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Roberto Midlej
Publicado em 19 de outubro de 2022 às 06:00
- Atualizado há 2 anos
Como bem diz o ator José Rubens Chachá, Silvio Santos é “um personagem famoso e desconhecido ao mesmo tempo”. Não à toa, surgiram lendas sobre ele, como o uso da peruca, que já rendeu até uma capa de revista em 1971, em que ele aparecia careca graças a uma manipulação da foto.>
Biografias escritas sobre Silvio até existem, mas, no geral, são autorizadas e isso cria uma imagem mítica e falsamente imaculada do apresentador e empresário. No entanto, nunca houve um registro audiovisual sobre sua vida, fosse ficção ou documentário. Até aqui, só se conheciam algumas reportagens especiais ou vídeos no YouTube, mas nada que se aprofundasse em sua vida.>
E finalmente chega ao streaming Star+, nesta quarta-feira (19), a série O Rei da TV, que, em forma de ficção, em oito capítulos, conta a história do maior apresentador da televisão brasileira, desde a adolescência até os 80 anos de idade. E é José Rubens Chachá, citado no início deste texto, que interpreta Silvio a partir dos 60 anos. Mariano Mattos vive o empresário dos 28 aos 45 anos. O CORREIO teve acesso aos dois primeiros capítulos da série.>
Câncer>
"Na minha fase, ele já conseguiu chegar onde queria, já é dono de emissora, já é homem de sucesso. Então, sua relação com o mundo já é outra", diz Chachá. É nesta fase que Silvio descobre um grave problema, que o faz perder a voz ao vivo, no final dos anos 1980. O incidente é reproduzido logo no início da série, quando descobrimos que o apresentador tem um pólipo e pode até desenvolver um câncer. Paulo Nigro vive Gugu Enquanto Chachá dá vida ao já consagrado e multimilionário Silvio, Mariano Mattos interpreta o empresário ainda no início da vida profissional, quando ele era o apresentador de uma trupe itinerante que se apresentava em circos. "A gente vai contar a história de um homem que tem um sonho. Quando ele sai das ruas do Rio de Janeiro trabalhando como camelô e recebe a indicação pra ir trabalhar na rádio, ele rapidamente vai pra São Paulo. O Senor Abravanel cria um personagem, então incorpora o Silvio Santos em alguns momentos da vida", diz Mariano.>
Mas tem também o Silvio adolescente, interpretado por Guilherme Reis. E desde aquela época, o rapaz já revelava tino para os negócios e o desejo - na verdade, uma obsessão - de ficar rico. "Você não quer ficar rico um dia e ter dinheiro pra fazer o que quiser? Pra comer requeijão, geleia, bolo...". diz ele ao irmão. É aí que ele decide penhorar uma boneca do pai, para levantar dinheiro e investir em sua barraquinha de camelô. Faz isso às escondidas, mas a estratégia dá certo graças ao talento que o rapaz exibe para as vendas.>
Gugu>
É claro que, como praticamente toda biografia em formato de ficção, os roteiristas têm a liberdade de dar um tempero aos fatos, para que a história se torne mais atraente. E, talvez, isso só aumente as lendas em torno do apresentador. Mas, embora alimente o mito, a série também revela um lado meio inescrupuloso de Silvio.>
E Gugu é uma das vítimas disso. Quando o dono do SBT sofre o problema na garganta, é aconselhado a chamar o pupilo para ficar em seu lugar na TV, aos domingos. Gugu, interpretado por Paulo Nigro, se prepara e, cheio de expectativa, se apronta para apresentar o programa no lugar do patrão. Mas, ao vivo, em cima da hora, o Brasil se surpreende, quando Silvio comunica ao país que, em vez de ter um substituto, vai reprisar antigos programas. A frustração de Gugu o leva a procurar a Globo, que, antes, já havia tentado contratá-lo.>
"Gugu tem o Silvio como grande mentor, um cara que de alguma forma tem uma relação paternalista, mas, ao mesmo tempo, o Silvio tem um pouco de medo de que o Gugu seja um pouco mais que o próprio Silvio é. Então, ele não dá espaço", diz Paulo Nigro.>
Bastidores Para quem se interessa pelos bastidores de televisão, a série é uma festa, especialmente para quem era espectador do SBT. O excesso de cores que marcou a década de 1980 está lá nos cenários e nas roupas. E a reprodução do cenário do Programa Silvio Santos nos faz viajar no tempo, com direito até a plateia agitando aqueles famosos pompons metalizados à espera do apresentador, ao som do igualmente famoso "Lá, lá, lá, lá/ Silvio Santos vem aí!". E tem também aquele foguete, em que a pessoa entrava e, sem ouvir a pergunta de Silvio, tinha que decidir se trocava um moderno aparelho de som por uma cueca furada. E tinha quem trocasse, claro.>
Tem também um desfile de pessoas que marcaram a história do SBT, como Sérgio Mallandro (interpretado por Gui Santana, que fez o Zacarias na reedição dos Trapalhões), Elke Maravilha e Roque. Mas tem gente também da Globo, como Boni - chamado de Rossi - e Roberto Marinho.>
O público também vai conhecer um pouco do primeiro casamento de Silvio, com Cidinha, mãe de duas de suas filhas. Até os anos 1970, quando a esposa do apresentador morreu de câncer, Silvio não falava à imprensa sobre seu casamento nem suas filhas. E tem ainda a segunda esposa de Silvio, Íris, que acabou se transformando em autora de novelas do SBT. Ela é vivida por Leona Cavalli. Leona Cavalli é Íris, esposa de Silvio O elenco se sai muito bem, com destaque para o veterano José Rubens Chachá, que não caiu na óbvia tentação de imitar a voz de Silvio. Mariano Mattos, o Silvio jovem, também dá conta do recado. Pelo que se vê nos dois primeiros episódios, a série promete agradar, especialmente porque mostra um protagonista humano, com seus defeitos, e que não é tratado como herói. Resta saber se a série vai entrar em questões mais polêmicas, como a conturbada tentativa de Silvio de ser candidato à Presidência em 1989 e o rombo do Banco Panamericano, em 2010. Os oito episódios serão disponibilizados de uma só vez nesta quarta.>