Foi durante a pandemia, em 2020, que a administradora soteropolitana, Tainah Carvalho, de 35 anos, decidiu procurar uma clínica de reprodução assistida em busca de alternativas para uma gravidez tardia. A necessidade do isolamento foi o que a motivou. “Eu estava solteira, não tinha previsão de quando iria engravidar e fui fazer exames para saber se estava tudo bem, porque a possibilidade de eu conhecer alguém na quarentena era muito mais difícil”, lembra.
As mudanças na sociedade e no mercado de trabalho, são fatores que levam muitas mulheres a adiar o sonho da maternidade. Hoje, a pandemia também está sendo responsável por esse comportamento. Para aquelas que desejam esperar um cenário menos incerto para engravidar, o congelamento de óvulos tem aparecido como a principal alternativa.
Tainah Carvalho congelou os óvulos na pandemia
De acordo com dados da clínica IVI Salvador, a procura pelo procedimento aumentou 30% na comparação entre 2020 e 2021, durante a pandemia. Já a clínica Cenafert, em Ondina, registrou um aumento de 50% entre 2019 e 2021. A Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), aponta que o congelamento de óvulos é algo que está em fase de crescimento na Bahia ou no Brasil.
A ginecologista Genevieve Coelho, diretora médica da clínica IVI Salvador, explica que o congelamento de óvulos é uma alternativa interessante para garantir as taxas de sucesso de uma gravidez tardia. Isto porque, a mulher já nasce com a quantidade definida de óvulos que terá na vida. A partir da primeira menstruação, os óvulos começam a ser usados e se esgotam na menopausa. “Mesmo que a mulher use alguma terapia hormonal para não menstruar, não significa que os óvulos estão sendo poupados. Mentalmente eles continuam sendo utilizados e ocorre uma espécie de liberação”, explica.
Idade recomendada
Por a taxa de envelhecimento dos óvulos acompanhar a do resto do organismo da mulher, a idade ideal para buscar o procedimento é até os 35 anos. Neste estágio, eles já alcançaram metade da vida útil. “Assim como o corpo e a pele, o óvulo também envelhece, mas de uma forma mais drástica. Esse anos podem se traduzir em má formação e abortos”, explica Genevieve Coelho
O congelamento é uma forma de proteger os óvulos das ações do envelhecimento, mas também de outros processos que a mulher pode enfrentar ao longo da vida. O procedimento é recomendado para pacientes oncológicas que seguirão para quimioterapia e para aquelas que passarão pelo processo de retirada do ovário, por alguma patologia ginecológica.
Para os casais homoafetivos, que desejam a maternidade consanguínea, essa também é uma alternativa. A coleta garante a preservação do material genético para a fertilização in vitro.
Procedimento não tem cobertura
A Secretaria da Saúde do Estado (Sesab), informa que na Bahia não existe de forma gratuita o serviço de congelamento de óvulos. O atendimento no estado é realizado em clínicas particulares. Tanto na rede pública de saúde quanto na privada, o custo do serviço chega a R$ 25 mil, que pode ser dividido no cartão de crédito.
De acordo com a Associação Baiana De Ginecologia e Obstetrícia, os planos de saúde também não realizam a cobertura do método no estado. No Brasil, o único local que realiza o procedimento de graça é o Hospital Pérola Byington, de São Paulo, mas somente para pacientes oncológicas.
Como funciona
A ginecologista Sofia Andrade, especialista em reprodução humana, explica que o tratamento dura em torno de 12 dias. Primeiro a paciente faz uso de injeções diárias de hormônio para promover o crescimento dos folículos.
Na segunda fase, ela recebe outra injeção para acabar de amadurecer o material que abriga os óvulos, até 36 horas depois do término das primeiras aplicações, e por último ocorre a aspiração dos folículos para coletar os óvulos, em ambiente cirúrgico, com sedação.
“Esse é um procedimento simples, considerado de baixa complexidade e com inúmeros benéficios”, destaca Sofia. Após a coleta, os óvulos são armazenados em nitrogênio líquido, pelo processo de vitrificação. A mulher pode congelar quantos materiais desejar e por tempo indeterminado.
*Com supervisão da subeditora de reportagem Fernanda Varela