Então é Natal, um tormento para os ansiosos; entenda o mau humor de dezembro

Baianos que sofrem de ‘Dezembrite’ costumam reclamar da comida, das festas em família e até do trabalho no período

Publicado em 12 de dezembro de 2021 às 07:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Acervo Pessoal

Você é do time que detesta confraternização, tem calafrios só de pensar em rever a família na ceia, odeia o clima de ‘comercial de margarina’ entre as pessoas, acha a decoração natalina cafona e, principalmente, não suporta ver uva passa em todas as comidas? Pois fique sabendo que seu problema tem nome: ‘dezembrite’, aquela ansiedade típica de final de ano.

De acordo com a psicóloga Ana Martha Lima, a ‘dezembrite’ causa desconforto ou mesmo crises agudas de ansiedade em algumas pessoas que não lidam bem com as representações desse período: festas, comemorações, família, a própria ideia de renovação.

“Isso não precisa ser uma verdade absoluta. Você pode começar ou terminar um projeto em diferentes momentos do ano, não precisa ser em dezembro ou janeiro. Muitas pessoas sentem pressão da família para corresponder a ideais sociais, como casar, ter filho, ser bem-sucedido. A ideia de uma reunião de celebração com pessoas que você não tem muita intimidade, como colegas de trabalho e familiares distantes, também pode ser um fator de estresse”, diz Ana Martha.

As reuniões em família são a primeira coisa em que muita gente pensa quando fala em Natal. Mas, por outro lado, muitas pessoas detestam a ideia de encontrar os familiares. Caio Dias, empresário de 34 anos, adora a data, que para ele é sinônimo de farra em família e ver parentes distantes. Mas isso mudou no ano passado, no primeiro Natal da sua filha Cecília.

“Como Cecília mora com a mãe em Aracaju, encontrar com ela envolve uma logística que não é fácil. Ano passado, então, durante a pandemia, sem vacina, foi bem complicado. Fico triste de pensar que ela talvez não tenha a relação de proximidade com o Natal e com a família que eu tive a vida inteira”, lamentou. 

A situação fez com que o empresário sentisse tristeza com a aproximação da festa. “Não é que ela não vá gostar do Natal. Esse ano vamos passar juntos de novo. Mas gostaria muito de incutir nela o sentimento de confraternização”.

Sobre isso, Ana Martha sinaliza que as famílias têm dinâmicas diferentes e que o Natal não precisa ser visto como a única data para confraternização. “As pessoas precisam entender que tudo bem não corresponder com esse ideal de família feliz de comercial de refrigerante. As relações são muito mais complexas e profundas do que uma reunião anual”.

A psicóloga acredita ainda que a pandemia ainda será um tema desconfortável no reencontro familiar nas festas. “Assim como aconteceu em 2018, com as eleições, o tema que deve dividir famílias em 2021 é a covid-19. Com as vacinas e flexibilizações, as pessoas se sentem mais seguras para reuniões maiores. Mas o uso ou não da máscara, tipo de máscara, distanciamento e medidas sanitárias devem ser motivo de discussões. Para evitar brigas, é importante ter empatia e paciência”.

E o que você fez?

O que realmente preocupa o advogado Abraão Pires, 27, no mês de dezembro, é o trabalho. Para ele, o enxugamento de dias úteis no calendário acaba sobrecarregando as primeiras semanas. “Dezembro é um mês complicado porque tem o recesso do judiciário, que começa no dia 17. Então, eu preciso adiantar tudo que eu posso para conseguir fechar os processos, dar baixa, conseguir faturar e ainda por cima fazer o balanço do ano que passou e traçar metas para o ano seguinte. É muito trabalho em pouco tempo”, enumera.

O excesso de trabalho e a mudança na rotina também podem trazer estresse e entristecimento no mês de dezembro, aponta o médico psiquiatra Lucas Alves Pereira.

“Com mais tempo trabalhando e menos tempo para fazer atividade física, descansar, fazer terapia, é comum que algumas pessoas acabem se excedendo na comida, no uso de álcool e outras substâncias. E isso pode gerar um descompasso e até mesmo dependência”.

O médico ressalta que, em geral, esse tipo de ansiedade não é um problema e costuma passar com o tempo. Mas, pode ligar sinais amarelos ou vermelhos se o entristecimento ou frustração persistir, especialmente se a pessoa tiver diagnóstico de alguma doença mental.

“Uma pessoa que tenha diagnóstico de depressão tem 33% a mais de chances de desenvolver um novo episódio do que alguém que nunca teve. Então é importante manter a saúde mental em dia, ter apoio psicológico ou psiquiátrico, e, principalmente, não deixar de tomar os remédios nem alterar por conta própria a posologia”, reforça

Não sendo caso de doença como a depressão, o desconforto com a época das festas tem “prazo de validade”. Basta respirar fundo e meditar, como Caio, catar as uvas-passas da comida, como Abraão, e torcer para ganhar algo além de uma caixa de bombom no amigo-secreto.