Shoppings podem ter prejuízo de até R$ 80 milhões com lojas fechadas nos feriados

A estimativa é feita pela Associação de Shoppings, que prevê prejuízo de R$ 10 milhões por feriado

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  • Luan Santos

Publicado em 28 de junho de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arquivo CORREIO

A recente decisão do Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região (TRT5) determinando o fechamento do comércio de Salvador nos feriados provocou dor de cabeça nos lojistas, que já preveem perdas até o final do ano. Caso o juízo seja mantido, os shoppings da capital baiana estimam prejuízo de pelo menos R$ 80 milhões até o fim de dezembro por conta do não funcionamento nos feriados.

Até o fim de 2019, serão oito feriados no calendário de Salvador, sendo que cada um deles pode provocar prejuízo de ao menos R$ 10 milhões aos centros de compras da capital, segundo o coordenador regional da Associação Brasileira de Shoppings Centers (Abrasce), Edson Piaggio. Esse valor, de acordo com ele, equivale ao que os estabelecimentos vendem, em média, nos feriados.

"Todos saem perdendo com essa decisão. Perdem os comerciários, uma vez que parte dos ganhos deles decorre das vendas; perde o município, que não arrecada; e prejudica o lojista, que não vende", afirma. Em todo o Brasil, segundo Piaggio, as perdas chegam a R$ 7 bilhões anualmente por conta dos feriados. "A gente espera que o bom senso prevaleça nesse caso para que essa situação possa ser revertida. A economia está se recuperando devagarzinho, mas ainda é pouco", diz.

A decisão do TRT5, dada pelo desembargador Marcos Oliveira Gurgel no último dia 20, ocorreu devido à falta de assinatura de uma convenção coletiva cuja validade venceu em 28 de fevereiro de 2018. Desde então, patrões e empregados travam uma guerra na Justiça para que o comércio funcione ou não nos feriados.  A mesma decisão libera os comerciantes para que abram os estabelecimentos aos domingos, independente de convenção coletiva.

Segundo o presidente do Sindicato dos Lojistas do Comércio do Estado da Bahia (Sindilojas), Paulo Motta, os empresários já cogitam realizar demissões por conta da decisão da Justiça. "Se ele não consegue manter sua atividade  econômica, não tem como gerar emprego, ampliar o quadro. Se não funcionarmos nos feriados, teremos prejuízos", diz Motta.

Ele, contudo, não estima o volume de funcionários que podem ser demitidos. Para Motta, as exigências feitas pelo Sindicato dos Comerciários quase inviabilizam as negociações. "Eles estão bem posicionados e firmes, dizem 'ou nos dá o que queremos ou não funciona'. Para nós, é oneroso", afirma.

Negociação O presidente do Sindicato dos Comerciários, Renato Ezequiel, por sua vez, afirma que a categoria mantém as negociações em aberto, mas ressalta a necessidade de se estabelecer parâmetros claros para o trabalho nos feriados. Entre os pedidos estão o pagamento de alimentação e vale-transporte, uma folga na semana e o pagamento de um valor pelo dia trabalhado.

Segundo ele, um acordo similar está sendo formalizado com grandes lojas, como C&A, Centauro, Riachuelo, Marisa, Renner, Casas Bahia e Camicado. O valor pago para cada trabalhador será de R$ 40,50. "Não somos contra a abertura do comércio nos feriados, mas tem que ser condicionado. Agora, não tendo um acordo, não vai abrir", diz.  

Sobre a possibilidade de demissões, ele acredita que não passa de pressão sobre os trabalhadores. "Algumas lojas, inclusive, estão contratando. Isso é só para pressionar o sindicato", pontua.

A presidente da Associação de Lojistas do Shopping da Bahia (Alscib),  Leise Scabini, diz que a preocupação é comum a todos os proprietários de  lojas. "Em meio a toda a dificuldade que já vivemos no comércio, com  vendas em queda, desemprego elevado, ainda vem uma decisão que nos  impede de funcionar nos feriados. É ruim até para os funcionários, que  são comissionados, tudo que vende vai para o salário", afirma.

Dona da  Hope, ela diz que a não abertura em feriados próximos de finais de  semana são ainda piores."Quando fecha no feriado, as pessoas tendem a não ir nos dias seguintes também. É um impacto que se prolonga", afirma.  Dona da Hope, Leise Scabini fala sobre prejuízo  (Foto: Almiro Lopes/CORREIO) Crítica A Câmara de Dirigentes Lojistas de Salvador (CDL) e a Federação das  Câmaras de Dirigentes Logistas da Bahia (FCDL) fizeram um posicionamento duro em relação à decisão do TRT5 e mostraram preocupação com os próximos feriados.

"A decisão contraria a razoabilidade em relação à necessidade de manutenção e geração de emprego e renda em nosso estado, já fragilizado pela recessão econômica que estamos vivendo. A proibição do funcionamento nos feriados só traz mais obstáculos ao comércio varejista e agrava ainda mais a situação de milhares de empreendedores e empresários, em sua maioria pequenos e médios", dizem as entidades.

Elas ainda se posicionaram de forma favorável às medidas anunciadas pelo governo federal para reduzir o chamado "custo Brasil", que representa "um conjunto de entraves burocráticos e financeiros, que dificultam a atividade econômica. Entre essas medidas está a proteção à livre iniciativa e ações de estímulo ao empreendedorismo e à atividade empresarial".

Dizem também que o funcionamento do comércio aos domingos e feriados é importante para o cidadão, que aproveita esses dias para o consumo de produtos e serviços à sua livre escolha. "A abertura é vital para a economia como um todo, permitindo mantes empregos de milhares de pais e mães de família no segmento de maior empregabilidade do nosso estado", afirmam.

Por sua vez, o TRT5 informou que "as partes foram notificadas da decisão monocrática proferida pelo desembargador Marcos Gurgel, que indeferiu o pedido de tutela provisória, encontrando-se em curso o prazo para eventual recurso. O desembargador fundamentou sua decisão nos autos". 

Preocupação CORREIO procurou os 11 grandes shoppings de Salvador para se posicionarem sobre o fechamento nos feriados e sobre os prejuízos. O diretor Regional de Operações do Grupo JCPM (Bahia/Sergipe), Fernando Rocha, afirmou que o grupo acompanha com atenção o impasse entre lojistas e comerciários, "pois sabemos que o varejo é uma peça fundamental na engrenagem da economia".

O JCPM comanda os shoppings Salvador e o Salvador Norte que, juntos, somam quase 700 operações e recebem mais de três milhões de clientes por mês. "Com o fechamento dos dois centros de compras nos feriados, estimamos uma queda de 5% no fluxo de pessoas e de 3% nas vendas, até o final do ano", afirmou.

"A falta de acordo agrava ainda mais a conjuntura de instabilidade que estamos vivendo em todo o país, sobretudo quando pensamos no papel que o segmento desempenha na geração de emprego e renda", complementou.

Já os shoppings Itaigara, Center Lapa e Piedade já não funcionam nos feriados normalmente. O Center Lapa, abre apenas praça de alimentação e cinema e algumas lojas-âncora. Os shoppings Barra e Paseo deixaram que a Abasce se posicionasse.

O Cajazeiras informou que irá funcionar em horário especial, das 9h às 16h, na próxima terça-feira (2), no feriado do 2 de Julho. Os shoppings Barra e Paseo deixaram que a Abrasce se posicionasse sobre o assunto. Os shoppings da Bahia, Bela Vista e Paralela não responderam até o fechamento desta edição.  Shoppings fechados geram prejuízos para as lojas (Foto: Arquivo CORREIO) Em alta Pesquisa divulgada nesta quinta-feira (27) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que a Bahia teve, entre 2016 e 2017, o segundo maior saldo positivo do país no número de estabelecimentos comerciais e de pessoas trabalhando no setor. Em 2017, havia 97.970 unidades locais comerciais ativas e com receita de revenda na Bahia, 3.391 a mais que em 2016 (aumento de 3,6%), segundo a Pesquisa Anual de Comércio (PAC).

O maior número de estabelecimentos comerciais no estado levou ao avanço no total de trabalhadores no setor, que chegou a 501.842 pessoas em 2017, 25.233 a mais que em 2016, ainda conforme o levantamento do IBGE.  Goiás foi o estado com melhor saldo positivo, saltando de 62.372 estabelecimentos em 2016 para 67.115 no ano seguinte - 4.743 a mais, equivalente a pouco mais de 7%.

Segundo o estudo, as três grandes divisões do comércio baiano - varejo, atacado e vendas de veículos, peças e motocicletas - tiveram resultados positivos entre 2016 e 2017, mas o varejo respondeu por pouco mais da metade dos novos estabelecimentos e por 80% dos empregos criados.

O número de unidades comerciais do varejo subiu de 80.875 para 82.581, entre 2016 e 2017, o que representou 1.706 novos estabelecimentos em um ano (aumento de 2,1%), ou seja, pouco mais da metade das 3.391 unidades comerciais que passaram a funcionar na Bahia, nesse período. Foi a primeira expansão do varejo baiano, depois de dois anos de encolhimento. O saldo negativo para o segmento ainda é de menos 7.263 estabelecimentos em relação aos que estavam ativos em 2014 (89.844).

A Bahia se manteve, em 2017, como o sexto estado em número de estabelecimentos comerciais e o líder do Norte-Nordeste nesse indicador. Na primeira posição está São Paulo, com 490.189 - 5,1% a menos em relação a 2016. Em todo o Brasil, o número de trabalhadores em empresas comerciais também teve um leve aumento entre 2016 e 2017, depois de recuar por dois anos seguidos. Passou de 10.123.065 para 10.221.275, nesse período, o que representou mais 98.210 pessoas. 

Feriados até o final do ano 2 de julho - Independência da Bahia 7 de setembro - Independência do Brasil 12 de outubro - Dia de Nossa Senhora Aparecida 30 de outubro - Dia do Comerciário  2 de novembro - Dia de Finados 15 de novembro - Proclamação da República 8 de dezembro - Dia de Nossa Senhora da Conceição da Praia 25 de dezembro - Natal