Filme mostra Dorival Caymmi muito além da música

Longa Dorivando Saravá, o Preto que Virou Mar estreia é dirigido por Henrique Dantas

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  • Vinicius Harfush

Publicado em 29 de novembro de 2019 às 07:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

A sensação de “dorivar” deveria ser experimentada por todos. É o que pensa o cineasta baiano Henrique Dantas, diretor de Filhos de João, O Admirável Mundo Novo Baiano (2011), que conta a história dos Novos Baianos. Aos 47 anos, Dantas coloca hoje na tela do 42º Festival de Cinema em Brasília o músico baiano Dorival Caymmi (1914-2008).

Com Dorivando Saravá, o Preto que Virou Mar, o diretor mostra Caymmi muito além da música. “Os filmes que vi sobre ele não abordavam a questão da Bahia, sua relação com as religiões africanas. Esse filme fala sobre emoções e memórias. Discuto a Bahia que ele usou de inspiração”, contou o diretor por telefone, de Brasília. O artista se tornou uma referência na luta da negritude (Foto: Divulgação)  Sobre o verbo que deriva do nome do cantor, “dorivar” é viver o tempo na sua essência, “é dar o espaço para a dúvida, respiração”, define Henrique O documentário mostra o artista de uma forma diferentes ao demais registros, trazendo uma visão bastante pessoal de Dorival, com  histórias de artistas como Arlete Soares e Tom Zé, que são “amigos de sofá”, além de outros nomes da música que se inspiraram nas referências africanas do cantor baiano.

"A gente precisa ter uma dimensão dele. Precisa ter todos esses registros em um museu para ele. Um lugar para dorivar", Henrique Dantas“Busquei pessoas que cantam ou cantaram os orixás após Caymmi, como Gil, Mateus Aleluia, Moraes Moreira e João Donato”, afirmou. Outra perspectiva de personagens que compõem o filme são os que fizeram registros do cantor e que perpetuaram toda realidade exposta por Caymmi, a exemplo do escritor baiano Marielson Carvalho. Artistas como Letieres Leite, Lazzo Matumbi e Adriana Calcanhotto também estão presentes na produção.

Dorivando Saravá acessa momentos marcantes na carreira de Caymmi, principalmente através de gravações de rádios onde o baiano concedeu entrevistas. Estes momentos revelam seu importante papel na expansão da música baiana, ao mesmo tempo em que luta contra paradigmas construídos através do preconceito: “O baiano é visto de forma preconceituosa por conta da preguiça, e Caymmi foi tachado por isso. Ele usava isso na sua música, seu tempo”, conta o diretor, que lembra que essa é uma produção que se baseia literalmente nos discursos e na visão do artista, “ajudando no fortalecimento na identidade da negritude no país”