Flip homenageia editora baiana, primeira a publicar Pierre Verger

Criada há quase 40 anos, a Corrupio é destaque na Festa Literária Internacional de Paraty que começa nesta quarta-feira (25)

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  • Laura Fernades

Publicado em 24 de julho de 2018 às 20:23

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Acervo da Fundação Pierre Verger

Quando o etnólogo e fotógrafo francês Pierre Verger (1902-1996) fincou raiz na Bahia e ninguém quis publicar um livro com suas fotos “só de negros”, foi criada a editora baiana Corrupio com a missão de jogar luz sobre as imagens hoje reconhecidas no mundo todo. Agora, quase 40 anos depois, a editora ganha uma homenagem na 16ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que começa nesta quarta-feira (25), em Paraty, no Rio de Janeiro.

No evento que segue até domingo (29), a Corrupio será celebrada com a exposição Editora Corrupio e Pierre Verger e a mesa-redonda Um Olhar Sobre Verger, ambas marcadas para acontecer no sábado, a partir das 9h. No bate-papo, as editoras Arlete Soares, 78 anos, e Rina Angulo, 72, contam sobre sua experiência com o fotógrafo que foi um dos responsáveis por consolidar o imaginário da Bahia dentro e fora do Brasil.

“Para nós tem sido uma alegria muito grande, porque sempre tivemos a noção do valor do nosso trabalho. A gente lutou muito, somos resistentes, mas uma coisa é ter essa consciência e outra é ter o reconhecimento do seu trabalho em um nível nacional”, comemorou Rina sobre a editora baiana que se dedicou a publicar livros sobre as culturas negras quando ainda era algo incomum no mercado editorial brasileiro.

Com livros, cartazes, correspondências e artigos raros como alguns rabiscos do artista plástico argentino Carybé (1911-1997), a exposição vai resgatar a trajetória da Corrupio. A mostra reúne, ainda, fotos de três livros de Pierre Verger: Retratos da Bahia, Orixás e Fluxo e Refluxo. Além disso, durante a Flip, a Corrupio vai divulgar a reedição de obras já esgotadas no catálogo e outras inéditas, em parceria com a Editora Sesi.“Uma editora pequena não procura lucro. Claro que precisa do lucro, mas não é o principal. Por isso a gente apostou em um autor desconhecido para o Brasil e que se mostrou uma grandiosidade. Do fundo do meu coração: se a Corrupio fechasse amanhã, seria com a missão cumprida”, garante Rina, emocionada.Questão afro-brasileira A Flip, que este ano homenageia a escritora paulista Hilda Hilst (1930-2004), celebrou Lima Barreto (1881-1922) na última edição. Ambos foram escolhidos pela jornalista baiana Joselia Aguiar, curadora da Flip pelo segundo ano consecutivo. “Depois da Flip do ano passado, que homenageou um autor negro que colocou a questão racial em primeiro lugar, recebi o convite para ser novamente”, conta Joselia.

Quando recebeu o convite, a jornalista estava de férias em Salvador – onde sua família ainda vive – e o chamado aconteceu na mesma época em que reencontrou Arlete Soares e Rina Angulo. “Constatamos que elas eram editoras mulheres na Bahia que há 40 anos, num tempo em que era muito mais difícil editar e fazer esses livros circularem, tiveram um trabalho pioneiro de publicar títulos afro-brasileiros”, destaca Joselia.

Então, a curadora da Flip reforça a importância da editora baiana que surgiu com a obra “de um grande etnofotógrafo” que produziu no campo da historiografia, da botânica, das religiões afro-brasileiras e da fotografia. “Conheci o Pierre Verger na Bahia quando era repórter. Tive com ele algumas vezes, foi uma pessoa que me impressionou muito. Anos mais tarde fiz um mestrado sobre o livro Retratos da Bahia, tenho uma grande admiração pela obra dele”, completa Joselia.