Mãe de Cazuza critica ministro por fala falsa atribuída ao cantor

Em carta aberta, ela pede retratação de Vélez Rodriguez

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  • Da Redação

Publicado em 5 de fevereiro de 2019 às 14:39

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Sociedade Viva Cazuza

A mãe de Cazuza, Lucinha Araújo, escreveu uma carta aberta em reação a uma entrevista do novo ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, que atribuiu uma frase ao cantor que, segundo ela, foi falsamente atribuída ao filho. Lucinha pede retratação do ministro, que falou de Cazuza na entrevista para a revista Veja.

O ministro disse que Cazuza "pregava que liberdade é passar a mão no guarda". Na carta, Lucinha nega que o filho seja autor da frase.

A revista Veja perguntou ao ministro se a liberdade de cátedra não "inclui ensinar marxismo, fascismo e liberalismo" aos estudantes. Na resposta, o ministro disse que no Brasil há uma "visão enviesada da liberdade" e cita Cazuza. "Liberdade não é fazer o que você deseja. Liberdade é agir, fazer escolhas dentro dos limites da lei e da moralidade. Fazer o que dá vontade não é ser livre. Isso é libertinagem. No Brasil, por força de ciclos autoritários, temos uma visão enviesada da liberdade. Liberdade não é o que pregava Cazuza, que dizia que liberdade é passar a mão no guarda. Não! Isso é desrespeito à autoridade, vai para o xilindró. Nossas crianças e adolescentes devem ser formados na educação para a cidadania, que ensina como agir de acordo com a lei e com a moral", afirmou.

Lucinha rebateu o ministro e o acusou de "faltar com a verdade". "Caro Sr. Ricardo Vélez Rodriguez, ministro da Educação, se meu filho estivesse vivo tenho a certeza de que pediria piedade, mas como não sou ele e minha idade suprimiu os panos quentes, considero inadmissível uma pessoa ocupando o cargo que ocupa não ter a preocupação de citar uma pessoa pública sem compromisso com a verdade", escreve ela.

"Não venho a público para discussão política, nesse momento, por mais que os discursos retrógrados, que agridem a liberdade individual dos cidadãos brasileiros em suas escolhas pessoais vão contra a todos os princípios pelos quais trabalho à frente da Viva Cazuza há 28 anos", continua. "Gostaria de lembrar que Cazuza foi a primeira pessoa pública no Brasil a assumir sua condição de HIV positivo, o que possibilitou a luta pelo acesso universal do tratamento, o que fez do Brasil um país reconhecido mundialmente pelo programa de Aids e posteriormente imitado por outros tantos."

O caso repercurtiu online. Ex-ministro da Educação e candidato derrotado do PT às eleições, FErnando Haddad comentou o assunto. "Ignorância: ministro da Educação de Bolsonaro atribui a Cazuza frase que ele nunca disse e Lucinha Araújo, mãe do compositor, pede respeito à sua memória.".

Veja a carta de Lucinha: 

Caro Sr. Ricardo Vélez Rodriguez, Ministro da Educação, se meu filho estivesse vivo tenho a certeza de que pediria piedade, mas como não sou ele e minha idade suprimiu os panos quentes, considero inadmissível uma pessoa ocupando o cargo que ocupa não ter a preocupação de citar uma pessoa pública sem compromisso com a verdade.

Não venho a público para discussão política, nesse momento, por mais que os discursos retrógrados, que agridem a liberdade individual dos cidadãos brasileiros em suas escolhas pessoais vão contra a todos os princípios pelos quais trabalho à frente da Viva Cazuza há 28 anos.  

Cazuza foi um artista que deixou um legado através de sua obra, e isso não é a mãe do artista quem está dizendo, mas sim pela importância de sua obra, do número de novos artistas que a regravam, do quanto é tocado nos rádios, do quanto é baixado nos streamings, mesmo depois de 28 anos longe de nós. Se achar que é pouco, gostaria de lembrar que Cazuza foi a primeira pessoa pública no Brasil a assumir sua condição de HIV positivo, o que possibilitou a luta pelo acesso universal do tratamento, o que fez do Brasil um país reconhecido mundialmente pelo programa de Aids e posteriormente imitado por outros tantos.

Posso vislumbrar que não seja prioridade do atual governo programas sociais que visem a igualdade de direitos, respeito as minorias, educação e saneamento básico como prioridades, mas respeito a democracia que elegeu o atual presidente e que lhe nomeou. Mas, não posso deixar que declarações levianas coloquem na boca de Cazuza o que ele nunca disse. Gostaria de deixar aberta a possibilidade de se retratar publicamente para que não seja necessário ter que tomar providencias jurídicas.

Atenciosamente, Lucinha Araújo"