Saiba como ganhar R$ 40 mil por ano levando turistas para locais que você curte

Salvador tem apenas três anfitriões cadastrados em site; veja como se tornar um

Sabe aquele lugarzinho em Salvador que você considera sensacional, vive por lá, mas tem certeza que nenhum turista conhece? E aquele programa imperdível na cidade que você adora fazer e acha que todo visitante deveria ter contato? Pois fique ligado que esses recantos e encantos soteropolitanos podem se transformar numa renda extra anual de até R$ 40 mil (cerca de R$ 3,3 mil por mês), cumprindo a simples missão de “guiar pessoas nas atividades que você ama”.

Esse é o lema da modalidade Experiências, do site Airbnb, especializado em aluguel de acomodações. Disponível na Bahia desde junho, o serviço de 'guia informal', que até essa quinta-feira (20) contava com apenas três anfitriões na capital baiana, virou um excelente negócio para milhares de pessoas em mais de 800 cidades do mundo, e já rende pequenas fortunas no Rio de Janeiro.

Entre as experiências disponíveis por lá, onde existem mais de 180 anfitriões, têm passeio numa picape conversível 4x4 por um parque florestal (R$ 390), rolezinho de barco pela Baía de Guanabara (R$ 180) e até voos de parapente (R$ 500) ou helicóptero (R$ 550). Mas não precisa ter nenhum desses aparatos técnicos caríssimos em terra, mar e ar para faturar com o negócio. A grana extra pode vir com criatividade e algum senso de oportunidade.

A fotógrafa carioca Tatá Barreto, 40 anos, teve uma dessas grandes sacadas em setembro do ano passado e, desde então, fatura um extra com a experiência “Noite Queer no Rio”, na qual leva visitantes para um tour por festas alternativas LGBT. “O circuito que eu frequento é o que só quem conhece as festas, os locais, sabe. Eu já ia para a noite mesmo, agora tenho a oportunidade de apresentar aos meus hóspedes, e contextualizo toda a questão de como é ser LGBT no Rio, que não é só de diversão, mas é uma noite empoderada, política”, explica Tatá. A fotógrafa Tatá Barreto oferece ensaio fotográfico em pontos turísticos e noitada alternativa LGBT (Foto: Gustavo Wittich/Airbnb/Divulgação)  Além de abrir a agenda na sexta ou sábado, com a noitada guiada custando R$ 259 (incluindo o transporte de ida e o ingresso da festa), ela também oferece outro serviço que tem mais a ver com sua profissão. A experiência “Sessão de fotos Copacabana & Ipanema” consiste num tour fotográfico pelos dois bairros, durante o dia. São duas horas de passeio com cliques e, no final das contas, 25 fotos profissionais editadas por R$ 269 – ah, e ainda tem uma água de coco no final da paletada.

Salvador Uma das três primeiras experiências disponíveis em Salvador, inclusive, é algo semelhante: “Sessão Fotográfica na Barra”, guiada e registrada pelas fotógrafas e sócias Daniela Silva, 25, e Beatriz Bitencourt, 20, que ainda não receberam nenhum hóspede, mas esperam ser as pioneiras da coisa por aqui.“Tem menos de uma semana que anunciei no Airbnb. Mas tenho uma expectativa grande a respeito, pois em outras cidades é muito comum existir esses tipos de experiências, ainda mais em cidades que possuem um turismo forte”, comenta Daniela, que diz ter se inspirado em fotógrafos brasileiros que usam a plataforma para faturar em locais como Paris e Disney.O passeio também inclui visitas ao Mercado Modelo, Elevador Lacerda e Pelourinho. “O diferencial que queremos levar, além da segurança e conhecimento de locais alternativos, é a sensação dos turistas não terem que se preocupar com registrar e, sim, em vivenciar o momento e local”, justifica Daniela. O passeio de 4h30 custa R$ 250 e dá direito a uma água de coco na Barra, no final da jornada, logo após a sessão fotográfica no cair da tarde. SUP ao pôr do sol e ensaio fotográfico na Barra estão entre as poucas opções em Salvador (Foto: Reprodução/Airbnb) O cenário é o mesmo da única experiência com avaliações na cidade, até aqui. Por apenas R$ 60, o turista pode ver a tarde acabar flutuando sobre a baía com o “SUP ao pôr-do-sol no Farol da Barra”, que também dá direito a fotos (não profissionais) da brincadeira, que dura cerca de 2h.

É o que garante o instrutor de StandUp Paddle (SUP), Mario Bruno Rocha, 40, que já oferece passeios no mar da Barra há três anos, e agora abriu sua atividade para o projeto do Airbnb. “O diferencial é que o instrutor fica sempre ao lado da pessoa. Iniciamos o passeio na praia do Porto da Barra, vamos remando até o Farol e voltamos para contemplar o pôr-do-sol e tirar fotos dos hóspedes. Eles adoram”, comenta Mario, que até a semana passada tinha recebido cinco hóspedes, todos estrangeiros.

Dois deles deram cinco estrelas e boas recomendações. “É um excelente instrutor”, disse um. “Foi uma ótima experiência, super paciente e prestativo mesmo para iniciantes”, elogiou outra.

Apesar do sucesso de crítica, o público, por enquanto, é pequeno. “Ainda não há muita procura, pois agora que foram disponibilizadas as experiências para Salvador”, cita Mario. Mas, e a barreira linguística? “A experiência está ajudando muito. Nós sabemos o básico do inglês. Com isso, conseguimos atender os hóspedes”, comenta ele.

Curadoria A terceira opção local não dispõe de nenhum aparato técnico. O anfitrião, que não foi localizado pela reportagem, oferece uma caminhada e treino ao ar livre pela Ribeira. Com ele, o turista poderá manter a boa forma durante a viagem e, de quebra, conhecer os encantos da Cidade Baixa desembolsando R$ 87.

No “workout tour”, a proposta é curtir a paisagem, dar uma corridinha, fazer barras e paralelas em equipamentos de ginástica na rua, subir a Colina Sagrada até a Igreja do Bonfim e, no fim, acalmar a alma com exercícios de yoga. Toda a miniodisseia, com aguinha de coco no fim, é com a tutoria de um nativo apaixonado pelo bairro.

Sim, além de conhecimento, paixão é importante para fazer a experiência vingar, afinal, a turma do Airbnb tem que aprovar a proposta.“O mais importante nas experiências é uma conexão autêntica. É sempre interessante que as pessoas tenham essa conexão, que os hóspedes e anfitriões se conheçam”, explica Marcia Motta, gerente de mercado na Airbnb.Ainda segundo ela, “em qualquer lugar você pode oferecer uma experiência”. No Rio, por exemplo, há visita guiada por um torcedor a jogos do Flamengo, no Maracanã (R$ 175); ou seja, nada impede qualquer torcedor mais assíduo do Bahia ou do Vitória de oferecer um rolê na Arena Fonte Nova ou no Barradão, num dia de jogo.

Mas, afinal, quem decide se a experiência é válida ou não? Segundo a assessoria do Airbnb, todas as sugestões enviadas para a plataforma são analisadas por um grupo, que faz a curadoria para se certificar de que o anfitrião tem as condições necessárias de assumir o compromisso.

No caso das fotógrafas baianas Daniela e Beatriz, o site demorou cinco dias para analisar e aprovar a proposta. "Eles analisam as fotos, o texto, o perfil", lembra Daniela Silva, que recebeu o aval na semana passada. 

Não há preço mínimo ou máximo para oferecer o serviço. O pagamento é feito através do próprio site, que fica com 20% do valor negociado. No papel de intermediária, a empresa também faz sugestões aos interessados em oferecer o serviço, para tornar o perfil mais atraente (abaixo, veja mais dicas de como criar uma boa proposta).

Destaques A convite do Airbnb, em comemoração ao primeiro aniversário do projeto Experiências no Brasil, a reportagem esteve no Rio de Janeiro, no final de agosto, para experimentar algumas das opções mais procuradas pelos visitantes.

Uma delas – que compõe o top 3 da preferência de usuários – é o “Segredos da Bossa Nova”, passeio guiado pelo guitarrista Cecelo, 58, que já tocou com alguns dos grandes nomes da MPB como Baby do Brasil, Erasmo Carlos e Fagner. Ao lado dele, o turista passa por pontos históricos da Bossa Nova, a exemplo do bar em que Tom Jobim e Vinícius de Moraes se juntaram para escrever Garota de Ipanema, e termina no estúdio do artista – uma casa onde Gal Costa morou por 10 anos –, para conferir uma aula sobre as origens do ritmo musical. Com direito a cafezinho e cerca de três horas de ensinamentos sobre a alma carioca e a gênese bossanovística, o passeio sai por módicos R$ 99. O guitarrista Cecelo leva para um passeio cultural em Ipanema e conta a história da Bossa Nova em seu estúdio (Foto: Gustavo Wittich/Airbnb/Divulgação) Outro rolê que, basicamente, rola na base do bom papo e das lições de brasilidade (ou, no caso, carioquice), é o “Sabores de botequim em Copacabana”, que leva o visitante a três bares tradicionais da Princesinha do Mar. Quem comanda a experiência é o jornalista Paulo Mussoi, que há 15 anos assina a coluna “Pé Sujo”, especializada em botequins, no Jornal O Globo. Segundo ele, a ideia é fazer o turista (mais de 95% são estrangeiros) experimentar a verdadeira comida de botequim do Rio e as cervejas e cachaças brasileiras, acompanhadas de tira-gostos típicos. O passeio, que passa por bares tradicionais como a Adega Pérola (com menu português) e o Pavão Azul, custa R$ 279, e inclui open bar de cerveja, degustação de três cachaças, uma bebida exótica e, pra quem não bebe, água ou refrigerante. Ao todo, são mais de dez petiscos indicados pelo anfitrião. O jornalista Paulo Mussoi oferece um tour por botequins tradicionais de Copacabana: comida e bebida free (Foto: Gustavo Wittich/Airbnb/Divulgação) Pra quem curte mais adrenalina, também não faltam opções. Pioneiros do voo de parapente no Brasil, esporte que praticam desde a década de 1980, os instrutores Tavinho e Augusto oferecem um passeio pela montanha seguido de sobrevoo por praias da cidade. “Nossa experiência é levar o hóspede a transcender, a viver uma coisa única nas montanhas do Rio. Levamos as pessoas para fazer a caminhada da Pedra Bonita, olhar a Pedra da Gávea, onde se vê o rosto de um gigante olhando para o céu, e depois fazemos o voo. Foi uma oportunidade de uma renda extra, e de formar amigos”, comentou Tavinho, que cobra R$ 500 pelo passeio, no qual estão inclusos também transporte, trilha guiada, 100 fotos e um vídeo feito durante a viagem sobre as praias.

“A gente conseguiu fazer na nossa área, no quintal de casa, no nosso santuário, trazer pessoas para experimentar esses momentos únicos”, destacou Tavinho. Augusto e Tavinho oferecem voos de parapente e registro em fotos e vídeo da experiência (Foto: Gustavo Wittich/Airbnb/Divulgação) O filho dele, o professor de educação física Bruno Menezes, 32, também oferece uma aventura pela natureza. É a experiência “Trilha Pedra da Gávea + Cachoeira”, que consiste numa expedição, com todos os equipamentos de segurança, pela Floresta da Tijuca. O passeio é uma aula de superação: desde o próprio guia, que é surdo (oralizado desde os 2 anos de idade), até as extenuantes 7h de percurso pelas montanhas cariocas.

Mas, calma: Bruno consegue se comunicar bem (inclusive em inglês e espanhol) e te leva para o eldorado no final do percurso: um refrescante banho de cachoeira. “No início, meu pai me perguntou se eu ia querer fazer (por conta da dificuldade de comunicação). Se eu ia conseguir me comunicar em inglês, e eu disse: ‘bora tentar’. Melhorou muito minha comunicação e fiz vários amigos”, afirma ele, que cobra R$ 160 pela aventura e lição de superação a 500 metros de altitude.  Bruno Menezes leva os visitantes para um passeio, com direito a rapel, pela Pedra da Gávea (Foto: Gustavo Wittich/Airbnb/Divulgação) Dicas Há pouco mais de um ano no Rio, o projeto Experiências teve um aumento de mais de 700% no número de reservas na capital fluminense, que já é o quarto maior mercado do serviço na América Latina. E pelo jeito, os usuários têm aprovado a maior parte das atividades, já que 93% das Experiências receberam cinco estrelas. 

Mas, afinal, o que é importante fazer para propor algo realmente interessante para figurar na plataforma? Segundo Márcia Motta, há alguns preceitos básicos a serem seguidos antes da aprovação.

"O que a gente vai sempre observar é, primeiro, credibilidade, ou seja, se o anfitrião oferece o que ele tem expertise. Segundo, a questão do acesso, ou seja, coisas que o viajante sozinho na cidade teria dificuldade de acessar. Pode ser, por exemplo, um passeio de bicicleta na praia, mas que o anfitrião vai levar você pra tomar um açaí num lugar super especial. E, terceiro ponto, hospitalidade. Se o anfitrião descreve bem a preocupação com o hóspede”, explica a gerente de mercado."Se não tiver dentro dos critérios, a gente não publica e devolve explicando o que precisa mudar ou melhorar", conclui.Entre as atividades já aprovadas e, portanto, disponíveis Bahia afora estão um passeio de caiaque ou SUP em Morro de São Paulo (R$ 110), uma aula de surfe em Praia do Forte (R$ 150) ou um passeio de helicóptero por Porto Seguro (R$ 450).

Regulamentação O empresário Roberto Duran, diretor-presidente da Salvador Destination, vê com bons olhos a chegada do projeto à Bahia, mas defende que ele seja regulamentado. “O que a Airbnb faz é um envelopamento de marketing diferente da experiência turística, e isso é bom para trazer mais visitantes para a cidade. No entanto, defendo que tanto o serviço de acomodações quanto esse novo projeto sejam regulamentados para que a plataforma recolha os impostos devidos e retorne em benefícios para a cidade”, comentou ele, ao explicar que seu posicionamento crítico tem como fim o desenvolvimento qualificado do turismo local.

Sobre o posicionamento do representante do trade turístico, a gerente de comunicação do Airbnb para América Latina, Leila Suwwan, afirma que “a plataforma do Airbnb, seja pela oferta de acomodações ou de Experiências, permite que a população local compartilhe suas casas e seus conhecimentos com viajantes para obter uma renda extra". Ainda segundo ela, em Salvador, um projeto de lei restritivo já foi arquivado, "porque entraria em choque com a legislação vigente e prejudicaria a população que depende dessa renda".

O projeto de regulamentação do Airbnb na cidade, de autoria do vereador Felipe Lucas (MDB), foi arquivado há três meses, após passar pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. A relatoria do projeto ficou por conta do vereador Alexandre Aleluia (DEM), que considerou a proposta inconstitucional e foi seguido pelos demais membros da comissão. “O projeto inconstitucional tentava regulamentar relações privadas e desrespeitava o direito de propriedade, o que é inconstitucional. Além disso, a proposta inviabilizava o Airbnb, porque criava taxas altas e obrigava os apartamentos a ter extintores, por exemplo. Sou contra a regulamentação da propriedade e acho que é importante as pessoas terem liberdade econômica”, afirmou Aleluia. O vereador Felipe Lucas não foi localizado.

Para Leila Suwwan, "é importante lembrar que novas regras devem buscar a defesa da inovação e prosperidade da população, sem criar barreiras e impedimentos”.

Atualmente, Salvador tem 3.500 anfitriões ativos na plataforma para anunciar seus espaços para locação e a renda anual de um anfitrião típico foi de cerca de R$ 3 mil no ano passado.

Abaixo, veja como se tornar um anfitrião de Experiências Airbnb na cidade onde você vive: Caso já tenha um login, entre www.airbnb.com/brasil. Senão, faça um cadastro no site. Na página oficial, clique em “Torne-se um Anfitrião”, na parte superior direita da página. No menu, escolha a opção “Hospede uma Experiência” e a plataforma te mostrará o passo a passo para a inscrição. No prazo de uma a duas semanas após o envio da solicitação, você receberá um retorno do Airbnb via e-mail com os passos seguintes. Cada anfitrião define os dias e os horários que a sua Experiência estará disponível, criando assim uma atividade de acordo com as suas necessidades.

Se você é um turista e deseja reservar uma Experiência, deve fazer o seguinte: Entre na página do Airbnb e escolha o seu destino. Na parte superior, escolha a opção “Experiências” para ver todas disponíveis. Selecione uma Experiência para saber mais detalhes como duração, ponto de encontro, o que está incluso e comentários de usuários anteriores. Para ver disponibilidade, clique em “Ver datas”. Se tiver alguma dúvida, pode clicar em “falar com o anfitrião” antes de reservar. Caso não tenha dúvidas, escolha a data e horário. Em seguida, você será direcionado para fazer o pagamento e finalizar a reserva. *O jornalista viajou ao Rio de Janeiro a convite do Airbnb.