'Não foi só um roubo. Eles afrontaram os orixás', diz cantora Nara Couto

Artista é filha de santo da Casa do Mensageiro, terreiro invadido neste sábado

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  • Da Redação

Publicado em 13 de janeiro de 2019 às 11:15

- Atualizado há um ano

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“Estou horrorizada”, declarou a cantora e atriz Nara Couto, na manhã deste domingo (13). Em entrevista ao CORREIO, Nara, que é filha de santo do terreiro Ilê Axé Ojisé Olodumare, a Casa do Mensageiro, em Barra do Pojuca, na cidade de Camaçari, Região Metropolitana de Salvador, desabafou sobre o atentado sofrido pelo templo religioso na noite desse sábado (12). 

Seis homens armados invadiram o terreiro, durante um culto sagrado a Oxalá, o pai de todos os orixás. O babalorixá da casa e um fotógrafo foram agredidos com uma coronhada na cabeça, cada. Os bandidos ainda chegaram a tentar roubar celulares de pessoas que estavam incorporadas.

Nara, que estava trabalhando na noite de sábado, não estava na cerimônia religiosa. Ela soube das notícias neste domingo, logo cedo. Segundo ela, a festa era uma obrigação de três anos de um barco (como é chamado o grupo de pessoas que foi iniciado ao mesmo tempo). “A obrigação é uma festa pública, onde você paga contas. As pessoas são testemunhas. Tinha amigos, familiares, pessoas que se organizaram não só para a festa de Oxalá, mas para presenciar esse ciclo desse barco. Uma das irmãs (da obrigação) é do Rio de Janeiro, então tinham pessoas que se programaram para isso”, contou. Ela reforçou que a invasão aconteceu no momento em que os orixás estavam em terra, dançando. Os visitantes foram colocados no chão. “Os ladrões não tiveram nenhum respeito com os orixás. Eu fiquei tentando entender o porquê”.  Nara Couto é filha de santo do terreiro (Foto: Debora Monteiro/Divulgação) Boa parte dos filhos de santo estava incorporada, no momento dos ataques. Quando recuperaram a consciência, relataram a ela ter sentido uma ‘tristeza profunda’, antes mesmo de saber o que tinha havido.“Foi um total desrespeito. Não foi apenas um roubo, um furto. Eles também afrontaram os orixás, colocaram o dedo na cara do santo. Orixá não é violência. É realmente muito triste”. Nara reforçou que é uma questão de intolerância religiosa, além de um problema de segurança pública. Para a artista, o ataque pode ter sido planejado devido à localização do terreiro, que fica a cerca de 15 minutos de distância do centro de Barra do Pojuca. “Ali é uma casa que está muito em evidência”, explicou. 

Em seu perfil no Instagram, Nara publicou um texto sobre o ocorrido. "Hoje somos alvo da violência que assola toda a nossa sociedade, acrescida da violência religiosa. Apesar de todo ocorrido, estamos bem e continuaremos firmes em nossa fé conforme nossos antepassados nos ensinaram", escreveu.