Promessa baiana do boxe olímpico quer migrar para o profissional

Júnior Demolidor tem mais de 40 títulos no boxe olímpico

  • Foto do(a) author(a) Vinicius Nascimento
  • Vinicius Nascimento

Publicado em 25 de dezembro de 2019 às 14:38

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arquivo Pessoal

Você já ouviu falar em Júnior Demolidor? Não? Mas deveria. Cria do Barbalho, em Salvador, o pugilista de 22 anos tem mais de 40 conquistas entre medalhas e cinturões. O cartel de Demolidor tem 150 lutas e 135 vitórias no boxe olímpico, modalidade em que ele compete desde os 11 anos. Após sete títulos baianos, dois nacionais e convocações para a seleção brasileira, o baiano entende que bateu no teto e agora quer buscar novos horizontes: em 2020 ele pretende fazer sua estreia no boxe profissional.

Apesar de ser tudo boxe, há muita diferença entre a modalidade olímpica e a profissional. A começar pelo número de rounds. Na versão que tem seu auge a cada quatro anos nos Jogos Olímpicos, são no máximo quatro rounds de três minutos, enquanto no outro uma disputa de título pode levar até 12 rounds. 

Os equipamentos são diferentes, com introdução de capacete e camiseta na versão olímpica, vestuário que é dispensado no profissional. Além disso, a avaliação dos juízes utiliza parâmetros diferentes: no olímpico, cada golpe encaixado vale ponto; no profissional, pesa a contundência dos socos.

Criado em um ambiente que respira o boxe 24 horas por dia, Demolidor precisou deixar a rotina de treinamentos mais intensa e diz que a resistência é sua maior dificuldade hoje. Acostumado com períodos curtos, ele se sentia à vontade para buscar mais “trocação” e provocar os adversários no ringue.“São 11 anos de carreira e (a mudança ocorre) não só por já ter conquistado um tanto de coisa. É que acho que pra mim é necessário passar de fase e o boxe profissional é uma válvula para eu continuar com objetivos, buscando novos sonhos”, conta Júnior Demolidor.O pugilista tem uma grande inspiração e não esconde de ninguém. O nome Hamilton Cerqueira não é a única coisa que ele herdou do pai, que também é seu treinador. Conhecido como Miltinho, o pai-amigo-treinador-conselheiro é a referência dele no esporte. Miltinho chegou a integrar a seleção baiana de boxe na década de 1990 e fez parte de uma equipe que teve nomes como o tetracampeão mundial Popó e Kelson Pinto, que disputou a Olimpíada de Sydney-2000 e foi prata no Pan de Winnipeg-1999.

“Eu sempre acompanhei meu pai nos treinamentos, desde pequeno. Acompanhava ele e via os colegas, fui a lutas dele, apesar de ter poucas lembranças. Quando fiz 5 anos já entendia um pouco mais e aos 11 anos fiz minha primeira luta, em dezembro de 2008”, narra Júnior.

Além do atleta Nascido e criado na mesma rua, Júnior é uma celebridade no Barbalho. Ele sai de casa às 6h para correr e fazer uma etapa do treino físico. A corrida vai até o Santo Antônio Além do Carmo, bairro adjacente. O pugilista conta aos risos que às vezes leva mais tempo cumprimentando as pessoas na rua do que correndo e confessa que gosta de receber essa atenção dos vizinhos.

Fã de pagode e se intitulando um filho legítimo do samba, ele gosta de levar o gosto musical para cima do ringue. Provoca os adversários, baixa a guarda e explora os contra-ataques aproveitando sempre que enfrenta um rival mais esquentado. “Tem que ter essa quebradeira, né? Mas, falando sério, eu tenho esse estilo um pouco mais provocador, aproveito que tenho velocidade e tento desestabilizar os adversários baixando guarda, chamando pra cima. Faz parte do jogo”. Atleta é fã de samba e pagode. Ele aprendeu a tocar cavaquinho para ter um passatempo em suas viagens para competir (Foto: Arquivo pessoal/Reprodução) A rotina de Júnior Demolidor é corrida, não só literalmente. Além de atleta, ele é estudante de educação física e mantém um projeto social junto ao pai e à madrasta, a assistente social Adriana Cerqueira. Juntos, eles dão aulas de boxe para 150 pessoas no Forte do Barbalho.

“Antes a gente dava aula na Vila Flora, aqui no Barbalho. Chamava boxe de rua porque a gente treinava no meio da rua. Este ano a gente conseguiu o espaço físico. O projeto já tem 15 anos, desde que ele era pequenininho. Serve para inspirar as pessoas, conseguimos ajudar que gente de toda idade se emancipe. Mesmo que não se torne atleta, a gente entende que essas iniciativas são importantes para o nosso entorno”, conta Adriana. 

Apesar de ser uma casa de torcedores do Bahia, é nítido que a família respira boxe. Por todo canto há uma referência, seja foto ou símbolo com ligação direta ao pugilismo. O mais novo contagiado é o caçula, Guilherme, de 7 anos. O irmão é a única coisa a que o garotinho é mais apegado do que o videogame - que precisou deixar no mudo enquanto a família recebia o CORREIO. De olho em Júnior, Guilherme dá as primeiras esquivas.

O pugilista ainda não sabe quando vai estrear no boxe profissional. Limita-se a dizer que sabe que um dia irá. O grande obstáculo, por enquanto, é encontrar um empresário que facilite a chegada no novo ambiente. De esquiva em esquiva, quebradeira em quebradeira, Júnior Demolidor continua a sua caminhada.

*Com supervisão do editor Herbem Gramacho