Drag Queens e ativistas LGBT discutem transformismo como profissão em seminário

Artistas participaram do 1º Seminário de Atores Transformistas de Salvador para discutir a situação da arte em Salvador e reivindicar o reconhecimento da atividade como profissão

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  • Hilza Cordeiro

Publicado em 30 de maio de 2017 às 20:13

- Atualizado há um ano

Embora usem salto alto, as drag queens Valerie O’rarah e Dion Santtyago e outras tantas ainda lutam para chegar no andar de cima do cenário artístico profissional. Ao lado de ativistas, as artistas se apresentaram e participaram, nesta terça-feira (30), do primeiro Seminário de Atores Transformistas de Salvador para discutir a situação da arte na capital e reivindicar o reconhecimento da atividade como profissão. O encontro ocorreu no Teatro Gregório de Mattos, ainda com a presença de militantes e artistas como Rosy Silva e Mell Blera, além do coordenador do Centro de Referência LGBT, Vida Bruno, e da secretária Municipal de Reparação (Semur), Ivete Sacramento.Dion Santtyago é drag queen há mais de 30 anos (Foto: Almiro Lopes/CORREIO)As drag queens são homens atores que se apresentam artisticamente com roupas femininas. Uma das pioneiras nesta arte em Salvador, Dion lembra que começou a se apresentar no final de 1978, em casas de mulheres e boates gays. “De lá para cá, já pisei em diversos palcos. No começo, meu palco era uma caixa de cerveja emborcada com um tapetinho em cima”, relembra ela, que há 39 anos está em atividade.

Já Valerie, uma das ‘filhas adotadas’ de Dion, é mais recente e se monta há 13 anos. “Nós temos registros desde 1960 de artistas que passearam por essa arte e, ao longo dessas décadas todas, o número só vem crescendo. Precisamos regulamentar isso, profissionalizar, fazer com que seja um trabalho digno. Eu faço isso e vivo desse trabalho há 13 anos”, argumenta.De acordo com as artistas, apenas sete espaços abrem as portas para as drags em Salvador: Os bares Âncora do Marujo, o Burlesque Bar, o Freedom Music Bar, as boates Amsterdam e Tropical, e as saunas Fox e Clube 11 – quase todos voltados exclusivamente para o público LGBT. Outros estabelecimentos como o Groove Bar e a Creperia LaBouche, ambos na Barra, também costumam abrir, mas muito esporadicamente.

As drags não cansam de agradecer as oportunidades destes locais, mas querem alcançar mais gente. “Nós vivemos dentro de guetos, separados, e essa é uma arte que precisa ser vista pelo mundo. Os barzinhos são pequenos e compactos. Nós temos potencial artístico e também merecemos teatros, grandes palcos. Há público para tudo e queremos que os órgãos públicos nos enxerguem e nos deixem brilhar”, reivindica Dion.

Para Ivete Sacramento, da Semur, a resistência em reconhecer o trabalho dessas artistas vem mesmo do preconceito histórico contra os homossexuais. “Essas pessoas não têm espaço de atuação profissional porque os espaços em Salvador são muito limitados. Eles precisam sair desses estabelecimentos tão específicos e irem para palcos diversos e maiores”, defende.Ativistas discutiram o reconhecimento da atividade como profissão (Foto: Almiro Lopes/CORREIO)A drag Mell Blera observa que, apesar das frequentes discussões sobre a diversidade sexual e de gênero na sociedade, onde há uma aparente aceitação da liberdade dos corpos, a arte transformista ainda engatinha na luta pelo reconhecimento. “Se houvesse essa liberdade, teríamos nosso espaço reconhecido. O que queremos não é ter privilégios, mas espaços iguais”, ressalta.

Editais culturais para a classeNa tentativa de oferecer mais oportunidades para os atores transformistas, a Semur negocia com a Fundação Gregório de Mattos (FGM) a criação de políticas públicas de reparação, com a inserção de uma categoria específica para essa arte nos próximos editais culturais. “Há uma desigualdade muito grande. A maioria desses atores se apresentam de graça nas casas noturnas pelo prazer de se apresentar, quando, na verdade, existe ali um potencial de subsistência. Temos que formalizar isso como profissão porque ela já existe, pessoas vivem disso, mas não na proporção profissional que merece”, avalia a secretária.

O seminário fez parte da programação do Mês da Diversidade, que promoveu uma série de diálogos neste mês, relacionados ao público LGBT. A programação segue até esta quarta-feira (31), com uma feira de saúde na sede do Centro Municipal de Referência LGBT, no Rio Vermelho. A atividade oferecerá gratuitamente aferimento de pressão arterial, testagem de glicemia, teste rápido para detecção de DST's e outros serviços.