'O nome dela é Jenifer' (e a fantasia dele é com a ex)

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Esqueça a "me chama de filhinho e bate na minha bunda", a "faz de conta que sou seu pônei", a "dança nua em cima da mesa" e até a "faz xixi em mim". Entre todas as fantasias sexuais, o homem padrãozinho brasileiro escolhe sempre a mesma. No caso, a clássica "minha ex quer voltar".

Eu não tinha escutado até hoje, mas foi ótimo o moço botar na caixa de som. Não grudou nem aprendi a cantar, felizmente. Mas, taí a novíssima música popular brasileira - de quinta - que não me deixa mentir. "O nome dela é Jenifer", mas a protagonista é a outra. A que "pega no pé", a que nunca o esqueceu, a que chama a atual de "perua" ou coisa pior. É para ela e por ela que os sinos dobram. Por essa personagem (na maioria das vezes imaginária) imprescindível à caótica construção da autoestima do homem heterossexual brasileiro.

Você pode dar graças a deus por ter se livrado do cabra, você pode nem lembrar mais direito da história, você pode ter ficado com ranço da criatura, você pode estar em outra e apaixonada, você pode estar sozinha e feliz, você pode até se envergonhar de um malfadado romance. Não importa, não se engane. Se você for a ex mais recente de um tipinho típico, haverá rumores de que se "arrependeu", de que "ainda gosta" e, principalmente, de que sente ciúmes da atual. 

(Em casos mais graves, a ex anterior também entra no saco. Em gravíssimos, ele jura que a namorada do Verão de 89 ainda se rasga de ciúmes, desejo e amor)

Entenda o percurso: raros são os que entendem o sentido da palavra "acabou". Quase sempre dita por nós porque homem óbvio ainda não aprendeu como se faz pra acabar uma relação.Tá ruim, mas ele permanece. Até arranja outra(s), mas morre dizendo que não. Daí, você rompe e ele estrebucha. Você sustenta o não, ele inverte a conversa e então foi ele que terminou. Por isso, você ainda quer, sacou? Repare. Tão óbvio quanto um Big Mac.

Aí, o momento seguinte. Ficou amiga? É porque ainda tem esperança. Bloqueou nas redes sociais? É porque ainda tá a fim. Passa na rua e nem fala? Puro tesão. Conheceu a atual e abraçou? Foi pra disfarçar. Não foi com a cara dela? Ciúmes. Engordou? De tristeza. Emagreceu? É saudade. Nem tente porque não tem como escapar. Qualquer ação sua está prevista no enredo, seja um abraço e um beijo ou o mais sonoro "vá tomar no cool". Tá tudo amarrado, em nome de coisinho com a concordância dos amiguinhos e, muitas vezes, o aval da atual.

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Eu queria acreditar que e só excesso de autoestima, daí seria apenas meio ridículo, mas daria pra calibrar. Mas é justo o oposto, obviamente, e aí temos a realidade dolorosa de que a maioria dos caras não garante a calça que veste. O tesão é no desejo da ex, claro. Aquele que, mesmo claramente inventado, pra certo tipo de homem, atesta masculinidade. 

O que eles querem dizer é "vejam, pessoas, essa mulher que esteve comigo me aprova, ainda que negue". De certa maneira, isso "aquece" a relação com certo padrão de mulher (fantasia do homem "disputado") e "valoriza o passe", nos papos com outros caras. Um artifício que entrega fragilidade coletiva e só funciona porque ainda há quem acredite numa ideia bem ultrapassada: aquela de que mulheres, não importa o quanto pareçam livres, sempre estão submissas a algum macho. 

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