Polícia apura se equipamento em lancha provocou incêndio em estaleiro

Fogo atingiu ao menos 30 embarcações na Marina do Bonfim; casa foi interditada

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  • Bruno Wendel

Publicado em 23 de março de 2018 às 17:40

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/CORREIO

Lanchas, botes e motos aquáticas ficaram destruídos (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) A polícia técnica apura se o incêndio na Marina do Bonfim, na Cidade Baixa, ocorrido na tarde desta quinta-feira (22), foi provocado por um equipamento ligado ao lado de uma das embarcações destruídas pelas chamas. Pelo menos 30 lanchas foram consumidas pelo fogo. “Conversei com um dos funcionários. Ele disse que na hora um equipamento estava ligado, mas não soube dizer que equipamento era este e qual serviço era feito na hora”, declarou o perito criminal Marcos Almeida, do Departamento de Polícia Técnica (DPT), na manhã desta sexta (23), após análise no estaleiro.

“Cada coluna tem um ponto de energia, onde se costumava carregar algumas baterias das embarcações. Mas tudo isso será esclarecido com o laudo pericial”, complementou Almeida, sem dar mais detalhes do caso, enquanto entrava às pressas na viatura do DPT.

Uma proprietária de uma escuna reforça a hipótese investigada pela perícia do DPT. A administradora Carla Silva, 40, estava na Marina, enquanto a escuna dela era consertada no mar. “Foi uma surpresa tudo o que aconteceu. Estava lá dentro, quando senti um cheiro forte de queimado, como se fosse um fio. Imediatamente todo mundo correu para ver o que era e o fogo já havia tomado uma embarcação”, contou Carla.“Os funcionários usaram extintores, mas eram fibra, combustível, estofados, tudo inflamável e não teve jeito. O fogo tomou tudo”, continuou ela, que, pela manhã, foi prestar solidariedade às pessoas que tiveram prejuízo.O CORREIO esteve pela manhã na 3ª Delegacia (Dendezeiros), onde o caso é apurado. No entanto, segundo um agente, o delegado titular da unidade, Victor Spínola Bastos, estava numa reunião do Departamento de Polícia Metropolitana (Depom). Ainda de acordo com o policial, não havia outro delegado na unidade que pudesse dar informações sobre a investigação do incêndio. À tarde, foi informado na delegacia que as testemunhas do caso continuam a ser ouvidas.

Rescaldo O incêndio na Marina do Bonfim, na Rua Arthur Matos, foi controlado à noite pelo Corpo de Bombeiros, que contou com a ajuda de moradores e pescadores. Veja fotos.

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Na manhã desta sexta-feira, bombeiros voltaram ao local do incêndio. “O trabalho aqui é de rescaldo. Ainda há resto de material inflamável, como querosene, fibra, madeira, que pode fazer com as que chamas voltem”, disse o tenente Santos Araújo, do 1º Grupamento de Bombeiros Militar (Barroquinha).

Questionado sobre a quantidade de embarcações atingidas pelo fogo, o tenente disse que não tem como precisar. “Trabalhamos na estimativa de pelo menos 30 embarcações. Isso porque estavam todas uma próxima à outra, umas maiores, outras menores, e, a olho nu, não dá para ter certeza. Só a perícia para dizer. Sabemos que 20 embarcações foram resgatadas”, declarou.

Proprietária  A dona da Marina do Bonfim, Flora Franco, estava no galpão acompanhando o trabalho de rescaldo do Corpo de Bombeiros, mas não quis conversa com a imprensa.“Não, não quero falar”, comentou a proprietária, após pergunta do CORREIO.Apesar de não querer dar entrevista, Flora estava sentada na companhia de uma outra mulher e observava cada passo dos bombeiros. Vez sentada, ora em pé, andando de um lado para outro, mas em todos os momentos estava com o olhar desolador, fixo ao local da destruição.

“Flora está abalada com a situação, mas está empenhada em resolver a situação, está bastante solícita. Ela nos disse que a marina tem seguro”, disse Priscila Ribeiro, 43, cirurgiã-dentista, na porta do galpão. A lancha dela foi uma das embarcações que foram destruídas pelas chamas.“É difícil de acreditar. Aqui era um lugar de fonte de alegria que a gente buscava no mar, em nossa baía. Vindo aqui hoje, é como assistir um velório. Não tenho o que dizer. Estou em estado de choque. O lado bom de tudo isso é que não houve vítimas, é o mais importante”, disse ela, com voz e mãos trêmulas, ainda em estado de choque.Dia seguinte A cama inclinada era o que lembrava o quarto do filho do soldador Edson Ramos Bispos, 51. O local está no terceiro andar de uma casa que divide o muro como a marina. As labaredas invadiram o pavimento ainda faltava reboco. “Construí todo com muito suor, trabalho árduo, dia a dia, e agora meu filho não pode dormir lá. A parede estava balançando, pode cair a qualquer momento. E tenho receio que o restante da casa esteja comprometido”, disse ele, após sinalizar com uma das mãos que as paredes ainda estavam quentes da ação das chamas.

Edson foi um dos moradores que ajudaram no combate ao incêndio. “Usamos balde com água, mangueiras, pegamos água do mar, ajudei na retira de algumas lanchas, fizemos de tudo”, disse ele. 

Quando as chamas foram controladas, à noite, ele foi ao terceiro andar da casa. Foi quando teve a noção do prejuízo do pavimento e teve uma discussão com um dos bombeiros. O quatro do filho fica na mesma direção onde estava um depósito de matérias inflamáveis do galpão, como querosene e fibras. “Daqui de cima apontava para os bombeiros, que estavam lá embaixo, para o depósito, que ainda havia fogo, mas eles não queriam ir. Cheguei a brigar com um deles, que resolveu ir até o local e apagou o fogo. Se deixasse, corria o risco de um novo incêndio”, contou Edson.Interdição Ainda de acordo com Edson, o fogo causou infiltrações. “Com a chuva que caiu hoje, entrou água pelas paredes da casa e da minha oficina que fica na parte da frente da casa. Não temos condições de ficar aqui”, declarou o soldador. 

Por conta dos danos na casa, Edson, passou a noite na casa da mãe, que mora em um imóvel ao lado, junto com o filho Adson, 21. “Mas não conseguimos pregar o olho. A fumaça não deixou. É fibra de carbono e combustíveis queimados”, disse.

Na tarde desta sexta, a Defesa Civil do Salvador (Codesal) confirmou que a casa onde o soldador, a esposa e o filho moram será a única a ser interditada. O motivo é o fato de a estrutura do imóvel estar comprometida – um muro chegou a cair. Sobre a marina, também conforme a Codesal, ela terá de ser reconstruída.

O irmão de Edson, o aposentado Jorge Ubiraci Bispo, 51, disse que também não dormiu. “Nem colocando três ventiladores no quarto consegui pregar o olho. Além disso, ficamos apreensivos, com medo de que tudo começasse de novo”, disse ele, que mora próximo ao galpão.

Formatura A comerciante Maria José Carvalho, 46, estava frustrada. O fundo da casa dela dá para o galpão e as labaredas quebraram os vidros de uma janela e provocaram rachaduras nas paredes. Mas a frustração não vem daí. “Meu cunhado é engenheiro e já está analisando tudo para a gente consertar o que for necessário. O meu problema maior agora é que amanhã (sábado) é formatura de minha sobrinha e a festa seria aqui, no salão de minha casa, que por conta do que aconteceu, não poderá ser mais aqui”, comentou.“Estamos correndo para providenciar outro lugar para a festa de formatura. Ela já chegou aqui aos prantos, mas infelizmente não podemos consertar em tempo hábil para a festa”, lamentou Maria José.Pela manhã, a comerciante retirava todos os objetos e equipamentos do salão de festas. “O local está impróprio para ficar por muito tempo. Meus filhos têm problema de laringite e não estão aqui. Mais cedo, minha cunhada, que sofre do mesmo problema, passou mal e foi para emergência. Tudo indica que passaremos um período na casa de minha outra cunhada que mora no Garcia”, disse.

A advogada Liliane Rosas, 38, também moradora da região, não deixou a filha pequena dormir em casa. “Botei ele para dormir na casa de uma amiga. Os quartos que são forrados de gesso a fumaça não entrou, mas o quatro dele é no andar de cima e o telhado ficou preto de tanta fuligem”, citou.

A agente domiciliar e presidente da Associação de Moradores do Jardim Belvedere, Marinalva Guimarães, 45, contou que também teve problemas durante a noite. "As chamas acabaram, mas ainda há muita fumaça. Tivemos dificuldade para dormir. Eu e meus dois filhos, um de 8 e outro de 4 anos, tivemos dor de cabeça por causa do cheiro forte (fumaça). Minha vizinha teve que tirar de casa o pai dela, um idoso, que passa muito mal", declarou.