Todos os anos esperamos asteroides

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  • Da Redação

Publicado em 22 de novembro de 2020 às 05:02

- Atualizado há um ano

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Nunca entendi por que somos tão fascinados pelo fim do mundo. Todos os anos esperamos que um asteroide penetre na atmosfera terrestre e se transforme em um meteoro com tamanho suficiente para destruir o planeta. Dinossauros do agora, vibramos nessa pulsão de morte em pilhéria e em apelo.

Em alemão se diz Todestrieb. Mas, afinal, será que desejamos mesmo? Na infância, eu tinha pesadelos com combustão humana espontânea. Essas lendas sobre gente que pega fogo sem causas aparentes em incêndios que começam dentro do próprio corpo. Esse medo só perdia para o sumiço repentino de crianças.

Era só fazer algo errado para entrar na mira do homem do saco e nunca mais ver a família. Isso se não estoporasse antes, fosse lá o que isso significasse. Estoporar bem que podia ser explodir de repente, ir pelos ares. Algo relacionado a misturar manga com leite ou a tomar um banho bem quente e sair ao vento.

A infância é mais poderosa que a ficção, escreve o espanhol Andrés Barba em República Luminosa, um livro realmente fascinante. Porque a verdade, a grande verdade, é que os adultos nunca sabiam do que estavam falando quando diziam certas coisas para os filhos. Mas isso só descobrimos quando somos nós os que mentem.

Se olharmos direitinho, foi bem divertido imaginar o século 21 com turismo em Marte e teletransporte. O que temos para hoje, no entanto, é a incapacidade de resolver o apagão de luz que massacra o Amapá por quase um mês. Aviões levarão transformadores, justificam as autoridades, e grita a incompetência dos homens.

Enquanto sonhávamos com inteligências superiores que dominariam a Terra, vimos idiotas se agarrando ao poder. Assistimos uma escalada de violência sem precedentes contra os direitos civis, conquistados ao longo de décadas. Florestas inteiras queimando, fogueiras acesas dentro da noite. E mortes e mortes e mortes.

Vem cá, essas crianças separadas de suas famílias, que será que sentem? Será que se culpam pelos pequenos deslizes? Um sorvete deixado a derreter sobre um móvel. Um palavrão libertador. Talvez a mistura perigosa de manga com leite. O risco, o grande risco, do banho quente antes de abrir as janelas e tentar avistar Marte.