Segundo dia de seletiva para o Afro Fashion Day reúne 85 modelos agenciados

No total, 140 jovens disputam as vagas para o desfile

Publicado em 24 de setembro de 2019 às 21:32

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva

Renata Trindade tinha 20 anos quando desfilou no primeiro Afro Fashion Day e não parou mais. Na manhã desta terça-feira (24), participou pela quinta vez da seletiva de modelos agenciados promovida pelo jornal CORREIO para montar seu time talentoso. Além dela, mais 139 jovens representados por 15 agências e bookers de Salvador, estiveram na Rede Bahia (Federação) e integraram o processo seletivo que culminará na lista de profissionais que pisarão na passarela do projeto. A próxima edição acontece em novembro, celebrando mais uma vez o mês da Consciência Negra com um desfile de moda 100% baiano.

O resultado será divulgado na próxima semana, junto com o da seletiva de modelos não agenciados que o CORREIO vem realizando pela cidade e que já passou pelo Pelourinho, Ribeira, Itapuã, Liberdade e Plataforma, em edições que homenagearam Olodum, Filhos de Gandhy, Malê Debalê, Ilê Aiyê e Muzenza. A última, na quinta-feira, será na sede do Cortejo Afro, em Pirajá. Os blocos afro são tema do desfile desse ano e inspiram as 52 marcas e criadores baianos que assinam as peças, entre roupas e acessórios. Fagner Bispo, curador do Afro Fashion Day, e Dino Neto, responsável pela beleza do desfile (Foto: Florian Boccia) Um dos pontos altos do AFD é a seleção de modelos que compõe o fashion show. “Em uma passarela democrática, na qual você encontra uma diversidade incrível de tipos e belezas, a edição de 2019 não vai ser diferente”, afirma Fagner Bispo, curador do desfile e um dos jurados ao lado de Dino Neto, que assina a beleza. “O evento é um grande revelador de promessas para o mundo fashion e esse ano, com a bênção dos blocos afro, será uma verdadeira noite da beleza negra”, acrescenta. “Tenho a difícil missão de escolher entre tanta gente maravilhosa”, diz sem dar a dica do resultado. Rafael Costa já desfilou duas vezes no Afro Fashion Day Rafael Costa, 28, pode estar na tão desejada lista. O modelo, da agência One Models, participou ontem da terceira seletiva do AFD, depois de desfilar nos dois últimos anos no evento, o primeiro foi com um dos finalistas das seletivas de bairro. “Para mim é o ápice da carreira aqui em Salvador. Um desfile que dá oportunidade para modelos profissionais, em formação, negros, que encontram representatividade no evento. A sensação é de conquista e espero estar lá mais uma vez”, comenta.

Ousadia Nestes últimos cinco anos, Renata Trindade, que faz parte do casting da Bi Produções, sempre desfilou usando moda praia. Modelo plus size, percebeu uma mudança justamente nas peças produzidas pelas marcas e resumiu essa sensação a uma palavra: ousadia. “Na primeira vez que desfilei, foi com um maiô fechado, comportado. O mais recente foi bem mais cavado. A cada ano, os estilistas vêm ousando mais porque perceberam que a gente se sente bem e, juntos, estamos fazendo a sociedade entender que, se somos felizes, temos que nos mostrar como somos”, explica. Renata Trintade acredita que as marcas estão ousando mais na moda plus size (Foto: Florian Boccia) Uma das características do AFD é justamente celebrar as diferenças e criar uma atmosfera de vitória e celebração que acaba encorajando os modelos. Meninas como Winnie Samay, 20, que encontrou no evento a força que precisava. “O Afro, pelo menos pra mim, vai muito além de um desfile. Serviu como um ato de resistência para que eu tivesse a noção de que o meu cabelo crespo é o meu diferencial. Atualmente, faço parte do quadro de modelos da agência Joy com um cabelo que não conseguiria segurar há 2, 3 anos atrás”, revela a top, que foi revelada pela One.

Em sua primeira seletiva, Willy Montenegro, 21, tem coragem de sobra para subir em um salto sem se importar com olhares de preconceito que possa despertar. Descoberto pelo scouter Vivaldo Marques, é um close certo: “Quero representar as manas negras e dizer que eu me mostro, não me escondo e todas as manas têm que se mostrar também”, dá o recado. Willy Montenegro e Monique Lemos: atitude e confiança são as palavras de ordem (Foto: Florian Boccia) Rumo à NY Monique Lemos, 15, já sabe onde quer estar daqui há um ano. “Modelando em Nova York e falando inglês”, afirma sem deixar nenhuma dúvida de que vai conquistar mais esse sonho. Mas nem sempre foi assim. Aos 13, participou da seletiva de não agenciados em Plataforma “de zoeira” e acabou indo até a final, junto com Rafael Costa e mais seis jovens.

No desfile do Afro de 2017, Monique foi vista por Vivaldo Marques, que colocou a garota em contato com agências nos EUA e na Europa. “De lá até aqui, tive muitas oportunidades e aprendi a amar a profissão, mesmo sabendo dos perrengues que acontecem”, conta a jovem, que tem apoio dos pais na escolha e já está estudando inglês para chegar arrasando na Big Apple.

“Para os modelos que estão começando é muito importante participar do Afro Fashion Day. Agrega muita coisa ao currículo, já que em Salvador não temos grandes eventos de moda”, afirma Lucas Evangelista, 23, que depois de desfilar na edição de 2016 do AFD partiu para uma carreira internacional e não conseguiu mais voltar. “A demanda está muito grande e não vai ter como, mas é uma energia incrível pisar naquela passarela”, diz o top também descoberto pela One. Lucas Evangelista desfila para João Pimenta no São Paulo Fashion Week (Reprodução/Instagram)  Booker e scouter internacional há quase dez anos, Vinny Vasconcellus roda pelo Nordeste em busca de novos talentos e já mandou muita gente para fora do país. Tops baianos como Paula Antero, Diara Rosa, Rayane Brown, Juan Santos, as gêmeas Suzana e Suzane Massena, Virgínia Santos, Alex Jordan e Mayla Machado estrelam campanhas, estampam editoriais de moda em revistas e desfilam para grifes poderosas.

Para o especialista, o mercado internacional abriu as portas nos últimos anos para os modelos negros, principalmente Nova York, Paris e Milão. “Hoje é mais fácil pegar um modelo aqui da Bahia e fazer um direct, que é enviá-lo para essas cidades sem passar por São Paulo, que exige um financeiro bacana para viver. Fazendo um direct, a agencia banca e fica mais fácil”, explica Vinny, que tem enviado talentos locais “direto para fazer Prada, Givenchy”.

Para Vinny, passar pelo AFD contribui para preparar o modelo iniciante. “Desfilar no Afro mexe com a identidade. Ana Flavia, que nunca tinha feito nada até o desfile, foi para Nova York e não parou mais. Olheiro das antigas, aproveita as seletivas de bairro para encontrar new faces. “Encontrei uma menina absurda na seletiva de Plataforma. Se vocês não mandarem ela para a final, eu vou mandar ela para Milão”, brinca.