Senhor do Bonfim vai do forró tradicional à música pop

'Capital do forró' é a quinta e última parada do especial São João na Estrada

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  • Laura Fernades

Publicado em 15 de junho de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Jefferson Ribeiro Ascom PMSB/Divulgação

É só falar em Senhor do Bonfim para quem conhece encher a boca de orgulho: “é a capital baiana do forró”. A justificativa da frase apaixonada é simples: a cidade do Centro-Norte do estado é famosa pelo forró que toma conta de blocos de rua, festas fechadas, casas de moradores e acontece até mesmo dentro de um  trem. Marcada por uma tradição pop, Senhor do Bonfim é a quinta e última parada da série São João na Estrada.

Para mostrar um pouco mais da festa que disputa, com o Carnaval, a preferência no coração dos nordestinos, o roteiro junino do CORREIO saiu da badalada Amargosa, passou pela guerra de espadas de Cruz das Almas, fez uma pausa nas belezas naturais de Mucugê e seguiu para o festejo pop de Santo Antônio de Jesus. A partir de segunda-feira (17), a contagem regressiva segue com uma websérie no site do CORREIO, com vídeos que mostram detalhes de cada cidade. O ponto de encontro está nas redes sociais (só marcar a hashtag #chegandojuntonointerior). (Foto: Jefferson Ribeiro Ascom PMSB/Divulgação) Mas, afinal, o que faz de Bonfim um São João único? A resposta do designer de interiores David Falcão, 38 anos, vem com a propriedade de quem já curtiu 35 vezes os festejos da cidade localizada a cerca de 375 quilômetros de Salvador. A identidade da festa está nos bloquinhos de rua que fazem as pessoas rodarem a cidade tomando licor e comendo amendoim. Está também nas casas que abrem suas portas e oferecem mesas fartas de comidas típicas para quem quiser chegar junto. 

O São João de Bonfim é único porque mostra que a cultura do vaqueiro segue forte, lembra David, sendo desnecessário ir até a zona rural para encontrar essas figuras que circulam pelas ruas da capital do forró. Quem for passar os festejos por lá, portanto, não pode perder a tradição, o que inclui acompanhar as alvoradas às 6h, provar os pratos à base de bode e comer um cuscuz de tapioca na feira livre, sábado de manhã “para curar a ressaca”.

O passeio na feira vale também para entrar em contato com a riqueza cultural dos artesanatos e quitutes típicos como o doce de banana na palha e a rapadura. Diante disso, fica fácil para David definir o que torna o São João de Bonfim tão especial. “A magia da festa é a paz, aquele licorzinho gostoso, a fogueira ali no pé da serra, assando milho, as crianças soltando fogos, de pé no chão, montando jegue. Essa foi a magia do São João que eu vivi e que levo para meus filhos. Isso aí não tem preço”, resume.

Para todos E quando o assunto é música, a cidade tem opção para todos os gostos. A começar pelo forró na feira, aos sábados, e pelos sanfoneiros que tocam dentro do Trem do Forró. Ele sai da Estação Ferroviária e roda cerca de 20 km em uma hora de passeio, com direito a música, comidas típicas e licor. Para garantir um lugar nos vagões com capacidade para 120 pessoas, basta levar dois pacotes de leite em pó. (Foto: Jefferson Ribeiro Ascom PMSB/Divulgação) Já na praça principal da cidade, de 20 a 24, o público encontrará shows gratuitos de artistas como Geraldo Azevedo, Adelmário Coelho, Flávio José, Cicinho de Assis e Dorgival Dantas. O som ganha um toque mais pop quando vai para festas particulares, a exemplo do Forró do Sfrega, que este ano reúne 11 atrações. Entre elas,  Xand Avião, Bell Marques, Léo Santana, Cavaleiros do Forró, Parangolé e Alok.

“Bonfim é conhecida como a capital baiana do forró e tem pelo menos 100 anos de tradição. Penso que o Sfrega, que começou há duas décadas, é algo muito positivo para somar com a tradição da cidade. Além dos grandes artistas, os intervalos dos shows valorizam a raiz com quadrilha, sanfoneiros, coretos e bandas de sopro”, explica a sócia-diretora do Sfrega, Gabriela Coutinho, 45. (Foto: Jefferson Ribeiro Ascom PMSB/Divulgação) Guerra Por falar em tradição, não se pode esquecer da polêmica guerra de espadas, que foi proibida pela terceira vez pelo Ministério Público do Estado (MP-BA). Por decisão do Tribunal de Justiça da Bahia e recomendação do MP, desde 2017 as batalhas estão proibidas, mas a manifestação não deixa de ser enaltecida pelos bonfinenses.

“É uma manifestação cultural democrática. Do juiz que é bonfinense e mora fora, mas vem pra soltar espada, até o catador de papelão que solta também. É uma manifestação de grande apoio popular. Se fizer uma pesquisa em Bonfim, 90% da população é a favor”, garante o antropólogo Rodrigo Wanderley, 30, conhecido como Pezão.

Segundo ele, que é pesquisador e tem mestrado na área, o problema da guerra de espadas não está na manifestação ou na quantidade de queimados, que é pequena diante das cerca de 7 mil pessoas que participam da brincadeira. “Está na produção da pólvora, porque não é certificada pelo Exército”, explica. Daí o impasse com o poder público. (Foto: Jefferson Ribeiro Ascom PMSB/Divulgação) Responsável por auxiliar a Associação Cultural de Espadeiros Bonfinenses a regularizar a questão com o Exército, a prefeitura de Bonfim “entende que é importante um processo de acomodação da manifestação em um local específico”, mas é contra a proibição. Principalmente no São João, quando a cidade recebe cerca de 80 mil turistas.

“A ‘guerra de espadas’ é uma das maiores manifestações da cultura popular do Norte da Bahia. Inclusive, a transformamos em Patrimônio Cultural do Município”, destaca o secretário de Indústria, Comércio e Turismo, Carlos Carneiro. Pezão concorda e ressalta que os espadeiros estão sendo criminalizados “como foi feito com a capoeira”. “Não somos criminosos por praticar nosso bem cultural. Isso é passado de pai pra filho”, defende.

São João na Praça

Dia 20 Filarmônica União dos Ferroviários Bonfinenses e Balé Sacramentinas, Flávio José, Cicinho de Assis e Dorgival Dantas

Dia 21 Junina Unidxs da Tapera, Fulô de Mandacaru, Caninana e Calcinha Preta

Dia 22 Samba de Lata, Flávio Leandro, Sandro de Castro e Tayrone

Dia 23 Roda do Palmeira, Emília Xisto, Renan Mendes, Wallas Arrais, Arreio de Ouro

Dia 24 Quadrilha Alegria que Contagia, Geraldo Azevedo, Adelmário Coelho, Kevi Jonny, Alvorada

Como chegar Partindo de Salvador, é possível seguir de carro para Senhor do Bonfim via BR-324 e BR-407. A viagem dura cerca de 5 horas e 40 minutos