Moradores de Fortaleza tem rotina alterada por série de ataques criminosos

Sem acesso a serviços ou temendo que a violência dos atentados respingue em si, cidadãos têm cotidiano afetado por ataques

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Publicado em 1 de agosto de 2018 às 07:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fábio Lima/O Povo

Mais uma vez a rotina dos moradores de Fortaleza, no Ceará, foi alterada por uma série de ataques orquestrada por facções criminosas. A terça-feira (31) foi o quinto dia consecutivo de atentados; ao todo, já são pelo menos 31. Os alvos têm sido prédios públicos (13) — em especial, aqueles ligados a órgãos de segurança pública (6) —, coletivos (16) e bancos (2). 

Os ônibus até voltaram a circular normalmente, mas relatos de demoras e mudanças de linha ainda deixam o passageiro ressabiado. Paradoxalmente, medo também é constante para quem mora próximo a equipamentos da segurança pública. Já foram quatro delegacias atacadas, as duas últimas nessa terça-feira, 31, no bairro Curió e em Maracanaú (Região Metropolitana de Fortaleza).

Morando ao lado ao 4º Distrito Policial (4º DP), no bairro São João do Tauape, Léo Melo, de 69 anos, ri de quem diz que a vizinhança faz de sua casa um lugar seguro. Basta citar o dia em que o telhado cedeu e um homem caiu em sua sala. Era, de acordo com Léo, uma das muitas fugas que ele presenciou nos já, entre idas e vindas, 41 anos que mora na vizinhança.

Temer, conta, temia mais quando a mãe ainda era viva e morava com ele na casa. Mas a falta de estrutura o deixa preocupado. Para Léo, a delegacia deveria funcionar 24 horas por dia. Já os carros apreendidos em investigações não deveriam ficar na rua, em frente à delegacia. "Um prato cheio para ataques".

Já no bairro Edson Queiroz, o cheiro de queimado ainda era forte na agência bancária do Itaú atacada no sábado, 28. O banco seguia com atendimentos paralisados, para decepção de uma professora, que pediu para não ser identificada. Ela precisava desbloquear o cartão, mas se deparou com cartaz orientando a busca por outras agências "por motivos de força maior". "O que me chama a atenção é que cada vez mais vai chegando no Centro. Antes era uma coisa que só se via na periferia. É um descaso com a segurança", reclama. 

Nenhuma paralisação atingiu mais a população do que a dos coletivos. No sábado, com ônibus recolhidos, muitos tiveram de se virar em carona ou aplicativos para voltar para casa. Uma corrida de mototáxi na avenida Carapinima para o município de Redenção, por exemplo, chegou a custar R$ 150. A serviço de uma empresa que faz pesquisas de satisfação de usuários de ônibus, Leandro Gomes percebeu nas entrevistas que a principal reclamação é a segurança. Mas isso não se restringe apenas às crises. Os assaltos são as principais queixas, diz. Com os ataques, afirma Leandro, os usuários dizem evitar pegar ônibus e dividem a conta em corridas por aplicativos. 

Mais cinco homens são presos. Outros 11 são investigados Cinco homens foram presos na última segunda-feira, 30, suspeitos de participação nos ataques contra ônibus e prédios públicos, informou ontem a Secretaria da Segurança e Defesa Social (SSPDS). Eles se somam a outros três detidos no fim de semana. Conforme o titular da pasta, André Costa, outras 11 pessoas estão sendo investigadas. "A gente continua na perseguição dos bandidos e ninguém ficará impune. Não tenho dúvida nenhuma que todos serão identificados e presos".Em Caucaia, foram detidos na segunda-feira Paulo Vitor Silveira Santos (22), Danísio Nascimento da Silva (20), Antônio Denilson Nascimento da Silva (19) e Rafael Martins da Silva (26). No bairro Tancredo Neves, em Fortaleza, foi preso Magno Araújo da Silva (29), portando galões de gasolina, munições e drogas. Ele teria assumido aos policiais do Comando Tático Motorizado (Cotam) que participou de ataques a ônibus na Capital.

Até a noite de ontem, 31 ataques tinham sido realizados em Fortaleza e Região Metropolitana desde sexta-feira, 27. Na madrugada de ontem, o 35º Distrito Policial, no Curió, foi alvo de pelo menos 40 disparos de pistolas .40 e 380. Também na madrugada, seis carros foram incendiados no pátio do 20º Distrito Policial, em Maracanaú.

Apesar da sequência de ações criminosas, André Costa declarou: "O Estado não está refém. Temos avançado contra o crime e os índices têm mostrado isso. A polícia tem agido com rigor e pode haver reação por parte dos criminosos".

O secretário da Segurança Pública explicou que as investigações ainda apuram se a ordem partiu de presídios. 

As informações são do Jornal O Povo