Software gratuito é capaz de frear desmatamento ilegal

Código da Consciência tem apoio do Cacique Raoni e atua em áreas de proteção ambiental

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  • Laura Fernades

Publicado em 15 de outubro de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação

Já imaginou se uma tecnologia fosse capaz de desligar automaticamente as máquinas pesadas que invadissem áreas de proteção ambiental? Pois ela existe e pode, por exemplo, frear o desmatamento na Amazônia, que praticamente dobrou entre janeiro e agosto, segundo o Instituto de Estudos Avançados da Universidade Federal de São Paulo.

Lançado há pouco mais de um mês, o Código da Consciência é um software gratuito e de código aberto que serve de ferramenta na luta contra o desmatamento ilegal. O funcionamento é simples: o programa usa mapas georreferenciados das áreas protegidas no mundo, reunidos em um banco de dados da ONU - o World Database on Protected Areas (WDPA) - que é atualizado mensalmente por ONGs, comunidades e pelos governos.

Para detectar se as máquinas entraram em uma área onde não deveriam estar, o Código da Consciência combina o sistema de GPS existente nos equipamentos com esse banco de dados de áreas protegidas. Caso o motorista de um trator, por exemplo, entre ilegalmente em uma área protegida, ele receberá uma notificação. Se insistir em avançar, sua máquina poderá ser desativada. O software Código da Consciência funciona por acesso remoto ou por chip (Foto: Divulgação) A interação com a máquina se dá através da instalação do Código da Consciência. Em alguns equipamentos mais avançados, com acesso remoto, basta instalar para começar. Mas existem outras máquinas que precisam de uma solução mecânica presencial, é aí que entra a implantação de um chip com o software. Mas o que as empresas ganham com a implantação do Código?

“É quase um selo ISO 9000”, compara Diego Machado, 33 anos, diretor de criação executivo da AKQA, em São Paulo, agência que concebeu a ideia do projeto e desenvolveu com ONGs, institutos, associações e empresas diversas. Com escritórios em países como Austrália, Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, França e China, a AKQA teve a ideia de criar o software ao observar que empresas parceiras tinham discursos de preservação e sustentabilidade, mas seus produtores não.

Criatividade Depois de pensar na ideia, a agência conversou com diferentes ONGs para entender as dificuldades enfrentadas pelo desmatamento e pensar em como solucionar o problema. Diante disso, a parte técnica, de programação, foi viabilizada pela AKQA da Austrália. “Somos uma agência de publicidade, de criatividade, poderíamos até ignorar - ‘cara, isso é problema do governo’ - e usar nossas horas de trabalho para outras coisas. Mas rever pequenas atitudes, faz uma diferença tremenda”, pondera Diego.

O projeto, então, foi apoiado pelo cacique Raoni Metuktire, 89 anos, uma das lideranças indígenas mais influentes do mundo que há mais de 50 anos luta pela preservação da floresta amazônica e defende os povos indígenas. O líder Kaiapó que foi candidato ao prêmio Nobel da Paz 2020, encabeça a campanha do Código da Consciência, que está em fase de “negociação avançada” com montadoras, fabricantes de trator e outras máquinas pesadas.

Além destas, existem empresas que compram alimentos, móveis e outros produtos interessadas em exigir o software em toda a sua cadeia produtiva. “Quando a gente fala de aquecimento global, parece uma coisa tão macro que a gente se sente inútil. Mas, apesar de se achar um pontinho no Oceano, é possível fazer barulho”, reflete Diego. “A gente vive em um mundo de intolerância onde é fácil ficar xingando o outro, mas podemos usar a criatividade para encontrar uma solução”, completa.