Livro conta história do álbum O Canto da Cidade e da explosão da axé nos anos 1990

E-book assinado pelo jornalista Luciano Matos integra a coleção Discos da Música Brasileira, das Edições Sesc

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  • Vinicius Nascimento

Publicado em 7 de dezembro de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/divulgação

Em junho de 1992, Daniela Mercury fez o show no vão do Masp, em São Paulo, que seria um marco em sua trajetória. Ainda pouco conhecida do grande público, ela parou a Avenida Paulista em pleno meio-dia, mas sua apresentação foi interrompida, após 40 minutos, por conta da enorme concentração de pessoas e da forte vibração sonora que poderia abalar a estrutura do museu. 

O show foi escolhido pelo jornalista Luciano Matos como ponto de partida do e-book O Canto da Cidade: Da Matriz Afro-baiana à Axé Music de Daniela Mercury, quarto da coleção Discos da Música Brasileira das Edições Sesc SP, que foca justamente o álbum de Daniela lançado três meses após a apresentação. 

No trabalho, Luciano entrevistou cantores, compositores e outros personagens da cena musical, – como o recém-falecido Letieres Leite, Carlinhos Brown, Margareth Menezes, Liminha, Vovô do Ilê , Márcia Castro e Márcia Short – para recontar a história e os bastidores do disco e do estilo que surgiu na Bahia e ganhou as ruas do Brasil.

“Eu já tinha um interesse no tema, mais especificamente num projeto pessoal, que é de escrever um livro sobre a Axé Music. Este convite veio a calhar porque tem tudo a ver com o que queria escrever e aí fui atrás, pesquisar, aproveitando a importância do disco para contextualizar a história da axé music, o seu antes e depois, desde quando nem era o axé music e aquele sucesso todo”, conta Luciano.

Na fonte

Como a história é sempre maior e mais abrangente do que as 12 faixas de um disco, o autor volta às origens do que seria absorvido por essa cena musical que surgia: os blocos afro. E reconta a trajetória de seus maiores representantes na capital baiana: o Ilê Aiyê, Olodum, Malê Debalê, Muzenza e Ara Ketu. Ele também  volta à origem da batida de Neguinho do Samba, Mestre Jackson e Ramiro Musotto - que somaram aos timbaus e repiques da levada do reggae uma poderosa batida grave de surdos, dando vez ao samba-reggae.

De acordo com Luciano, o resultado desse encontro da cantora com os blocos e com o samba-reggae aparece já no primeiro disco, Swing da Cor, em 1991, cuja música de trabalho foi descoberta em um festival do bloco Muzenza e gravada com a percussão do Olodum comandada por Neguinho do Samba. 

“A gente estava descendo a ladeira de São Bento [no trio], quando Marcionílio perguntou se eu já tinha ouvido a música nova do Olodum. Eu não conhecia ainda. Então ele cantou um trecho de Faraó e o povo respondeu. Aquilo foi incrível. Fiquei enlouquecida. Era um samba novo, uma síntese nova. Uma estrutura louca, uma música longa e interessante. Era muito diferente”, contou Daniela em entrevista ao autor.  

Embranquecimento  

Além de enveredar pelos meandros da axé music, Luciano aborda o embranquecimento promovido pela indústria cultural e seu modus operandi. O jornalista avalia que ele contribuiu para se construir uma imagem da axé que é diferente de sua origem popular, ligada aos blocos afro e compositores de bairro, por exemplo.

“Daniela não foi a primeira artista da axé music a fazer sucesso e é importante contextualizar isso. Falo de banda Mel, Reflexus, o próprio Olodum e a importância dos blocos afro naquele pré-anos 90 e que Daniela soube aproveitar muito bem”, afirma. 

Para Luciano, o pagode vive uma situação muito semelhante à vista com o axé nos anos 1990: “O Olodum era uma música vista com muito preconceito, chamada de música de empregada doméstica. O pagode também passou por isso, agora o mercado vem assimilando, vêm os grandes shows e ainda não é um movimento embranquecido. Você ainda vê que as pessoas à frente do pagode são artistas negros, apesar do problema de ter poucas mulheres”, compara Luciano, que também é produtor e curador do Festival Radioca. 

Os títulos das Edições Sesc São Paulo podem ser adquiridos em todas as unidades do Sesc São Paulo, nas principais livrarias, em aplicativos como Apple Store e Google Play e também pelo portal www.sescsp.org.br/livraria. O livro custa R$15. E-book já está disponível  (Foto: Divulgação)

O Canto da cidade: da matriz afro-baiana à axé music de Daniela Mercury Autor: Luciano Matos Edições Sesc-SPPreço: R$15