Sombrinha, terço e fé: 200 mil pessoas participam de penitência até o Bonfim

Baianos enfrentaram chuva em sinal de penitência religiosa

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  • Fernanda Santana

Publicado em 24 de março de 2019 às 13:34

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Almiro Lopes/CORREIO

Sombrinha numa mão, terço na outra. À frente, oito quilômetros de caminhada até a Igreja do Bonfim. Acima, os pingos de chuva. E a companhia da fé para ser guiado sob água pela Caminhada Penitencial, iniciada às 8h deste domingo (24). Nem o tempo impediu milhares de fiéis de invadirem as ruas do Comércio à Cidade Baixa. Pelo contrário: a chuva foi considerada um incremento necessário e bem-vindo na remissão dos pecados. Multidão acompanhou Caminhada Penitencial (Foto: Almiro Lopes) Na Basílica de Nossa Senhora da Conceição da Praia, descalça, Seumara Souza, 22, inclusive agradeceu pelo tempo fechado. Na noite anterior à caminhada, chegou a pedir que a chuva caísse e, junto com ela, levasse tudo de negativo. "Estou forte e determinada a sentir parte da dor que Jesus sentiu. É a primeira vez que venho e nem dor estou sentindo muito. E se sentir, vejo isso depois", falou a psicóloga. A Caminhada Penitencial acontece durante a Quaresma, período do ano que antecede a Páscoa cristã.

A chuva engrossava e as sombrinhas subiam. Às vezes, no entanto, o guarda-chuva permanecia guardado."É tempo de penitência e tempo de resistência. A chuva nos fortalece. Se gripar, tem chazinho depois", brincou a diarista Dora dos Santos, 50.Os mais preocupados até buscavam abrigos temporários sob toldos de prédios e postos de gasolina. Num posto de gasolina próximo aos Mares, Vera Nascimento, 58, esperava a chegada de uma amiga que levaria a sombrinha. "Mas só vou esperar um pouco. Se não vou com chuva e tudo. A chuva renova", disse. Vera e a irmã, Nice, tentam se proteger da chuva num posto de gasolina (Foto: Fernanda Lima/CORREIO) A estimativa de Arquidiocese de Salvador é de que a chuva tenha renovado pelo menos 200 mil pessoas, na 34ª edição da caminhada. Nenhuma surpresa para o acerbispo de Salvador e primaz do Brasil, Dom Murilo Kriegger, todos estarem ali mesmo com o tempo chuvoso.“Quando é um sol muito forte, [o povo] aparece.  Quando tem chuva, aparece também. Não reclama, participa, porque entende que a caminhada penitencial implica nisso, penitência, uma purificação de nossas faltas”, falou.O esforço foi duplo para pelo menos 50 fiéis. As duas cruzes levadas em direção à Basílica são tradicionalmente carregadas por fiéis, homens e mulheres. O material de madeira, com seis metros de comprimento e três de largura é uma lembrança ao sofrimento de Jesus a caminho de sua crucificação. Foi a primeira vez de Aloísio Monteiro, 54, na empreitada e na caminhada. A chuva atrapalhou?“É um sonho que estou realizando agora. Cheguei até a cruz e foi ela que me chamou. Nenhuma chuva muda isso”.Numa das paradas obrigatórias do percurso, o Largo dos Mares, onde os fiéis mais cansados desistem da caminhada e outros iniciam o percurso, o engenheiro civil Washington Falcão opinou: “Por ser penitência acho que a chuva é até algo a mais”. Como a cerimônio tem início em três pontos simultâneos, Conceição da Praia, Lobato (Igreja São Vicente de Paulo) e nos Mares (Paróquia Nossa Senhora dos Mares), o Largo foi instituído como ponto de encontro.  Dona Eva, a caminho da Igreja do Bonfim (Foto: Fernanda Lima/CORREIO) Foi de lá que partiu Eva, 84, moradora da Boa Viagem e frequentadora da Caminha Penintencial desde jovem. A aposentada segurava-se numa muleta para aguentar subir a Colina Sagrada. Mas nem os joelhos fragilizados por uma artrose impediram a senhora de continuar.“A fé me dá força. Um passo de cada vez”, explicou Eva, já no final da subida, incentivada por outros fiéis.No palco montado para uma missa em frente à Igreja do Bonfim, o pároco Edson Menezes comemorou: “Parabéns a todos que vieram mesmo de baixo de chuva”. A essa altura, Dona Eva e os outros fieis também comemoravam, emocionados, a chegada. 

*Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier