Simone Biles: entenda o que levou a ginasta a desistir de final

Americana optou por não competir no individual geral em Tóquio para focar na saúde mental e mostrou que, acima de tudo, é humana

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  • Giuliana Mancini

Publicado em 28 de julho de 2021 às 21:48

- Atualizado há um ano

. Crédito: Tóquio-2020/Divulgação

Simone Biles chegou a Tóquio-2020 como a maior estrela. Afinal, a americana de 24 anos tem um currículo impressionante, com cinco medalhas olímpicas (quatro ouros e um bronze), 25 pódios em Mundiais - um recorde da modalidade - e consegue cravar movimentos que só ela executa.

De tão incrível, a atleta usa em seu collant, nas competições nacionais, uma cabra de cristais cravejados, batizada de Goldie, uma clara menção ao selo GOAT (Greatest Of All Time, ou 'melhor de todos os tempos').  Goldie, a 'cabra de estimação' de Simone Biles (Foto: Team USA/Divulgação) No Japão, porém, Simone se tornou ainda mais poderosa. Não por enfileirar mais medalhas, mas por desistir delas para priorizar sua saúde mental. Depois de abandonar a final geral por equipes, a americana anunciou que está fora da decisão do individual geral, marcada para a manhã desta quinta-feira (29).

"Tenho que me concentrar na minha saúde mental", disse Simone, após anunciar que não competiria na final por equipes. Ela deixou a competição depois de perder uma tentativa de salto com duas voltas e meia. Ela fez apenas uma volta e meia e marcou apenas 13,733 pontos, ficando atrás das compatriotas Grace Mc Callum e Jordan Chiles. O grupo americano conquistou a medalha de prata, atrás somente do time do Comitê Olímpico da Rússia."Assim que eu piso no tablado, sou só eu e a minha cabeça, lidando com demônios. Tenho que fazer o que é certo para mim e me concentrar na minha saúde mental e não prejudicar minha saúde e meu bem-estar. Há vida além da ginástica. Infelizmente aconteceu nesse palco. Esses Jogos Olímpicos têm sido muito estressantes... Uma longa semana, um longo ciclo olímpico e um longo ano. Eu acho que estamos todos muito estressados. Nós deveríamos estar nos divertindo e esse não é o caso", completou.Um movimento parecido ao que a tenista Naomi Osaka fez no fim de maio, desistindo de Roland Garros para priorizar seu bem-estar mental. As duas, destaques de seus respectivos esportes, lembraram ao mundo que, mais que estrelas, são humanas. 

"Eu não confio mais tanto em mim mesma. Talvez seja o fato de estar ficando mais velha. Não somos apenas atletas. Somos pessoas, afinal de contas, e às vezes é preciso dar um passo atrás", afirmou.

A desistência da participação no individual geral foi tomada após uma avaliação médica, com a atleta optando por cuidar do seu bem-estar emocional. No Instagram, Simone já tinha dito, após a fase classificatória, que sente 'o peso do mundo nos seus ombros'.

"Após avaliação médica adicional, Simone Biles retirou-se da competição individual geral final. Apoiamos de todo o coração a decisão de Simone e aplaudimos sua bravura em priorizar seu bem-estar. Sua coragem mostra, mais uma vez, por que ela é um modelo para tantos", informou a Federação de Ginástica dos Estados Unidos.

A entidade destacou que Biles ainda vai avaliar se competirá nas finais por aparelhos, marcadas para os dias 1º, 2 e 3 de agosto. A atleta está classificada para os quatro eventos: solo, barras assimétricas, trave e salto.

Simone Biles, aliás, é a única vítima de Larry Nassar que continua na ativa. O ex-médico da seleção americana foi condenado a até 360 anos de prisão por abusos sexuais a mais de 260 mulheres. 

Em abril de 2020, Biles estava treinando quando foi anunciado oficialmente o adiamento dos Jogos. Ela, segundo conta, começou a chorar, sem se ver capaz de aguentar mais um ano. Teve momentos de depressão, de falta de sono, de tristeza. Planejava se aposentar no fim daquele ano, desistiu da ideia e confirmou presença em Tóquio.

Quem leva? Com a saída de Simone Biles, a final do individual geral ficou com a disputa aberta. Há muitas candidatas fortes no páreo – e a favorita é a brasileira Rebeca Andrade. A briga pelo pódio será na manhã desta quinta-feira (29), às 7h50.

A ginasta passou em segundo para a decisão, com diferença de apenas 0,331 pontos para a estrela americana. Somou 57,731 pontos, mas tem espaço para crescer, já que perdeu algumas ligações de movimentos nas barras assimétricas. Se conseguir executar bem suas séries, Rebeca deve ganhar uma medalha.  Rebeca Andrade é a favorita para o ouro (Júlio César Guimarães/COB) A brasileira, aliás, busca a redenção na carreira após enfrentar seguidas lesões. Em 2014, sofreu uma fratura no dedo do pé, que a tirou da disputa dos Jogos Olímpicos da Juventude, em Nanjing, na China. No ano seguinte, rompeu o ligamento cruzado anterior do joelho direito. 

Rebeca participou dos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, ficando no terceiro lugar no qualificatório. No final da prova decisiva, cometeu falha na trave e terminou na 11ª colocação. Teve mais lesões que a impediram de disputar o individual geral em uma grande competição até o Pan-Americano de ginástica, em junho, quando conseguiu a vaga para Tóquio-2020.

As principais adversárias de Rebeca na final são a americana Sunisa Lee e as russas Angelina Melnikova e Vladislava Urazova.