Homem que matou mulher em Nova Brasília de Itapuã é preso e deve responder por feminicídio

O pescador Antônio Marcos Rocha, 47, estava com prisão preventiva decretada pela justiça pela morte da ex-namorada Cássia Cristina Conceição

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  • Hilza Cordeiro

Publicado em 17 de julho de 2017 às 19:05

- Atualizado há um ano

O homem suspeito de matar a facadas a ex-namorada Cássia Cristina Conceição da Silva, 47, em Nova Brasília de Itapuã no dia 27 de março deste ano se apresentou no Fórum Ruy Barbosa nesta segunda-feira (17). O pescador Antônio Marcos Rocha, 47, estava com prisão preventiva decretada pela justiça. De acordo com a delegada Rosimar Malafaia, amanhã ele seguirá para o Complexo Penitenciário da Mata Escura e deverá responder pelo crime de feminicídio.Mulher foi morta na casa em que morava há três meses (Foto: Tailane Muniz/CORREIO)Ainda de acordo com a delegada, ele confessou o crime, mas alegou que foi a ex-namorada quem partiu para cima dele com uma faca, versão que a delegada não acredita. Cássia Cristina foi morta com 13 facadas, a maioria nas costas. “No momento do ocorrido, ela estava no celular mandando uma mensagem para uma amiga. Certamente ela foi surpreendida porque boa parte das facadas foram nas costas”, explica. O suspeito usou uma faca de cozinha para matar a namorada. A delegada disse que Marcos foi indiciado por homicídio qualificado – motivo torpe e feminicídio – por ter matado a ex-namorada. “Ele não aceitava o fim do relacionamento. Toda vem em que é o namorado, noivo ou marido que comete esses crimes chamados passionais têm agora esse agravante”, justifica.

Marcos seria encaminhado para o Centro de Observação Penal da Mata Escura já nesta segunda, mas o depoimento na delegacia terminou após as 17h, horário limite de entrada no presídio.

Em matéria publicada anteriormente pelo CORREIO, divulgamos que a Secretaria de Segurança Pública (SSP) não havia registrado nenhum caso de feminicídio em Salvador entre janeiro e maio deste ano. Até então, a pasta desconsiderava o caso de Cássia.

Na publicação, o diretor do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa da Polícia Civil (DHPP), José Bezerra, deu sua leitura sobre a Lei de Feminicídio, criada há dois anos para, basicamente, punir casos em que uma mulher é morta por ser mulher. De acordo com ele, se uma mulher é morta porque o ex-companheiro não aceitou o fim do relacionamento, o caso não pode ser considerado feminicídio porque o crime não terá acontecido no âmbito doméstico. “Vejo como no sentido em que se deu um desequilíbrio por parte do companheiro em não saber lidar com o sentimento de perda, isso não quer dizer que ele odeie mulher”, argumentou.

A ausência de dados foi questionada pela promotora de Justiça Márcia Teixeira. Segundo a promotora, para a Justiça, todos os casos nos quais a mulher é morta pelo companheiro ou namorado, dentro do ambiente doméstico, são considerados feminicídioO crimeO assassinato da cuidadora de idosos Cássia Cristina Conceição, 47, aconteceu no número 358 da Travessa Beira Rio, na casa da própria vítima, em Nova Brasília de Itapuã, durante a madrugada do dia 27 de março. A agressão foi alertada pela vizinhança, que acionou policiais militares. Cássia já tinha percebido a presença do ex-namorado e contou à uma vizinha, proprietária do imóvel em que a cuidadora morava.

A dona de casa Matildes de Jesus, 58 anos, disse que não consegue esquecer os pedidos de socorro de sua inquilina. "Ela gritava 'dona Nena, dona Nena, chama ajuda'", contou na época. "Eu pedi - na verdade, implorei - para que ela não deixasse ele entrar na casa. Ela já tinha pedido a mim para trocar todas as fechaduras. Eu pedi para que ela escondesse as facas. Quando foi por volta de 1h30, mais ou menos, eu ouvi um barulho forte e, em seguida, os gritos de socorro dela", lembra.

A cuidadora e o suspeito mantiveram um relacionamento de 10 meses e não tinham filhos. Ela passava a semana no apartamento dos patrões, na Barra, e voltava para casa apenas aos finais de semana. "Quando vi ele aqui ontem, cheguei a mandar ela ir para o trabalho ou, então, que dormisse comigo aqui em casa. Mas ela, coitada, falava 'que nada, dona Nena, ele não vai fazer nada comigo, ele não é louco", afirmou a proprietária, que mora no térreo do imóvel em que ocorreu o crime - a vítima morava no 1º andar.

Matildes relatou ao CORREIO que, apesar de morar sozinha, ao ouvir os gritos, não teve medo de sair para socorrer Cássia. "Eu sou mulher. Naquela hora, eu era uma mulher com a missão de ajudar outra mulher. Mas não deu. Quando saí, ela já estava caída na escada, e aquele rio de sangue escorrendo para todos os lados. Nunca vou esquecer essa noite de horror", salientou. "Ele chegou a gritar: 'É mentira, dona Nena, é mentira'. Quando saí, ele já estava caminhando tranquilamente na rua, segurando algo, acredito que tenha sido a faca", completou.