Estuprador da Ufba agia ao anoitecer para evitar ser identificado

Ele pegava ônibus de casa, no Rio Sena, e chegava sempre no mesmo horário à universidade

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  • Milena Hildete

Publicado em 27 de julho de 2018 às 18:15

- Atualizado há um ano

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O horário e local não foram escolhidos por acaso: Ramon Tiago Santos de Lima, 24 anos, que sequestrou três vítimas dentro da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e depois as roubou e estuprou, achava que o local era mais 'conveniente' para praticar os crimes. Ele optava por praticar os ataques às mulheres no início da noite. Saía de casa, no bairro do Rio Sena, no Subúrbio, por volta das 17h30 para chegar à universidade entre 18h45 e 19h05. O momento era oportuno para encontrar mais vítimas chegando e saindo dos estacionamentos dos campi da Ondina e do Canela. De acordo com o delegado responsável pela investigação, Delmar Bittencourt, do Departamento de Crimes Contra o Patrimônio (DCCP), o suspeito cometia os crimes sempre ao anoitecer para não ser identificado. "Ele dizia que, dentro da Ufba, por não ter policiais circulando, era mais difícil de ele ser pego", afirma o delegado. Retrato falado do agressor feito pelo Departamento de Polícia Técnica (DPT) A abordagem das vítimas acontecia quando elas iam entrar no carro. Nos dois primeiros casos, segundo a Polícia, ele as ameaçou com uma faca. No último, com uma pistola.Todas as três mulheres foram obrigadas a ir para o banco do fundo durante o sequestro. Assim, o criminoso seguia dirigindo e realizando saques em postos de combustíveis com os cartões das vítimas. No final do assalto, Ramon as estuprava. Ainda segundo o delegado, os carros das vítimas eram abandonados no bairro em que o suspeito morava. “Dois dos veículos, inclusive, foram encontrados numa mesma rua", afirma o delegado. 

Da primeira vítima, no dia 17 de maio, ele conseguiu levar R$ 120. Já a segunda, no dia 9 de julho, teve o cartão bancário levado pelo criminoso. A polícia diz que ele passou o cartão em máquinas de dois postos de combustíveis da capital em troca de dinheiro, e recebeu os valores de três frentistas. Os funcionários dos postos foram identificados e demitidos, segundo a polícia. Com o cartão da segunda vítima, o homem conseguiu R$ 900. Já da terceira vítima, foram roubados R$ 1,9 mil.Dívida  Ramon afirma que cometeu os crimes porque precisava de dinheiro para pagar um agiota. A dívida, segundo a polícia, foi feita depois que um irmão do criminoso foi preso. “Ele diz que pegou R$ 3,1 mil com um agiota em dezembro de 2017, para pagar um advogado, depois que um irmão foi preso suspeito de envolvimento com tráfico de drogas em Feira de Santana. A dívida, no entanto, aumentou muito e ele não conseguia quitar por estar desempregado. Afirmou à polícia já ter pago R$ 4 mil, mas disse que ainda deve R$ 11 mil ao credor.

Durante aprensentação, ele negou que tivesse praticado o ato de violência sexual contra as mulheres. "Eu pratiquei os assaltos porque precisava pagar a divída do meu irmão", disse ele. Ramon, segundo o delegado, disse que resolveu cometer os assaltos por causa dessa dívida. No entanto, ele não explicou à polícia por que também estuprava as mulheres. Ele afirmou apenas que agia sob efeito de drogas.

Da investigação à prisão  As investigações tiveram início no dia 17 de maio, depois que a primeira vítima foi abordada, segundo a polícia. "Começamos a traçar uma linha de investigação e vimos que os três casos tinham aspectos em comum", afirma o delegado.

A polícia chegou até o autor dos crimes através de uma imagem registrada nas câmeras da universidade, que foi cedida pela administração da Ufba. As vítimas também identificaram o suspeito com o retrato falado produzido pelo Departamento de Polícia Técnica (DPT).  Nesta quinta-feira (26), Ramon teve a prisão temporária decretada.  A polícia foi até a casa onde ele estava com a namorada, que não mora no local e que disse não saber dos crimes que ele cometeu. Ele tem três filhas. “Nós localizamos ele dentro de casa. Na ocasião, estava com a namorada, que não mora com ele na residência", falou o delegado Delmar. Na casa de Ramon, a Polícia encontrou a  bolsa da primeira vítima, um chaveiro da segunda e um celular da terceira. Ramon vai responder pelos crimes de roubo qualificado, pela restrição da liberdade das vítimas e por estupro. Ele será encaminhado ao sistema prisional.

Após três estupros em 70 dias, Ufba anuncia reforço de segurança  A Universidade Federal da Bahia (Ufba) divulgou, em nota publicada no site da instituição nesta quinta-feira (26), medidas de reforço de segurança em função dos recentes casos de violência nos campi. Entre as iniciativas estão revisão da iluminação, poda da vegetação, instalação de novas câmeras e reposicionamento das que já existem.

Somente nos últimos 70 dias, foram registrados três casos de estupro na Ufba. Um auxiliar de cozinha acusado de sequestrar e estuprar três mulheres em diferentes campi da Ufba foi preso pela Polícia Civil. Ele será apresentado à imprensa nesta sexta-feira (27), às 10h, na sede da instituição, na Piedade. A prisão foi feita pelo Departamento de Crimes Contra o Patrimônio (DCCP). O suspeito, que não teve nome divulgado, agiu entre os dias 17 de maio e 20 de julho.

“A segurança é um assunto central e permanente da gestão da Ufba, que vem adotando um conjunto articulado de medidas destinadas a reforçar a segurança da comunidade universitária e da população baiana que frequenta seus campi, preservando, ao mesmo tempo, sua essência de espaço aberto e acolhedor”, diz a nota da Ufba. 

Em outro trecho, a Ufba informa que na última sexta-feira, 20 de julho, uma estudante foi vítima de sequestro no estacionamento do Pavilhão de Aulas da Federação V, campus de Ondina. 

“A reitoria da UFBA, de imediato, buscou prestar a assistência necessária à vítima, ao tempo em que entrou em contato com a delegacia da Polícia Civil responsável pela apuração do crime e, desde então, colabora ativa e decisivamente com a investigação, fornecendo elementos fundamentais para a conclusão desta, que incluem imagens das câmeras de segurança da universidade. Foram também intensificadas medidas como a revisão da iluminação e poda da vegetação, no local e em todo o campus, instalação de novas câmeras e reposicionamento das já existentes”, informou a Ufba.

*Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier