'Eu não disse que não vou voltar', diz Brown sobre o Carnaval na Bahia

Cantor fala sobre a nova edição do The Voice Kids, seus projetos infantis e sobre a sua participação no Carnaval

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  • Naiana Ribeiro

Publicado em 5 de janeiro de 2019 às 05:15

- Atualizado há um ano

. Crédito: Isabella Pinheiro/Gshow/Divulgação

Presente em todas as edições do The Voice Brasil - incluindo as temporadas Kids -, o cacique baiano Carlinhos Brown, 56 anos, conversou com o CORREIO sobre a nova edição do programa, seus projetos infantis e sobre a sua participação no Carnaval. 

Após despedir-se das ruas de Salvador na folia de 2018, ele conta seus planos para o período neste ano. “Estou saindo, mas eu não disse que não vou voltar”, afirmou o artista. Confira abaixo.

Como é, para você, ter participado de todas edições do The Voice Brasil? É incrível. Que coisa boa ter participado de quatro temporadas de The Voice Kids! A chegada de Simone e Simaria e Claudia Leitte na terceira foi surpreendente e tudo o que foi formatado com Victor e Léo, Ivete e comigo, ganhou força. A gente deu seguimento a isso de forma interessante, o que continua nesta quarta temporada.

Você tem alguma estratégia para essa temporada? Minha única estratégia é estudar um repertório pra criança se sentir confortável. No ‘kids’ a gente se depara com cantores sem nenhum tipo de vício e com novidade vocal. Nosso palco é da criança porque ela sabe se apoderar dele e está convicta de que ali é mais um ponto de passagem.

Todos os técnicos são baianos. Como vocês levam essa baianidade para o programa? Baianidade é sinônimo de entrosamento. Não é à toa que o Brasil começou na Bahia. Nós temos uma meninice peculiar. Brincamos muito, adoramos a mistura - porque a Bahia é um lugar em que as misturas se fizeram... Mas o melhor de tudo e o tempero real é que nós amamos o que fazemos. E tem um teor familiar, amoroso, que envolve todos nós. O grande tempero é o da amizade que os baianos têm para com todo o Brasil e entre si.  Claudia Leitte, Carlinhos Brown, Simone & Simaria: time de técnicos baianos continua na quarta temporada do The Voice Kids, que estreia domingo (6) (João Miguel Junior/TV Globo/Divulgação) Se a gente for ver, lá atrás, Simone, Simaria, Claudinha e eu somos parentes mesmo. Nós estamos em um país em que descendemos um do outro. Só muda um nome ali, muda de cidade, muda de sotaque e vai misturando os nomes. Nós somos descendentes do nosso próprio povo que - de uma forma assertiva - se miscigenou. No programa, a miscigenação é uma característica que nos traz uma realidade e uma aceitação da pureza que nos leva a lágrimas, em uma catarse positiva. É muito bom estar nisso tudo.

Como é representar a Bahia em rede nacional? Nós somos baianos representando o Brasil ali naquele lugar. Não representamos só a Bahia - porque não fomos escolhidos apenas para representar a Bahia. Somos baianos que fomos escolhidos para representar filhos dos brasileiros. E, por isso, nós temos uma responsabilidade muito gigantesca no sentido de que nós nos interessamos pela história do outro. Você vê que eu fico brincando às vezes é fazendo conexões: quando alguém fala de Minas Gerais eu já lembro do queijo; quando falamos do Paraná a gente já canta uma música de capoeira; tem uma lembrança de uma comida, de uma saudade, de algum artista que a gente conhece... Porque esse é um país de diversidade e a diversidade merece respeito a todo momento, mesmo quando a oportunidade está focado apenas em um lugar. Foi por sorte e não por planejamento. Somos baianos, mas também somos representantes do Brasil naquele momento e, mais ainda, acolhedores dessas crianças talentosíssimas que seus pais mandam com responsabilidade a nós.

Somos felizes pelo fato de termos oportunidade nos lugares onde vamos e sobretudo por esse comportamento de alegria e respeito para o outro. É assim que os baianos são vistos no mundo inteiro. Simone e Simaria, Claudia Leitte e eu estamos muito agradecidos por essa oportunidade de não apenas representar a Bahia, mas de estar em um lugar onde o Brasil está olhando. E, nesse momento, nós somos é brasileiros mesmo. Claudia Leitte, Simone & Simaria e Carlinhos Brown com André Marques e Thalita Rebouças (Foto: João Miguel Junior/TV Globo/Divulgação) É muito visível sua conexão com as crianças. Elas sempre brincam com você, com seus óculos e dreads. De onde vem essa relação? A minha comunicação com as crianças veio muito da relação com a comunidade com a qual eu vivia, o Candeal, e pela situação social com a qual eu vivia. Já tenho um trabalho nos últimos 35 anos voltado ao cuidado com as crianças da comunidade, onde tive experiências ambientais positivas, como o saneamento, que é muito importante, porque tem a ver com o meio ambiente, com a água. Até aquela música que eu fiz, Olha a Água Mineral, tem a ver com isso. Tem uma música também que fiz lá atrás com Arnaldo e Marisa, que se chama Água Também é Mar, que também trata sobre o assunto. Isso tudo me ensinou a não criar muros. Porque criança não gosta que você fique falando o que ela tem que fazer. Ela gosta de se expor, de brincar, de fazer arte. Também tenho tido muitos encontros, sobretudo em aeroportos, e sempre acontece uma movimentação toda. Eles mandam beijos, falam o que gostam no The Voice, criticam o que não gostam... Tudo isso fez com que eu tivesse uma certeza de que poderia me esforçar mais nessa comunicação infantil na arte. Não tinha essa segurança lá atrás. 

Essa experiência positiva me deu uma segurança de ver que este realmente é o momento de levar às escolas o pertencimento. Ou seja, educação ambiental para educação infantil. Para isso, eu escrevi músicas. Criei os personagens Paxuá e Paramim, da Turma do Paxuá e Paramim. Uma das metas do milênio é a educação musical e dentro da educação musical cabe a educação ambiental. 

O que mais você planejou para a Turma do Paxuá e Paramim? Estamos fazendo livros de 4 a 5 anos, para escolas públicas de todo o Brasil. Está no forno. Está acabando de sair. Isso me honra muito, porque é algo que começa a se construir nesse país de uma forma positiva. Agora, nós vamos entrar nas escolas com tudo. Não poderia fazer isso sozinho. Eu pedi ajuda ao Brasil sustentável para que os professores me ajudassem no currículo e nos textos. Criei as músicas e os personagens e juntamos uma equipe enorme para criar o livro ambiental. Nós vamos tirar um saldo muito bom. A nossa geração dormiu muito em relação ao meio ambiente e essas crianças têm o poder de mudar tudo.

Ano passado você se despediu do Carnaval de rua baiano. Você vai ter alguma participação na folia desse ano?  A minha saída do Carnaval significa que a Bahia se expandiu pelo mundo. Eu tenho 40 anos aqui e nunca sai. Vários amigos meus saíram. Como estou fazendo 40 anos de Carnaval, eu pedi minhas Cinzas até pra ver de longe tudo o que fiz. Desde que nós criamos a axé music eu não paro. Eu nunca tirei umas férias. E não estou tirando férias porque vou fazer Carnaval em outros lugares. Eu vou experimentar... Estou sendo convidado para três dias de folia nas Ilhas Canárias, na Espanha, e, antes disso, tenho apresentação em São Paulo (SP). Estou muito interessado em tudo o que está acontecendo em SP porque houve um processo de educação de rua na Bahia gigantesco.

Essa extensão que eu estou procurando no Carnaval da Bahia passa por uma gratidão, mas sobretudo eu preciso ver onde é que está essa obra que eu fiz. Se é São Paulo hoje que me dá o melhor direito autoral do Brasil, porque eles tocam muito minha música, eu preciso fazer alguma coisa lá um dia. Não importa o tamanho, eu quero ver até onde esse trio, esse navio de alegria, está indo. E até onde eu posso também continuar levando a música. 

Quero deixar muito claro que eu disse que estou saindo, mas eu não disse que não vou voltar. Por isso eu estou preparando batucadas, músicas novas, tudo pra esse novo momento. Acho que tem muita força e sobretudo quando eu saio da Bahia pra afirmar que não é carnaval da Bahia, do Rio, do Recife, de São Paulo. É Carnaval do Brasil.

Como vai ser seu Verão? Vou fazer várias coisas na Bahia no Verão. As Enxaguadas do Bonfim, no Museu du Ritmo, e de Yemanjá, no Rio Vermelho, por exemplo, estão confirmadas.  Esses são meus projetos que de forma alguma posso deixar de fazer - até pelo meu compromisso espiritual.  Depois, tenho uma turnê pela Europa com os Tribalistas, em fevereiro. E, em março, logo depois do Carnaval, vou fazer uma exposição com as minhas telas em Madri. Tudo isso é Carnaval pra mim. E esse carnaval extenso, porque eu preciso dessa sensação. É uma necessidade. Assista trechos da entrevista abaixo