Dono do Atakarejo não comparece a reunião com família das vítimas convocada pela Câmara

Mãe de Bruno Barros fez discurso comovente e pediu justiça

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  • Vinicius Nascimento

Publicado em 2 de junho de 2021 às 19:28

- Atualizado há um ano

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As Comissões de Reparação e Direitos Humanos da Câmara de Vereadores de Salvador (CMS) fizeram uma reunião conjunta de forma virtual nesta quarta-feira (2). O objetivo era tratar dos assassinatos de Yan e Bruno Barros, sobrinho e tio que foram entregues a traficantes após furtarem pacotes de carne no supermercado Atakarejo Amaralina. 

Uma dos momentos mais aguardados era o posicionamento do dono da rede de supermercados, Teobaldo Costa, que foi convidado a participar, mas não compareceu ao encontro. O empresário não tem obrigação legal de comparecer ao encontro e será convocado pelas comissões para uma nova reunião durante a próxima semana.

Em nota, o Atakarejo afirmou que foi enviado um e-mail explicando que o não comparecimento de Teobaldo Costa se deu por questões legais. O comunicado aponta que o Atakarejo instaurou um um processo de sindicância interna que resultou no afastamento de funcionários suspeitos de envolvimento com o fato em questão, até que as investigações sejam concluídas.

A empresa alega que já entregou às autoridades policiais os celulares corporativos dos funcionários e as imagens das câmeras do sistema de segurança da loja do Nordeste de Amaralina. Um canal externo de denúncias operado por empresa terceirizada está à disposição da comunidade. Teobaldo Costa é dono da rede Atakarejo (Foto: Divulgação) O não-comparecimento do dono do Atakarejo gerou lamentações das famílias. Mãe de Yan Barros, Elaine Costa Silva afirmou que um dos motivos para comparecer foi o desejo de escutá-lo e saber o porquê desse tipo de medida acontecer nas dependências de um supermercado que o pertence.

Tanto ela quanto Dionésia Pereira, mãe de Bruno e avó de Yan, pediram justiça para honrar a memória de seus filhos, que foram entregues a traficantes da região, foram torturados e encontrados mortos no porta-malas de um carro na Rua da Polêmica. Bruno teve o coração arrancado.

Vereadora de Salvador, Maria Marighella (PT) afirmou que as duas comissões foram atravessadas com profunda emoção pelos relatos da mães e também lamentou a ausência de Teobaldo Costa, além de alegar que o empresário precisa se comprometer com a reparação das famílias."Precisamos ainda chamar os poderes públicos à responsabilidade. Este caso fala de uma cidade adoecida, violenta, em que a cidadania e democracia devem ser questionadas: para quem? Este caso fala a todas e todos nós", disse a vereadora.As vereadoras que compõem o mandato coletivo Pretas por Salvador (Psol) também participaram da reunião, que avaliaram como positiva. Laina Cristóstomo, Gleide Davis e Cleide Coutinho defendem uma Audiência pública sobre o caso.

Emocionada, Laina Crisóstomo afirmou que é impossível não se comover com o sofrimento das mães enlutadas. Penso que devemos pensar em uma Audiência Pública para esse caso, chamando, inclusive, as pessoas da sociedade civil, o Ministério Público e a Defensoria Pública e ver de que forma a gente consegue incidir da perspectiva jurídica. Não construímos essa luta sozinhos e por isso mesmo, colocamos a disposição as advogadas da Mandata Pretas Por Salvador e me coloco, enquanto advogada, a disposição do caso para vermos de que forma podemos pensar estrategicamente e auxiliar e contribuir”, disse.

Sobre a ausência de Teobaldo Costa, Cleide Coutinho classificou como lamentável.  Sei o quão é difícil para essas mães fazer esse enfrentamento, porque não há dor que se compare a perda de um filho, independente do que eles tenham feitam. Não vamos desistir para que a justiça seja feita. É muito lamentável que Teobaldo não tenha comparecido a essa reunião. Era uma chance de a gente ouvir ele e de fazer ele ouvir as falas dessas mães”, afirmou.

Procurada, a Polícia Civil afirmou que a 1ª DH/Atlântico segue com as investigações acerca das mortes de Bruno e Yan Barros da Silva. O inquérito policial encontra-se prorrogado para coleta de novos dados e as prisões temporárias estão dentro do prazo.Oito pessoas foram presas e mais de 30 já foram ouvidas. Além disso, a nota diz que laudos periciais serão analisados e outras informações não estão sendo divulgadas para não prejudicar o curso das apurações.