Grupo que acusa PM de balear aluno fecha a Bonocô: 'ronda não tem, mas tiro sobra'

Estudante levou três tiros durante aula de capoeira; SSP nega envolvimento de PMs

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  • Tailane Muniz

Publicado em 12 de setembro de 2018 às 20:21

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Tailane Muniz/CORREIO

Pelo menos 50 pessoas participaram de um protesto, na noite desta quarta-feira (12), em frente ao Colégio Estadual e Municipal João Pedro dos Santos, na Avenida Bonocô - foi numa quadra esportiva que é compartilhada pelos alunos das instituições que um estudante de 12 anos levou dois tiros na noite anterior.

Os manifestantes chegaram a fechar a via, uma das mais movimentadas de Salvador, por cerca de 20 minutos, mas, após intervenção da Polícia Militar, passaram a ocupar apenas duas das cinco faixas.

Segundo familiares, amigos e pais de alunos, a criança foi baleada durante uma ação da Polícia Militar na área próxima à escola. "Na minha época, existia a ronda escolar. Hoje não tem mais, mas tiro sobra", comentou a dona de casa Girlene Queiroz, 24 anos, mãe de dois adolescentes que estudam na mesma escola.

O menino foi atingido enquanto participava de uma aula de capoeira e, segundo familiares e colegas, os próprios PMs envolvidos na ação socorreram a vítima e chegaram a ameaçá-la, caso não informasse que os tiros partiram de membros de uma facção criminosa. A vítima segue internada no Hospital Geral do Estado (HGE) em situação estável.

Na noite desta quarta, uma tia da vítima disse que o sobrinho está em estado de choque."Eles [policiais] chegaram a ameaçar ele, porque eles que deram socorro. No hospital, quando ele viu a prima, chorou muito e contou que não sabe por que foi baleado", disse ela ao CORREIO.Ainda segundo ela, o sobrinho estuda na Escola Municipal João Pedro dos Santos desde pequeno. Criado por ela a e outras três tias, o adolescente perdeu os pais há alguns anos e mora com a família em Cosme de Farias.

"Nós só queremos justiça para que esse caso não ficar impune. Meu sobrinho é uma criança, não é bandido, foi baleado dentro da escola. É absurdo e estamos cobrando respostas", disse, indignada.

A tia da vítima afirmou ainda que a família vai procurar a Corregedoria da Polícia Militar para registrar o caso. "Se é um direito nosso, vamos correr atrás disso", comentou.

Frequente A dona de casa Girlene Queiroz afirmou que a situação tem se tornado cada vez mais comum. "Nós estamos aqui porque é algo frequente, eles chegam, atiram e matam. Foi Deus", afirmou ela, que já foi estudante tanto da escola municipal quando do colégio estadual - que funcionam de maneira parcialmente integrada.

Girlene, que conhece o garoto baleado, disse que o jovem é tranquilo e respeitador. "Se fosse um menino baderneiro... Mas não, não era", garantiu.

Durante o movimento, estudantes alternavam entre gritos "polícia é pra ladrão, pra estudante, não" e "queremos justiça".

'Me joguei no chão' Uma estudante do colégio estadual, que preferiu não se identificar, contou que estava em prova na hora do ocorrido.

"Eu só lembro de ouvir muitos, muitos tiros. A reação que tive foi me jogar no chão. Os professores ficaram apavorados e liberaram todo mundo das provas", lembrou.

A estudante Nilma Fernandes, 25, também relatou desespero. "Não tinha como ter havido troca de tiros. Da sala, olhamos pela janela e não tinha ninguém na quadra para trocar tiros com a polícia. Só tinha o menino baleado e ele caiu lá porque, coitado, correu na tentativa de pular o muro", relatou a jovem.

Segundo ela, os militares não costumam fazer rondas na escola e, no momento, estavam em três. "Eu vi bem que eram três e eles estavam fortemente armados, com as armas apontadas. Ficamos apavorados", mencionou a estudante.

Outros alunos relataram ao CORREIO que tanto a iluminação da escola estadual, quanto da municipal, é "precária". Outro estudante, que optou por não se identificar, afirmou que não houve troca de tiros. "[Os policiais] já mataram gente aqui dentro. Não temos seguranças patrimoniais, apenas porteiros", concluiu.

Outro lado Procurada para falar sobre as acusações contra a PM, a Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) reiterou, mais cedo, a versão de que o ato teria sido realizado por traficantes do local - versão esta relatada por policiais militares que levaram o jovem ao HGE e fizeram o registro da ação no Posto da Polícia Civil que fica na unidade médica. A SSP afirmou ainda que a ação será investigada pela 6ª Delegacia (Brotas).