Flow Fit: entenda nova prática esportiva que recupera movimentos ancestrais

Modalidade usa o peso do próprio corpo, tem conceitos da psicologia e é inspirada em ideias de retorno aos movimentos originais dos humanos

  • Foto do(a) author(a) Hilza Cordeiro
  • Hilza Cordeiro

Publicado em 18 de setembro de 2021 às 07:00

- Atualizado há 10 meses

. Crédito: Foto: Nara Gentil/CORREIO
MERGULHO por Foto: Nara Gentil/CORREIO

Agachar, saltar, arremessar, ficar de cócoras. Em tempos primitivos, estes eram alguns dos movimentos mais naturais do ser humano. Tudo isso era necessário para caçar e fugir para sobreviver. Enquanto a era moderna nos faz desaprender estas ações, a sabedoria dos originários povos indígenas tem pregado que “o futuro é ancestral”. Inspirada em ideias de retorno, uma prática esportiva chamada Flow Fit vem estimulando a retomada dos movimentos originais dos humanos.

Usando apenas o peso corporal, o Flow combina referências de yoga, pilates e toques da capoeira. A palavra vem do inglês e significa “fluxo”. A técnica tem entre seus elementos principais o agachamento e prancha, com exercícios que, em geral, iniciam com momento especial para observação da respiração. Ainda rara em Salvador, a prática é aplicada pelo instrutor Marcelo Cristal, 47, profissional de Educação Física e mestre de capoeira. Ele explica que o Flow Fit primeiro isola, e depois integra, os movimentos originais para que as pessoas entendam como fazê-los da melhor forma possível, considerando estabilidade, mobilidade e força própria. 

Praticante de capoeira desde a adolescência, Marcelo conta que foi essa arte que o levou a estudar Educação Física e, nestes processos, ele sempre esteve próximo de uma ideia de movimento mais livre, sem aquela coisa tão “engessada” dos aparelhos de musculação das academias.

“Tive ânsia de buscar mais sobre o corpo e, em 2017, conheci o Flow Fit. É algo recente também para mim, mas já são quatro anos. Até hoje ele é um tanto desconhecido, principalmente aqui no Nordeste. Sempre estive na busca sobre movimentação humana porque minhas experiências em academias eu realmente achava um saco”, conta.

Teoria Flow

A ideologia por trás desta modalidade esportiva nasceu dentro da psicologia, a partir dos trabalhos do húngaro Mihaly Csikszentmihalyi, psicólogo autor da Teoria Flow, e hoje ex-professor da Universidade de Chicago, nos EUA. Csikszentmihalyi é um pesquisador da felicidade e aponta que o “estado de flow” são aqueles momentos em que estamos tão focados em uma atividade desafiadora que o tempo parece parar.

A vivência do Flow propõe desafios motores a fim de estimular corpo e mente, trabalhando a concentração tanto na execução quanto no processo de tomada consciente de decisões para a realização dos movimentos. Para entrar em estado de Flow, não se pode estar com a mente em outras coisas, senão não entrará.

[[galeria]]

"Somos água"

Nestas reflexões sobre fluxo, Marcelo Cristal costuma fazer um paralelo com a essência da água: para ser considerada boa, ela precisa fluir. Mais da metade do planeta e do corpo humano adulto são compostos por água e ele acredita que é preciso se dar conta dessa natureza.“Água estagnada não presta. Um corpo parado traz ansiedade, pensamentos ruins, problemas de saúde. O movimento é cura, a gente precisa fluir como água”, observa.O profissional se diz preocupado com movimentos humanos que acredita que caminham para um desaparecimento, como agachar e ficar de cócoras. Em sua rede social, gosta de brincar e estimular as pessoas com a pergunta: “Você já se agachou hoje?”. A ideia é que os interessados fluam, seja em atividades domésticas como pegar algo ou sendo capazes de saltar ou escalar numa trilha na Chapada Diamantina.

Por parecerem tão intrínsecos, os movimentos do Flow Fit soam fáceis, mas ele garante que não é bem assim. Todos os músculos são acionados e é preciso estar envolvido de corpo inteiro nas tarefas. É difícil notar o quanto você pode ter desaprendido e não é tão simples voltar a fazer estas ações com qualidade. 

Mas tentar descrever por meio de passo a passo o modo de executar os movimentos naturais não faz muito sentido. Isso seria como torná-los mecânicos, quando a ideia é ser espontâneo e intuitivo, mas cada vez melhor. 

Numa proposta chamada fluxo, não cabe muito explicar num estilo faça assim ou assado, só que “é preciso uma intimidade com o chão e um entendimento de estar presente. Não é algo rápido de atingir, de ser recuperado. Esse processo é como uma roda gigante. Você está na base e então experimenta um pouco mais. Lá em cima, é essa experimentação. É preciso experimentar, improvisar e praticar. É um negócio que tem início, mas não tem fim”, diz.

Ambientes pobres de estímulos

Com tantas facilidades e apetrechos para facilitar a vida apressada destes tempos, temos cedido aos confortos e estamos vivendo em ambientes pobres de estímulos, alerta o instrutor.

Nossos pés, tão cheios de sensores, estão ficando apertados em sapatos e saltos durante mais de 8h por dia, perdendo sensações e mobilidades. “O pé fica rígido. É preciso recuperar essa consciência para que possamos resgatar esses movimentos”, completa.

Certificado em Flow Fit por uma escola fundada originalmente nos EUA, Marcelo Cristal diz que começou a incorporar traços da capoeira nas aulas para conferir mais identidade ao trabalho. “Sempre quis que as pessoas tivessem acesso a movimentos mais ágeis, aptas à vida cotidiana. O Flow é um otimizador humano”, diz ele, que tem alunos em outros países.  Posição do Mergulho (Foto: Nara Gentil/CORREIO) Relatos de experiência

Aluna dele, Patrícia Estrela, 48, brasileira que vive na Alemanha, conta que conheceu esta prática há dois anos, numa aula do Mestre Cristal numa academia de capoeira na Europa. Ela descreve que, de fato, o Flow Fit tem movimentos que você reconhece ser de outros lugares, mas o modo de execução tem mais profundidade, não é limitado à superfície muscular. 

“A gente se movimenta com consciência, ganhando força e mobilidade. Flow é diferente de outras práticas porque a gente vai percebendo o que consegue ou não fazer, nossos pontos fracos. No meu caso, era o pé. Tem movimentos que se não trabalhar a musculatura do pé, você não consegue fazer nada. Sou apaixonada. Às vezes, é uma sensação de dança, de meditação, só que exige força. Quanto mais a gente faz, mais dá vontade de extrair algo novo”, conta.  

Instrutora de capoeira, Carla Locatelli, 38, conhecida como Mandingueira, mora em Utah, nos EUA, e começou a fazer aulas virtuais na pandemia. O Flow a ajudou a complementar seu jogo de capoeira depois de descobrir limitações na mobilidade dos ombros e quadril. Ela não sabia que precisava do Flow, mas já comemora os progressos em fazer movimentos que antes pareciam impossíveis. 

O instrutor Marcelo Cristal diz que suas turmas online são mais como um grupo de estudos e experimentações, no qual ele é mero facilitador: “Cada um busca suas respostas no próprio corpo”.  (Foto: Nara Gentil/CORREIO) Movimente-se: aula aberta

Para quem ficou curioso sobre a prática, o instrutor dará um aulão presencial de Flow Fit no dia 2 de outubro, um sábado, das 7h30 às 11h. O encontro acontecerá no belo Parque das Dunas, na Praia do Flamengo, e é necessário se inscrever, já que as vagas são limitadas para respeitar as restrições relativas aos cuidados contra a covid-19. O uso da máscara é obrigatório.

AULÃO PRESENCIAL DE FLOW FITInstrutor: Marcelo Cristal, educador físico e mestre de capoeira Inscrições: Clique aqui 2 de outubro, sábado Parque das Dunas, Praia do Flamengo, Salvador Rua José Augusto Tourinho Dantas, 1001 Das 7h30 às 11h Valor: R$ 170 30 vagas