Toda eleição é inesquecível; essa de 2018, porém, é mais que outras

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  • Malu Fontes

Publicado em 29 de outubro de 2018 às 06:15

- Atualizado há um ano

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A vitória dada ontem nas urnas a Jair Bolsonaro encerrou a disputa eleitoral de 2018. No entanto, o Brasil acordou hoje mergulhado num conflito político-ideológico tão ou mais profundo do que o que estava estabelecido até a véspera da eleição. O país ingressa hoje em uma nova fase, dificílima, e estamos muito longe da possibilidade de os brasileiros e seus representantes poderem garantir que vão zerar a curto prazo o abismo que se abriu em função das eleições. 

Mas, no meio das raivas e do esgarçamento da civilidade brasileira na campanha, chamou atenção na mesma proporção a escala de bizarrices. A campanha já começou excêntrica, já que o candidato líder nas pesquisas era um presidiário. Sem poder fazer campanha, o candidato preso foi para as ruas em forma de máscara de papelão. E como o Brasil é o país das jabuticabas, inventou-se uma expressão singular: uma chapa de três pessoas, uma triplex, uma excrescência. 

Cangaço   Como se fosse coisa pouca uma chapa com três pessoas e o uso de máscaras para pedir voto, o país foi surpreendido com um episódio de tragédia grega misturada com cangaço dos anos 30. Um fanático religioso, de quem não se sabe quase nada até hoje, enfiou uma faca nos intestinos do então já líder nas pesquisas após a derrocada do projeto máscara de papelão, Jair Bolsonaro. O episódio pareceria coisa da República Velha, do tempo dos coronéis, quando se mandava matar inimigos políticos com espingarda ou peixeira. 

Nas redes sociais, a campanha anunciava aberrações, como cartilhas gays e pornográficas, mamadeiras com bicos em forma de pênis e treinamento de alunos nas escola para tornarem-se comunistas. Até aí o sexo era apenas a invenção das cartilhas anunciadas em larga escala nos grupos de família. Mas, para que o processo eleitoral de 2018 se inscrevesse de vez numa enciclopédia surrealista, entra em cena um caso de sexo para valer, real, explícito. Um vídeo erótico cujo protagonista se diz que é o governador eleito de São Paulo, João Doria. 

Rivotril  Até agora não se sabe se, no vídeo, é Doria com seis mulheres numa cama. Entretanto, a cada tentativa de negação, a coisa só piora e afunda o episódio num poço de vulgaridade. O país nunca esquecerá a expressão indecifrável do rosto de Bia Doria, a mulher do governador, um combo facial de botox e rivotril, emprestando o corpo ao marido enquanto ele negava num vídeo desmentidor o sexo grupal com garotas de programa. 

O sex tape de Doria, como o vídeo ficou famoso, foi um ponto de inflexão na história das eleições brasileiras e um marco brasileiro na reflexão sobre o casamento. Os maridos, com raras exceções, nunca convidam suas ‘sinhôras’ para os parquinhos do sexo recreativo pago. No entanto, quando a festinha erótica dá errado, aí chamam a primeira-dama para fazer a lavagem da imagem borrada. O rosto trágico de dona Bia parecia confirmar o que trocentas perícias estão buscando até agora: provar se o rosto e o pênis da cena de sexo grupal são do mesmo dono. O bacanal, falso ou não, embora tenha causado estragos em sua imagem de defensor da família, não o impediu de eleger-se.

Gretchen   Aos 46 do segundo tempo da campanha, Gretchen, a rainha dos memes brasileiros e que nunca passou batida no mundo das celebridades, deu o toque final. Ao apoiar publicamente Fernando Haddad, causou mais que o discurso de Ciro Gomes anunciando que não apoiaria ninguém porque optou por guardar sua cadeira limpinha na corrida eleitoral de 2022. E que venha a história. Toda eleição é inesquecível. Mas essa é mais que outras.