Um em cada três brasileiros já compartilhou informações falsas

Mais de 70% da população diz já ter enviado fakes news via redes sociais

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  • Donaldson Gomes

Publicado em 21 de outubro de 2018 às 06:53

- Atualizado há um ano

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. por CORREIO Gráficos

Imagem: Reprodução O enunciado lembra o de uma notícia, a página na internet é idêntica a de um veículo de comunicação. Às vezes, o conteúdo chega assinado por uma personagem conhecida. Parece notícia, mas é informação fraudada. Fake news. E pelo menos 33% dos brasileiros reconhecem que já foram enganados e compartilharam algum tipo de informação falsa nas redes sociais, aponta o estudo Datacitizens - A era da Pos Privacidade. 

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Daqui a uma semana, a disputa eleitoral no Brasil estará superada, com a realização do segundo turno da disputa presidencial. Mas um dos grandes assuntos relacionados ao pleito deste ano deve permanecer no centro das discussões por mais algum tempo. A disseminação da desinformação – que tomou conta do debate eleitoral – não deve se encerrar com a apuração da última urna no próximo domingo, apontam especialistas. 

Se uma em cada três pessoas já difundiu involuntariamente informações fraudadas, o número dos que reconhecem já ter se deparado com a situação no mundo digital é maior. Neste caso, 71% da população recorda ter se deparado com algum tipo de desinformação, passada como se fosse notícia, enquanto 17% se dizem indiferentes ao assunto. Apenas 6% garantem não ter se deparado com nenhum tipo de fake news, indica o estudo, realizado a partir de conversas com 1 mil pessoas durante seis dias

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Fonte de informação Para 82% dos entrevistados, as redes sociais hoje são fontes de informação, e não apenas um meio para se reconectar com antigos amigos ou parentes distantes. Apenas 15% dos usuários das redes sociais dizem não saber o que são fake news, de acordo com o estudo. 

“A pesquisa mostra  como as pessoas encaram a questão das falsas notícias e os cuidados que tentam adotar para não se desinformarem”, explica a  diretora de marketing da MindMiners, Danielle Almeida. A MindMiners é uma startup brasileira especializada em pesquisas digitais, responsável pela realização do Datacitizens - A era da Pos Privacidade, em parceria com a Unimark Longo e o Vilarinho Advogados.

Existe uma preocupação com o uso das fake news como ferramenta de manipulação das pessoas. E quase metade dos entrevistados admitem ter dificuldades para identificar notícias falsas. Isso apesar de a leitura do conteúdo até o final e a verificação da fonte de informação serem procedimentos adotados por 77% dos entrevistados.  “As pessoas acreditam que tomam os devidos cuidados em relação às fake news, mas ainda assim, acabam caindo. Isso indica que estes cuidados podem não ser suficientes”, avalia Danielle Almeida.  

Segundo ela, um aspecto que chamou a atenção no levantamento foi que a susceptibilidade a se enganar com informações que parecem verdadeiras independe da faixa etária. “Nós temos a tendência de imaginar que as pessoas com mais idade teriam mais dificuldades de lidar com a tecnologia e, por isso, estariam mais suscetíveis às fake news que os mais jovens, entretanto a pesquisa mostra que o problema é generalizado”, afirma. 

A maior parte da população (60%) acredita que a responsabilidade por identificar e eliminar a desinformação é das plataformas que abrigam as redes sociais, enquanto 15% esperam que o próprio usuário faça isso e 6% acreditam que esta deveria ser uma incumbência do poder público. Para 87%, as redes sociais deveriam oferecer um botão onde fosse possível sinalizar que determinada informação publicada é na verdade uma informação fraudada. 

“Apesar das preocupações, o que as pessoas demonstram não ter a intenção de fazer é sair das redes sociais. O desejo é o de tornar aquele ambiente mais seguro, não de abandona-lo”, explica Danielle Almeida. Imagem: Reprodução É diferente de boato Um erro bastante comum em relação às fake news é o de compara-las aos boatos, ou mesmo a reportagens jornalísticas mal apuradas. Para a jornalista e colunista do CORREIO, Malu Fontes, professora da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Facom/Ufba), existe uma intencionalidade de enganar nas fake news, que as diferenciam de boatos. “Boatos e lendas urbanas são totalmente diferente das fake news, que são um processo recente e se caracterizam como uma fraude informativa”, diz. 

A diferença é que no caso das fake news há uma intencionalidade em enganar, explica Malu. Neste caso, o próprio termo fake news se mostra inapropriado para definir o processo, acredita a professora. “Se é fake não pode ser news. Fake news é uma expressão que se nega, porque a notícia se vincula com a realidade. Uma informação fraudada, deturpada intencionalmente, não pode ser chamada de notícia”, acredita Malu Fontes. Para ela, o melhor seria se utilizar a ideia de “desinformação”, a exemplo do que já acontece em outros lugares do mundo. Os americanos utilizam a palavra “desinformation”, diz. “Quando se inventa uma realidade que não existe, o que se tem é uma fraude”, aponta. 

Mas por que então o apelo das notícias falsas é tão grande? Primeiro porque se utiliza a mesma fórmula da notícia verdadeira, responde Malu Fontes. “Muitas vezes se utiliza a fórmula da notícia. Utilizam-se o texto jornalístico, em sites cujos endereços e o próprio layout se assemelham ao de sites de informação reais e, muitas vezes, parte das informações são verdadeiras”, destaca. 

Entretanto, para a professora de comunicação, há quem compatilhe informações falsas sabendo disso pelo que chama de “pensamento desejoso”. Algo muito comum na disputa eleitoral, mas não apenas nela. “Às vezes há um desejo de confirmar algo e a notícia falsa cumpre este papel”, diz.  

Pesquisador defende mudanças no Zap Uma pesquisa em 347 grupos públicos de WhatsApp mostrou que 56% das imagens publicadas na rede são falsas, tiradas de contexto ou sem apoio em fatos. Responsável pela análise das informações, o pesquisador Pablo Ortellado, professor do curso de Gestão de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo (USP), defende a necessidade de mudanças na rede social. 

Para Ortellado, que é um estudioso das chamadas fake news, a rede social precisa reduzir o número de reenvios de informação, o alcance da transmissão, além de limitar o tamanho de novos grupos. “Acompanhando os grupos pudemos observar que a dinâmica de divulgação das informações combina uma organização piramidal e em rede. As campanhas utilizam a transmissão, a capacidade de enviar a mesma mensagem para até 256 contatos, para distribuir a mensagem para os militantes”, explicou o professor através do seu Twitter.

Ortellado acredita que a formatação atual permite que as mensagens em apenas dois passos sejam distribuídas para “centenas de milhares” de pessoas, “numa campanha de desinformação em grande escala”.

“Pedimos ao WhatsApp que restrinja a capacidade de transmissão do aplicativo, que limite a 5 o número de reenvios, como já acontece na Índia e que limite o tamanho de novos grupos”, defende o pesquisador.

Segundo ele, o WhatsApp rejeitou a proposta feita por ele, que defende a alteração ainda durante o atual processo eleitoral. Como exemplo de que a ferramenta poderia ser modificada rapidamente, ele lembra a mudança que foi implementada em outros países. Identifique as fake news Seja cético com as manchetes Notícias falsas frequentemente trazem manchetes apelativas em letras maiúsculas e com pontos de exclamação, o que não é usual em reportagens jornalísticas. Se alegações chocantes na manchete parecerem inacreditáveis, desconfie, pode ser mesmo mentira.

Investigue a fonte da informação divulgada  Certifique-se de que a reportagem tenha sido escrita por uma fonte confiável e de boa reputação. Se a história for contada por uma organização não conhecida, verifique a seção “Sobre” do site para saber mais sobre ela. Em caso de dúvidas, vale a pena pesquisar mais sobre a fonte da informação no Google. 

Fique atento   a formatos incomuns Muitos sites que publicam informações falsas contêm erros ortográficos ou apresentam layouts estranhos. Redobre a atenção na leitura da informação se perceber esses sinais. Além disso, preste bastante atenção ao endereço do site, pois muitos deles utilizam nomes parecidos com os de sites de notícias tradicionais. 

Preste bastante atenção Às fotos Notícias falsas frequentemente contêm imagens ou vídeos manipulados. Algumas vezes, a foto pode ser autêntica, mas pode ter sido retirada do seu contexto original. Você pode procurar a foto ou imagem no Google para verificar de onde ela veio.

Confira as datas de publicação  Alguns “fabricantes” de informações falsas costumam utilizar uma notícia real do passado como base, ou mesmo utilizar uma outra notícia falsa, portanto preste atenção às datas. Conter datas que não fazem sentido ou até mesmo datas que tenham sido alteradas pode ser sinal de fraude.

Verifique as evidências Verifique as fontes do autor da reportagem para confirmar que são confiáveis. Falta de evidências sobre os fatos ou menção a especialistas desconhecidos pode ser uma indicação de notícias falsas.

Busque outras reportagens Se nenhum outro veículo na imprensa tiver publicado uma reportagem sobre o mesmo assunto, isso pode ser um indicativo de que a história é falsa. Se a história for publicada por vários veículos confiáveis na imprensa, é mais provável que seja verdadeira.

A história é uma farsa ou uma brincadeira?  Algumas vezes, as notícias falsas podem ser difíceis de distinguir de um conteúdo de humor ou sátira. Verifique se a fonte é conhecida por paródias e se os detalhes da história e o tom sugerem que pode ser apenas uma brincadeira.

Algumas fakes são feitas de propósito Pense de forma bastante crítica sobre as histórias lidas e compartilhe apenas as notícias que você sabe que são verossímeis. Algumas delas podem ter sido intencionalmente falsificadas.

Fonte: Adaptado do Facebook.