Luciana Novaes lança livro sobre arqueologia da religião e da diáspora no Brasil

Oferenda para Exu foi encontrada submersa onde hoje está a Feira de São Joaquim

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  • Carmen Vasconcelos

Publicado em 20 de agosto de 2018 às 12:13

- Atualizado há um ano

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Desde o século 17, a região onde hoje está a Feira de São Joaquim concentra um comércio forte. No local que no passado abrigou um manguezal, pesquisadores da Universidade Federal de Sergipe descobriram uma estrutura metálica a cinco metros de profundidade encravado na enseada de Água de Meninos. A pesquisadora Luciana Novaes percebeu se tratar de um assentamento para Exu, orixá responsável pela comunicação e protetor dos mercados. A descoberta inaugurou mudanças na perspectiva científica sobre sítios arqueológicos, antes ligada apenas às edificação e paisagens. Os achados desse estudo podem ser conhecidos no livro O Exu Submerso, de Luciana Novaes, que tem lançamento nesta segunda-feira (20). O evento acontece às 17h, no Auditório Milton Santos do Centro de Estudos Afro-Orientais (Largo Dois de Julho). O evento contará com uma palestra da autora, que é doutora em Arqueologia pela Universidade Federal de Sergipe; mestre em Arqueologia também pela mesma universidade; mestra em Estudos Étnicos e Africanos pela Ufba iaô no Terreiro Torrundê Ajagun e professora na UNEB. A palestra terá duração de uma hora e depois os presentes poderão participar de um debate. Luciana conta que, inicialmente, se pensou que o assentamento fosse refugo de uma cerimônia religiosa para os mortos, no entanto, a estrutura estava afixada no local para que ali permanecesse. “Nas inúmeras entrevistas que fizemos com os comerciantes locais, em sua maioria, filhos e netos de outros comerciantes, percebemos que os assentamentos para Exu no mar era algo comum porque o mar sempre foi o portal da feira para a chegada das mercadorias do Recôncavo e dos países africanos, desde o século 17”, conta a pesquisadora. 

Ela revela ainda que a estrutura foi colocada no local após a implantação do sistema Ferry Boat, depois de 1970. “A estrutura desapareceu, provavelmente dragada depois das modernizações naquela área”, completa.

 Luciana ressalta que as feiras em corpos aquáticos não é uma tradição baiana e que é muito comum encontrar esse tipo de comércio nos países africanos. “Por isso mesmo, não era raro encontrar a tradição de colocar objetos nas águas a título de oferenda para acalmar os ânimos, especialmente do patrono dos mercados”, finaliza a pesquisadora.