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Paulista, Júlio Machado encara seu segundo papel na TV como Clemente em 'Velho Chico'

Ator já atuou na novela 'Império', onde interpretava Jairo, que teve um relacionamento amoroso com Cora, vivida por Drica Moares e Marjorie Estiano

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  • Monique Lobo

Publicado em 3 de abril de 2016 às 12:35

 - Atualizado há um ano

Sabe aquela cara de quem chupa limão azedo? A do jagunço Clemente da novela Velho Chico, personagem interpretado pelo ator paulista Júlio Machado, 36 anos, é pior. Não que ele seja feio, longe disso, mas o olhar macabro, daqueles que arrepia a espinha até do mais destemido, se tornou sua marca registrada.Talvez por isso, ele empreste o corpo para mais um vilão em seu segundo papel na TV. “Eu não acho que ele seja um vilão, eu o definiria como uma pessoa que está tentando sobreviver e lança mão dos mecanismos e das referências de mundo que ele tem”, defende em entrevista exclusiva para o CORREIO.  Desde o primeiro capítulo, o jagunço Clemente, que segue até o capítulo 24 da trama, destila amargura com olhar malvado (Foto: Caiua Franco/Divulgação)Tá bom, Júlio, vamos dizer que Clemente tem apenas atitudes questionáveis. Assim como Jairo, da novela Império (2014), seu primeiro trabalho na telinha, que de tão questionável foi se envolver com a vilã mor da trama, a maléfica Cora, vivida por Drica Moraes e Marjorie Estiano. “É que, a depender da perspectiva, do ponto de vista da família, Clemente pode até ser um herói. Porque ele poderia ser um Belmiro, um retirante lutando para sobreviver, mas ele se acomoda ali e encontra espaço para se encaixar naquele sistema que exige dele aquele comportamento”, insiste. Um comportamento que o levou a incendiar o galpão de algodão do Capitão Rosa (Rodrigo Lombardi) e ameaçar o retirante Belmiro (Chico Díaz). Tudo para agradar o patrãozinho, Afrânio (Rodrigo Santoro), que herdou do pai, Coronel Jacinto (Tarcísio Meira), a lealdade do jagunço. “Assisto o Tarcísio desde a infância, ele é um grande mito da TV, então foi um momento muito especial estar com ele em cena. Tem um valor afetivo muito grande. E o Rodrigo, poxa, foi muito legal, é uma pessoa imensa, cheia de entusiasmo. Ter a oportunidade de dialogar com esses seres humanos foi muito especial”, revela o ator. Surgido no teatro, Júlio pode experimentar um processo raro em produções televisivas e muito comum nos palcos: um encontro entre elenco e produção em um galpão para, juntos, criar os personagens da novela. A ideia, intitulada de TVlier, foi do diretor Luiz Fernando Carvalho. “O Luiz Fernando tem um processo de observação muito aguçado. Esse encontro foi fundamental. Trabalhamos no mesmo espaço da costureira, do cenógrafo e da produção, isso promove uma cumplicidade no trabalho e nas escolhas estéticas e de conceito”, explica.ComeçoPara ele, essa experiência aliviou o peso de estar em um terreno ainda estranho. “O fato de ser parecido com o trabalho no teatro ajudou a me sentir em casa, porque a maioria dos meus trabalhos foi no teatro”, avalia.  O primeiro trabalho de Júlio na TV foi como Jairo na novela Império(Foto: Ellen Soares/TV Globo)Natural de Jundiaí, a 57 km da capital paulista, Júlio iniciou sua história na arte dramática por acaso. Seu irmão do meio fazia curso de teatro e ele, o caçula que admirava muito os mais velhos, resolveu acompanhar e ao primeiro contato se apaixonou pelo ofício. Ofício não, que naquela época nem era assim que ele enxergava a atividade. “Eu tinha 12 anos e comecei a fazer pra me divertir e fiz assim até os 20 anos, sem a menor ideia de que aquilo seria o que eu escolheria para profissão. Fazia porque me preenchia”, diz.Aos 20, decidiu sair de Jundiaí rumo à capital e, nesse momento, o lazer virou ganha pão. “Consegui me profissionalizar no sindicato porque já tinha a carga horária exigida. Mas, sentia falta de uma formação consistente”, conta. Foi então que ele decidiu ingressar na Escola de Arte Dramática da USP. “Fui frequentando a escola e trabalhando profissionalmente, isso foi em 2000. E segui assim, fazendo teatro, conhecendo um set de cinema, depois fazendo pequenas participações no cinema”, completa. Assim, ele começou com uma participação no filme Antônia (2006), depois, dentro outros curtas, fez um morador de rua no premiado O Último Dia (2009), e sua última participação no cinema foi no longa Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (2014). Já nos palcos, engrossou o currículo com montagens como Ópera do Malandro (2005), Ligações Perigosas (2010), Oréstia, de Ésquilo (2012) e Incêndios (2013). Aos 32 anos, arrumou as malas de novo e partiu para o Rio de Janeiro a convite da produção de uma peça. “Transferi minha vida para o Rio e não consegui voltar. Já se passaram quatro anos e eu ainda estou aqui”, admite. Ainda bem, pois foi graças a sua nova morada que ele ingressou na TV. “O Rio está sendo muito bom, fiz trabalhos interessantes, fiz uma ópera, minha primeira novela, a segunda agora e alguns filmes”, pondera. Mas como rato de coxia não consegue ficar longe por muito tempo, a vontade de voltar aos palcos já está falando mais alto. “Esse segundo encontro com a televisão está sendo maravilhoso, estou desenvolvendo esse gosto pela coisa. Mas, ano passado emendei Império com dois filmes e depois entrei logo em Velho Chico. Isso se resume a um ano e meio sem fazer teatro, nunca tinha acontecido isso desde que comecei. Tá uma espécie de abstinência (risos)”, fala. Júlio rasga elogios para Rodrigo Santoro: 'Ele é absolutamente generoso, não joga sozinho'(Foto: Caiua Franco/TV Globo)NordesteEnquanto as plateias de teatro sentem a sua ausência, os telespectadores estão se deleitando com as suas vilanias, quer dizer, com as suas posturas controversas: “Me deixou muito honrado receber o convite para fazer o Clemente. Poder gravar no Nordeste onde fomos muito bem recebidos e muito estimulados a fazer aquilo com garra, porque eles estariam representados ali. Isso foi mágico”. Uma pena é que, até então, a história de Clemente se encerra com essa última fase da novela. Na próxima passagem de tempo, o capanga não vai mais estar presente.  “Ele vai até o capítulo 24, que é quando existe um grande salto temporal. Ele acompanha o crescimento dessas crianças e depois desaparece da trama e não sabemos muito bem o destino dele. Talvez se explique lá na frente, afinal novela é uma obra aberta. Mas a função principal dele é levar o bastão da mão de Jacinto para a mão de Afrânio e estimular o ritmo de passagem do anti-herói”, esclarece.Além disso, Clemente também é responsável, junto com a esposa Doninha (Bárbara Reis), pela existência de Cícero (Pablo Morais), filho do casal. “Cícero, que depois da passagem de tempo vai ser interpretado pelo Marcos Palmeira, é um dos pilares desse romance proibido e muito perigoso que é o ponto central da novela”, adianta Júlio.