problema é ter que definir amanhã, ou depois, algo que era para ontem.
Questionado sobre o assunto durante a posse de Norma Cavalcanti como procuradora-geral do Ministério Público da Bahia, nesta sexta-feira, Rui avisou que não fala em definição partidária. A direção do PT, Jaques Wagner, Otto Alencar, João Leão e líderes de outros partidos da base foram procurados, mas não responderam ou optaram por não se posicionar publicamente. Um deles ainda brincou: “ainda tem chance de eu falar alguma coisa e mudar depois”.