Leno Sacramento debate filme sobre operário negro morto por engano

Ator baiano foi baleado por policiais, em junho, ao ser confundido com assaltante na Avenida Sete

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  • Da Redação

Publicado em 10 de julho de 2018 às 15:00

- Atualizado há um ano

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Baleado durante uma ação policial no Centro de Salvador, em junho, após ser confundido com um assaltante, o ator baiano Leno Sacramento participa nesta quarta-feira (11) de um bate-papo sobre o recém-lançado documentário 'O Caso do Homem Errado'.

O evento gratuito chamado de 'Dois Retratos da Política de Genocídio da População Negra no Brasil' acontece às 18h30, na Sala Walter da Silveira, com exibição do filme que foi premiado em Punta del Este e que conta a história do operário negro Júlio César de Melo Pinto, morto por uma ação policial por também ter sido confundido com um assaltante, em 1987, no Rio Grande do Sul.

A diretora gaúcha Camila de Moraes, que é radicada em Salvador, participa do bate-papo que também conta com o advogado do ator, Cleifson Dias. No final do evento, será lido um documento com a proposta de Representação a ser encaminhada à Procuradora Geral de Justiça do Estado da Bahia. Além disso, será proposta a formação de uma Comissão para possíveis ajustes no texto.

Para a diretora, o cidadão negro nunca é "confundido". "A bala que atingiu o ator Leno Sacramento, atingiu todos nós, enquanto sociedade brasileira que luta por justiça. Essa dor em nós é profunda e não nos calaremos", afirma Camila.

"Essa é mais uma atividade para mostrar que não irão nos matar, pois no Brasil não existe bala perdida, não existe ser confundido. Afinal, as estatísticas estão aí para mostrar quem são os corpos negros que são alvejados diariamente. Por acreditar na campanha ‘Vidas Negras Importam’, estamos aqui cada vez mais unidos para enfrentar as barreiras deste racismo institucional que tenta nos matar todos os dias”, completa. Para o evento, o cartaz do filme ganhou uma versão com a foto da peça En(cruz)ilhada, de Leno Sacramento, que discute o racismo e as mortes simbólicas Caso do Homem Errado O documentário conta a história do jovem operário negro Júlio César de Melo Pinto, que foi executado pela Brigada Militar, nos anos 1980, em Porto Alegre. O crime ganhou notoriedade após a imprensa divulgar fotos de Júlio sendo colocado com vida na viatura e chegar, 37 minutos depois, morto a tiros no hospital.

O filme traz o depoimento de Ronaldo Bernardi, o fotógrafo que fez as imagens que tornaram o caso conhecido, da viúva do operário, Juçara Pinto, e de nomes respeitados da luta pelos direitos humanos e do movimento negro no Brasil. Além do caso que dá título ao filme, a produção discute ainda as mortes de pessoas negras provocadas pela polícia.

O Caso Leno Sacramento Itegrante do grupo Bando Teatro Olodum, o ator Leno Sacramento foi baleado na perna por policiais após ser confundido com um assaltante, no Centro de Salvador, no dia 13 de junho. Segundo a assessoria da Polícia Civil, uma equipe de policiais foi acionada por populares por causa de dois homens que estariam cometendo assaltos a bordo de bicicletas, na região do Campo Grande.

Quando foram atender a ocorrência, os agentes avistaram Leno Sacramento e um amigo, o cenógrafo Garlei Souza, andando de bicicleta. ‘Estou ferido, mas a dor é outra’, disse Leno na ocasião. 'A bala não foi de raspão, e quando pediram para parar, paramos', reforçou o ator. No teatro, Leno encena há um ano o espetáculo En(cruz)ilhada, monólogo de sua autoria que discute o racismo e as várias mortes simbólicas que envolvem o negro na sociedade.

Serviço O Quê: evento “Dois Retratos da Política de Genocídio da População Negra no Brasil”, com exibição do documentário “O Caso do Homem Errado” e bate-papo com a diretora Camila de Moraes, o ator Leno Sacramento e o advogado Cleifson Dias Quando: Quarta-feira (11/7), às 18h30 Onde: Sala Walter da Silveira (Barris)