Uso obrigatório: máscaras podem ser produzidas por 603 instituições baianas

Ateliê de costura no sertão já tem encomendas de mais de 10 mil máscaras

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  • Hilza Cordeiro

Publicado em 29 de abril de 2020 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Forte Severina/Divulgação

A partir desta terça-feira (28), é proibido sair sem máscaras de proteção em 385 municípios da Bahia. Os deputados baianos aprovaram unanimemente, nesta terça-feira (28), o uso obrigatório do equipamento nas ruas, no trabalho e no trânsito para reduzir a circulação do novo coronavírus. De acordo com dados da Secretaria Estadual de Saúde (Sesab), a Bahia tem pelo menos 603 empreendimentos com capacidade de produzir cerca de 9 milhões de máscaras de tecido e TNT em até 30 dias. 

Esse levantamento do potencial de produção foi feito a partir do edital lançado há duas semanas pelo Governo do Estado. O governador Rui Costa anunciou na ocasião que tem a intenção de comprar o produto no mercado local e distribuí-lo para a população. No chamamento, dos 603 fabricantes habilitados, 308 são microempresas, 220 são associações e também se cadastraram 33 cooperativas e 42 empresas de todo o estado. Esse conjunto de inscritos possui mais de 6,3 mil máquinas de costura para confecção, com quase 10 mil costureiras e costureiros.

Ateliê de costura no sertão Um dos cadastrados para a produção é o Ateliê Corte e Costura Forte Severina, ligado ao Instituto Brasileiro de Expedições Sociais (IBES), localizado na zona rural de Canudos, no sertão baiano. Coordenadora do ateliê, Débora dos Santos conta que as 13 costureiras da instituição já produziram 500 máscaras de TNT que foram distribuídas para os municípios de Canudos, Uauá e Euclides da Cunha.

Depois desta produção inicial, as secretarias de saúde de Uauá e Canudos já solicitaram mais 5 mil máscaras cada. Desde que o equipamento passou a ser recomendado, as artesãs também venderam 400 peças para o povoado do Raso, onde trabalham, e também para comunidades vizinhas. Em média, cada mulher consegue produzir 40 máscaras, o que dá mais de 500 peças por dia. 

As máscaras são feitas com TNTs de gramatura que variam do 40g a 100g e são vendidas a R$ 0,98 para as secretarias de saúde. “Agora, com a falta de material no mercado, estamos usando mais as de 40g, mas fazendo testes e oferecendo máscaras de qualidade”, afirma a coordenadora. 

Para conseguir produzir mais e melhor, as costureiras pedem ajuda com materiais como o próprio TNT, linha, elástico e tesouras. Para não deixar de contribuir com a sociedade, a cada 10 mil máscaras vendidas, elas doarão mil peças para a cidade. Atualmente, o grupo também se dedica à produção de 200 aventais encomendados pela prefeitura de Canudos.

Com o aumento da demanda causada pelas recomendações das autoridades de saúde e dos decretos, outros tantos artesãos independentes do estado também começaram a fazer máscaras e viram nesta produção uma saída para superar o impacto que tiveram em suas atividades. Durante uma semana, de 20 a 27 de abril, um grupo de 50 artesãos do projeto Artesanato Referência da Bahia, que tem a parceria do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/Sebrae), conseguiu produzir cerca de 5 mil máscaras de tecido, faturando em torno de R$ 35,4 mil. Segundo o Sebrae, parte da produção é doada para comunidades, instituições e até mesmo familiares e amigos dos artesãos. 

Alguns destes produtores tiveram que se reinventar para encarar esse momento. Foi o caso de Joci Santos, 52, que trabalha com biscuit, modelagem e porcelana fria. Ela pediu uma máquina de costura emprestada a uma amiga, buscou tutoriais na internet e, em dois dias começou, a produção de máscaras. “Coloquei no perfil no WhatsApp e logo foram surgindo as demandas. Desde então, os pedidos não param de crescer”, diz.

Já a artesã Joelma Rocha, 48, trabalha com tecidos e a produção começou a partir de um pedido do filho. “Ele pediu que eu produzisse uma máscara para usar no trabalho. Chegando lá, um colega viu e também encomendou. Assim, a minha produção começou a se espalhar e, esse mês, consegui pagar as contas com a venda de máscaras”, conta Joelma.

Mas por que usar máscaras? Médica infectologista do Grupo Hapvida, Sílvia Fonseca explica que no início da pandemia de covid-19 era comum ver pessoas usando máscaras nos aeroportos e que, naquele momento, tinha-se a ideia de estar protegendo a si mesmo porque ainda havia dúvidas sobre a forma de transmissão do novo coronavírus, se era pelo ar ou por gotículas. Hoje, sabe-se que a infecção se dá por meio do contato direto com gotículas e secreções contaminadas. “Essas gotículas viajam um pouco e caem por gravidade. Quando se tosse, espirra, depois de um metro elas já caem no chão”, completa.

Por causa disso desse alcance, diversos países, como a China — no qual a Bahia se inspira —, adotaram a estratégia do uso das máscaras, que fornecem uma espécie de barreira que bloqueia a circulação do vírus. “Entendemos que o uso é para que a gente não passe o vírus para o outro, não é exatamente para nos proteger”, acrescenta a médica, que indica a utilização do equipamento principalmente para as pessoas que têm ido para os saques em filas bancárias e de retirada dos demais auxílios, onde há aglomerações.

“O objetivo da máscara não é proteger quem está usando, é deixar de contaminar. Quem está usando uma máscara está evitando emitir saliva e secreção respiratória no próximo. Se o próximo também estiver de máscara, também te protege e essa forma de proteção será mais eficiente quanto mais pessoas estiverem usando”, reforçou o secretário de saúde do estado, Fábio Vilas-Boas, durante o Papo Correria, transmitido pelas redes sociais. 

Como usar e quantas máscaras preciso ter? Embora não ofereçam uma proteção integral, as máscaras de tecido e TNT ajudam a reduzir a propagação do coronavírus. O próprio Ministério da Saúde recomenda que as pessoas façam suas próprias máscaras caseiras, basta que elas tenham pelo menos duas camadas de pano, cubram bem a boca, o nariz e sejam de uso individual. Ou seja, não pode dividir com ninguém. Se a máscara for de TNT, ela deve ser descartada após cada uso. O ministério indica que elas só podem ser usadas a cada 2h, mas se ficarem úmidas devem ser trocadas antes.

Use a máscara sempre que for sair de casa e, ao voltar, tire imediatamente e coloque de molho por 30 minutos em água com água sanitária. Depois, lave com água e sabão e ponha para secar. De acordo com a médica Sílvia Fonseca, o ideal é que as pessoas possam ter ao menos três máscaras laváveis. 

“É difícil dizer quantas máscaras uma pessoa deve ter porque precisa de uma higienização todos os dias e uma máscara de pano pode esgarçar quando vai lavando. Se tiver um furinho, tem que trocar porque aí já não será uma barreira. Se for de um tecido de algodão resistente, dura mais. Mas neste momento de pandemia, não devemos ficar saindo de casa. Só que como é preciso, por exemplo, comprar pão com frequência tem que usar, lavar e colocar para secar bem. As pessoas têm feito máscaras divertidas para usar e isso é interessante porque a gente tem que achar uma graça nesta situação que não tem graça nenhuma”, completa ela.