Qual será o futuro do Carnaval de Salvador? Artistas e personalidades opinam

Alterações constantes no Carnaval de Salvador suscitam a pergunta: como será o Carnaval de Salvador daqui para frente?

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  • Da Redação

Publicado em 14 de fevereiro de 2018 às 01:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/ CORREIO

Todo fim gera um novo começo e com o Carnaval não é diferente: além de marcar o fim da folia, a Quarta-feira de Cinzas também é a data em que se inicia o planejamento da festa do ano seguinte. Exemplo disso é o prefeito ACM Neto convidar a cantora Ivete Sangalo para desfilar na pipoca no Circuito Campo Grande no Carnaval de 2019 antes mesmo do fim do de 2018.  

E neste ano, a pergunta que fica é: qual será o futuro do Carnaval de Salvador? Mais corda? Mais pipoca? Parece que já há uma resposta. O consenso entre artistas, foliões e governantes é de que a festa vive em transformação, mas tem que ser democrática. Para o doutor em Cultura Contemporânea (Ufba) Paulo Miguez, especialista na folia momesca, o futuro do Carnaval de Salvador, “sem dúvidas é continuar sendo a grande festa da cidade”. “O Carnaval, assim como o povo dessa cidade sempre está alegre, disposto a novidades e capaz de produzir transformações interessantes como essas, que vem marcando a folia ao longo dos anos”. 

“Os próximos carnavais serão especialmente melhores do que os últimos justamente pela capacidade da festa de se reinventar”, disse. Sobre a possível extinção dos blocos com cordas, o especialista diz que a tendência é de que a corda perca importância como elemento chave do Carnaval. “Está passando a ser o camarote. Isso provavelmente vai fazer com que o número de blocos que eram também empresas venha a diminuir. Isso pode ser positivo, no sentido de que atrações que não utilizam cordas podem voltar a ter um espaço importante no Carnaval”, afirmou.

Para o prefeito ACM Neto, os blocos são fundamentais, mas cabe ao folião escolher onde quer brincar. “A prefeitura tem uma responsabilidade que é garantir conteúdo, ter o artista desfilando na rua, porque isso é a essência do Carnaval. Não quer dizer que eu defenda o fim dos blocos”.

O governador Rui Costa (PT) diz que há espaço para tudo: “Mas eu acredito que, para ressuscitar o Carnaval da Bahia, há a necessidade de investimento em trios sem corda”. Saulo, um dos ‘reis’ da pipoca, defende o povo na rua: “O futuro do Carnaval é as pessoas na rua. Ocupação. Sobretudo as pessoas da Bahia, de Salvador. O Carnaval da Bahia era muito feito para turistas, mas acho que a galera da Bahia precisa ocupar essas ruas. Acho que é isso que está acontecendo. Mais do que pipoca, do que outra coisa, a ocupação de rua, a galera vem para a rua. Com BaianaSystem, com a gente, com Psirico, com Leo Santana, com todo mundo”.

Veja o que outros artistas falam sobre o futuro do Carnaval:

Luiz Caldas (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) “Ao meu ver, o futuro do Carnaval de Salvador é a mudança constante. Alguns modelos duram muito, outros duram menos, mas a transformação sempre acontece. Até pelo próprio envelhecimento dos artistas e surgimentos de novos. Tudo isso é uma eterna mudança, faz parte da brincadeira. Em Salvador, tudo é Carnaval e é maravilhoso por isso”, disse o cantor.Claudia Leitte (Foto: Tiago Caldas/Ag. Haack) “A maior festa de rua voltou-se à tradição! O mais importante, o coração do nosso Carnaval é o povo, a música e nossas raízes. Democratização e organização não passam de palavras quando essas não são as prioridades da maior e melhor festa do planeta! Parabéns, Salvador! Que orgulho!”, disse a cantora.Márcio Victor (foto: Evandro Veiga/CORREIO) "O Carnaval de Salvador é democrático e 2018 está exalando isso ainda mais. Eu também puxo bloco, mas tocar para folião pipoca tem um sabor especial e todos os artistas precisam ter ao menos um dia assim", disse o artista após arrastar a pipoca até o fim. O vocalista do Psi ainda disse que considera 2018 o início de uma nova era: "Este ano foi especial porque o povo curtiu com grandes atrações e retribuiu indo para as ruas e curtindo na paz cada passagem dos artistas. Vi muito respeito e todas as idades unidas. Foi lindo e vai ficar para sempre na memória. É o início de algo maior e mais belo", afirmou.ÀttøøxxÁ“A pipoca é um movimento que não tem volta.  Todos os artistas estão entendendo esta mudança. A rua, a pipoca está cada vez mais forte”, Rafa Dias, DJ e produtor musical do ÀTTOOXÁ.  (foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) "A galera está sabendo respeitar mais os espaços, tornando o Carnaval mais democrático”, Raoni Knalha, um dos vocalistas do ÀttøøxxÁ.

“O Carnaval é som, é música, dança e por isso o Carnaval também se inova junto”,  Wallace Chibata, guitarrista do ÀttøøxxÁ.

Bell Marques (Foto: Betto Jr/CORREIO) "O futuro do Carnaval está nas mãos do povo, como sempre esteve. Nunca existiram regras e, naturalmente, a festa foi se moldando e ganhando os contornos que tem hoje. O futuro do Carnaval não é fácil de definir, mas ele existe e sempre terá a cara que o folião quiser", apostou o cantor.Rafa e Pipo Marques (foto: Elias Dantas/Ag. Haack) "O Carnaval já passou por milhões de fases. Crescemos em cima dos trios elétricos e acompanhamos diversas mudanças, todas surgidas naturalmente, numa demanda que vem das ruas, do folião. O futuro do Carnaval, a gente acredita, está no equilíbrio entre blocos e atrações sem corda, ambas necessárias para a existência da festa, que é feita de baianos e turistas, com formas diferentes de viver a festa", disseram os filhos de Bell. Larissa Luz (Foto: Joilson César/Ag. Haack) “Carnaval é sem corda, sempre achei. Eu já fiz bloco com corda e sempre me incomodou de alguma forma. A corda é uma divisória física que divide socialmente mesmo as pessoas, não faz sentido. A rua é aberta, é pública, é nossa. A gente precisa ter liberdade de transitar e viver esse festival, ter acesso à cultura de forma gratuita, de forma democrática. O Carnaval é lindo, é um grande festival artístico, tem gente de tudo quanto é lugar. É uma vitrine. Então, a gente precisa ter isso acessível, ter isso livre. Não dá pra ter uma corda dividindo classes, dividindo as pessoas. A gente precisa se misturar. Vai ser muito mais feliz quando não existir mais corda nenhuma”, opinou a cantora.Karina Buhr (Foto: Divulgação) “Sem dúvidas as cordas atrapalham. Na verdade, para mim não faz sentido com cordas. Eu acho que todo mundo pode contribuir, participar, se divertir, é sem comparação”, afirmou a cantora. Ricardo Chaves (foto: Márcio Reis/Ag. Haack) “O Carnaval é genuinamente popular. Durante um tempinho a festa se desvirtuou, mas o real da folia é isso que estamos fazendo aqui: a pipoca mandando na avenida, os artistas se identificando e se encontrando novamente com a raiz”, disse.

José Augusto Vasconcelos (Foto: Divulgação) "Dizem que o Carnaval é do povo e o povo tem, a cada ano, mais liberdade para ser o que é. Ficamos muito felizes com o sucesso do Grupo San Sebastian nesse Carnaval, com blocos e festas esgotados e com público cada vez maior, principalmente porque isso é reflexo de uma mudança social muito importante, que, sem dúvida, imperará nos próximos carnavais", afirmou o empresário, sócio do grupo San Sebastian.