Kannário para os erês: cantor atrai público infantil em show na Liberdade

Com estimativa de 10 mil pessoas, show no bairro não teve ocorrências de tumulto

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  • Alexandro Mota

Publicado em 27 de fevereiro de 2017 às 00:58

- Atualizado há um ano

“Um beijo para os meus erês! Um beijo pros erês!”. A saudação do pagodeiro Igor Kannário não foi para poucos: a criançada da Liberdade e região foi a presença de peso que se destacou entre o público que acompanhou o show do cantor no palco montado em frente ao Plano Inclinado do bairro. A apresentação aconteceu na noite deste domingo (26). O próprio Kannário parecia criança. Visivelmente emocionado ele falou mais de uma vez do sonho que realizou ao cantar para o bairro onde nasceu. “Eu nunca quis ter dinheiro, ter um monte de mulher, eu só queria ser o Kannário e hoje eu sou o Kannário”, bradou o cantor.

A emoção se refletia no público de crianças. “Ele é o príncipe do gueto”, apontou o pequeno Denison Rocha, 7 anos, acompanhado do pai.  Erica Santos, 9, sabia todas as músicas. “Ele é muito simples por isso a gente gosta dele”, explicou. No ano passado, a presença do artista foi cancelada em um bloco infantil após recomendação do Ministério Público.

Esse era o clima do show: Kannário, gente como a gente. A namorada do artista recém-empossado vereador de Salvador conversou com o CORREIO sobre a impossibilidade dele dar entrevista. “Ele está tão emocionado quanto lá na Barra, ele foi nascido e criado aqui na Liberdade, por isso não consegue falar direito”, justificou Maria Quitéria. 

Favela: respeite o povo que vem delaAs crianças deram o tom familiar da festa, que contou com um público diversificado em idades - não somente os jovens que lotaram a circuito Dodô. O primeiro e único tumulto do show foi com quase 50 minutos da apresentação de pouco mais de uma hora. Foi uma ocorrência sem gravidade e rapidamente controlada pela Polícia Militar e repreendida pelo cantor. "Eu pedi para eles (comandantes da Polícia Militar) que me desse a oportunidade de mostrar que vocês têm educação.  Que a gente na verdade é tratado tão mal e por isso que a gente já vive com a base montada", afirmou o cantor que pediu aplausos para os policiais. 

“O cantor fez uma reunião com o comando de operações de polícia militar e cumpriu a promessa que teve um papel nessa tranquilidade. Além da postura do cantor Igor Kannário no palco, houve uma preparação da polícia. A Liberdade tem dessas coisas, você tinha um grande público de crianças e gente pulando na frente do palco e ao lado um playground com pula-pula e outros brinquedos”, afirmou o major Edimilton Reis, comandante da 37ª CIPM (Liberdade).

A estimativa da polícia foi de 10 mil pessoas e houve 28 equipes de polícias, entre eles agentes do Batalhão de Choque da PM. O policiamento foi reforçado por conta da morte de três pessoas e oito feridos na madrugada que antecedeu o show.

Barril dobradoKannário puxou a oração do Pai Nosso, mas não saiu devendo o pagodão que arrasta multidões. Tocou os seus sucessos e falou da humildade em cantar hits de outros pagodeiros, como músicas da banda La Fúria e as estouradas Santinha e Maravilhosa é Ela, de Léo Santana.

A pipoca do Kannário se mostra fiel. Grande parte do público esteve também na apresentação do músico na Barra e pretende aceitar os inúmeros convites feitos pelo músico ao longo do show de comparecer a pipoca no circuito Osmar (Campo Grande), às 16h30. "Eu não perco um dia de Carnaval na avenida. Nunca me liguei nos shows aqui na Liberdade, mas com Kannário não tive escolha, fiquei para ver porque ele broca, não tem outro", afirmou a balconista Cleize Pereira, 24 anos.  "Ontem fui na Barra e a gente dá Lapinha desceu para ver o cara hoje, tem isso de briga, de confusão não a galera que tem preconceito", afirmou o operador de telemarketing Celso Souza, 27 anos.