Tour pelo Pelourinho conta a história da capoeira na Bahia

Projeto integra os pontos turísticos do Centro Histórico de Salvador com os fatos marcantes da capoeira na cidade

  • Foto do(a) author(a) Vinicius Harfush
  • Vinicius Harfush

Publicado em 23 de fevereiro de 2019 às 20:46

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/CORREIO

Não tem como falar da cultura da Bahia sem pensar na capoeira. A formação da identidade cultural baiana e do povo negro está enraizada na expressão que a típica dança representa historicamente. E é pensando nesse importante papel da capoeira que Ricardo Carvalho, mais conhecido como Mestre Balão, que ensina capoeira há 30 anos, criou o Instituto CTE Capoeiragem. Fundado em 2007, o projeto tem como objetivo trazer não só os conhecimentos técnicos para os alunos, mas também o impacto que a arte marcial tem na construção histórica da Bahia e do Brasil.

E nada melhor do que conhecer mais sobre a arte fazendo um passeio pelo Pelourinho. O Tour Capoeirístico é uma extensão do projeto do CTE que integra os pontos turísticos do Centro Histórico de Salvador com os fatos marcantes da capoeira na cidade.

Foram selecionados 23 pontos espalhados na região para levar turistas, capoeiristas de outros grupos e curiosos para conhecer mais sobre a história da capoeira. Um dos pontos mais interessantes, por exemplo, é a escultura da Cruz Caída. Ali, Mestre Bimba lutou num ringue e demonstrou para os adversários como a Capoeira Regional era uma arte marcial eficiente.

Outro local é a Rua da Saldanha da Gama, local do conhecido crime da Saldanha. O capoeira Pedro Mineiro matou dois marinheiros e, por isso, acabou preso e morto dentro da Secretaria de Polícia da época. O episódio é cantado em famosa cantiga de capoeira.

O CTE Capoeiragem também tem um papel importante na formação de jovens estrangeiros que vêm até a cidade para aprender sobre a cultura local. Foi com esse intuito que a alemã Julie, 26 anos, veio para Salvador. “Conheci a capoeira quando era pequena. Vi na televisão e falei ‘Nossa, olha essa gente voando’ (risos). Mais tarde, na faculdade, entendi realmente o que era e resolvi vir para cá conhecer mais sobre a cultura afro-brasileira e a capoeira”, diz a alemã.

O Mestre Balão conta que a ideia de difundir o conhecimento dessa arte surgiu há 12 anos, quando voltou de um período de pesquisa na Europa, junto com o historiador Frede Abreu (1947-2013), responsável por inúmeros estudos sobre a capoeira dos Mestres Bimba, Pastinha e João Pequeno. “O projeto se desenvolve desde a parte prática até os estudos históricos da capoeira, por isso, tem uma notoriedade tão grande”, comenta. (Foto: Marina Silva/CORREIO) Julie, conhecida no grupo como ‘Esquilo’, não esconde a admiração pelo mestre e pelo projeto: “Acho o Balão um educador muito bom. Ele pensa em aspectos muito amplos, com um olhar para o físico e para o mental. Esse projeto social é uma coisa muito linda”.

E mesmo para quem vive em Salvador, o projeto continua sendo um abre-alas muito importante. É o caso de Yasmin Alves, 11, que luta e aprende capoeira no grupo há quatro anos. “Aqui a gente fala muito sobre a história do que estamos aprendendo. Às vezes, na escola, os professores não aprofundam muito”, conta a aluna, conhecida no grupo como Pimenta.

Inevitavelmente, o avanço tecnológico obrigou Mestre Balão a se reinventar.  Foi quando Rodrigo Negreiro, o Papel, 39 anos, chegou para ajudar. Mestre Balão é analista de sistemas e resolveu criar um site para inovar o Tour da Capoeira. Chamado de Mapa da Capoeira, a plataforma utiliza o Google Street View para localizar os usuários nos pontos turísticos e, ao mesmo tempo, disponibiliza curiosidades e fatos históricos que envolvem a capoeira.

Tudo isso com o intuito de alcançar mais pessoas, como disse Papel: “Pensei em colocar isso na internet, para levar a ideia da capoeira para o mundo todo. Mostrar tanto para as pessoas que moram aqui quanto para todo mundo que está lá fora. Ensina muito sobre a história da Bahia e do Brasil”, afirmou ele.

Uma capoeira que não ensina apenas a técnica, o uso do corpo, mas também valores históricos e morais que representam a luta de povo.

* Sob orientação da editora Tharsila Prates