Roupa é apenas roupa: rosa também é cor de homem

Para questionar o discurso que liga vestuário a gênero, três homens héteros defendem o uso da cor 

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  • Da Redação

Publicado em 15 de novembro de 2020 às 16:00

- Atualizado há um ano

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Ao longo da história o vestir deixou de ser um ato de mera proteção ao corpo, se transformando em um elaborado jogo de símbolos, significados e representações ideológicas. Gênero, status social, poder político, identidade cultural , expressão artística e identitária tudo isso pode ser comunicado através da roupa. De todas essas representações do vestuário ocidental, a divisão binária dos gêneros (e é apoiada pelo machismo) é a mais desafiadora de ser modificada de uma forma mais ampla. Esse é o grande movimento revolucionário da moda do século XXI, impulsionado pelas novas gerações superconectadas às redes sociais que já abraçam a fluidez e a liberdade do vestir. Eles gritam - Roupa é apenas roupa! Porém, enquanto o velho pensamento ainda reina, “meninos vestem azul e meninas rosa ”, manifestações contra esse discurso preconceituoso são bem vindas.  Por isso, convidamos três jovens fotógrafos baianos, todos héteros, que se sentem livres para usar as cores que  gostam e não sentem suas sexualidades questionadas por isso.  João Regis, 24 anos Muitos homens não se representam e apenas seguem um padrão e também não se veem representados. Acho o rosa mais uma cor, bela e ideal  para você se expressar, mostrar seus sentimentos e a sensibilidade que acredito que todo homem tem dentro de si.  Renato Santana, 38 anos, A masculinidade tóxica é algo que a gente aprende de berço e é reforçado dentro do nosso âmbito social, na escola, na rua, e nos grupos sociais e acaba se tornando tão normal que se o homem hetero não tiver disposto a se desconstruir nesse sentido, ele vai caminhar assim até a velhice sem participar dessa mudança necessária que o mundo exige.  Renan Benedito, 23 anos Cada um veste o que quer. Cores trazem sentimentos e o rosa para mim representa sonhos. Quando vejo essa cor consigo relacionar com o azul e lembro de nuvens, o que me leva a sonhar e acreditar. O rosa sempre foi presente na minha casa, meu irmão sempre gostou do tom - e a partir disso -  meu olhar foi atraído a conhecer a cor de rosa. 

Como rosa se tornou cor de menina? Segundo o livro Use a Moda a seu Favor (2019), escrito pela influenciadora feminista Carla Lemos, primeiramente o rosa foi adotado pelos meninos. O uso de cor sempre foi símbolo de status e poder e já teve um tempo que o vermelho era usado apenas pela nobreza e membros da igreja. Assim, homem adultos ricos usavam  o vermelho e as crianças do sexo masculino o rosa, um vermelho mais claro. Assim, durante séculos meninas usavam a azul (uma cor associada a tranquilidade, delicadeza e humildade) e meninos rosa. Somente nos anos de 1930 meninos começaram a vestir azul, como uma extensão das roupas de marinheiros, estereótipo infantil clássico e o rosa, considerado um tom infantil, passou a ser associada às meninas. Depois da segunda guerra mundial, para estimular um novo consumo, a indústria reforçou mesmo essa ideia do rosa para as mulheres, como símbolo de feminilidade, de ideal de mulher, que depois de um tempo nebuloso, agora volta ao lar para exercer o seu papel de dona de casa, esposa amorosa e mãe cuidadosa. 

FICHA TÉCNICA:Fotos: Renato Santana: (@renatosantanasantos)Arte e tratamento de imagem: Igor Aquino (@astronautade.marmore)