VIP: Maquiadora senior da MAC fala sobre beleza, carreira e autoconhecimento

"Você tem que se amar, ver do que gosta em você e descobrir como pode se valorizar. Se você não fizer isso, ninguém vai fazer por você", diz Fabiana Gomes

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  • Gabriela Cruz

Publicado em 27 de abril de 2017 às 06:00

- Atualizado há um ano

Fabiana Gomes, 42 anos, é maquiadora senior da MAC (Foto: Divulgação)Fabiana Gomes é boa de papo. Quem acompanha a maquiadora senior da MAC nas redes sociais e no divertidíssimo canal do Youtube Meu Glitter Minha Vida sabe bem disso. A gente aqui na VIP amou conversar com ela pra depois contar tudo a vocês nesta entrevista exclusiva. Fabi esteve ontem em Salvador ao lado da amiga e parceira de vídeo, Vanessa Rozan. A dupla de experts em beleza participou do Barra Fashion Days 2017. O encontro com o público aconteceu no UCI Oriente do Shopping Barra.

O que te fez deixar o Direito para se dedicar à maquiagem?Na verdade, o Direito foi uma segunda opção. A primeira, lá em Curitiba, foi o Teatro. Quando fui para São Paulo, deu vontade de voltar a estudar e entrei para a faculdade de Direito, mas nunca exerci. Foi quando a M.A.C. veio pro Brasil e eu já tinha uma relação com esse mundo por causa do teatro, não só com maquiagem, mas também com moda, produção. Comecei a trabalhar lá em 2002 e me apaixonei.Você é porta-voz de umas das marcas mais queridas pelas brasileiras. O que tem de mais fascinante em ocupar esse posto?Como porta-voz da MAC Brasil, eu faço várias coisas que eu gosto, como escrever, debater profundamente sobre beleza, contextualizar no conceito sociológico, fazer editorial de moda, de beleza, propor algo na maquiagem social. Acredito que a relação com a maquiagem não é só pintar o rosto. Maquiagem diz tanto, expressa tantas coisas, pode provocar. E isso é tudo que eu amo fazer: ser provocativa, estar em um contexto diferente. Tem dias que vou para o escritório. Em outros posso pegar um avião e ir para Paris trabalhar com os caras mais geniais da indústria da moda. É um trabalho fascinante acompanhar e entender tudo isso, dar aulas para maquiador, conversar, trocar ideia. Entender a relação que mulheres de diferentes culturas tem com a maquiagem. Também gosto muito do negócio, da indústria da beleza, desenvolvo as estratégias do departamento artístico, cuido do orçamento... é um trabalho bem redondinho, me completa, me ativa, me estimula de várias maneiras em várias vertentes. N0ão poderia trabalhar focada só num lugar.E como é sua rotina fora do trabalho?Administro as coisas como chinês equilibrando prato porque nem sempre você vai estar realizada em todas as áreas. Sou criteriosa com o que eu faço com o meu tempo. E aprendi a lidar com a culpa, me relacionar com ela. Tento sempre compensar: se eu fico muito tempo viajando, faço home office depois, vou buscar os meninos na escola (ela tem 2 filhos, de 8 e 11 anos). Eu acho legal ficar perto deles, trocar, conversar, levar pro cinema, pro Itaquerão ver o Corinthians. Não quero criar bundões. Nas viagens é mais difícil, antes era bem complicado, mas hoje, depois que entro no taxi e chego no lugar, paro de sofrer, me resigno e toco minha vida. Já participei uma vez de uma reunião de escola deles pelo Skype. Odeio perder esses ventos, como festa junina.O batom vermelho mate é sua marca registrada. Você acha que toda mulher tem que ter algo que a identifique na maquiagem?Isso não foi planejado, acabou acontecendo. Acho que toda mulher tem que ter segurança e não depender tanto de nada, não só de maquiagem, porque a gente acaba criando muita muleta pra ter segurança. Eventualmente saio sem meu batom vermelho. Não sou escrava dele, comecei a usá-lo por praticidade e porque ele é muito lindo e fica muito bem. É legar descobrir esses artifícios que te animam rápido, mas não pode criar uma dependência. É legal saber o que fica bem em você, isso vem com tempo.O que é mais bacana: falar para o público ou criar a beleza de um desfile?Gosto das duas coisas. A coisa mais difícil que tem é eu respeitar o tempo, porque eu gosto de trocar com as pessoas e quando a recepção está rica, o tempo é uma bobagem. Saio da experiência completamente diferente, mas eu gosto bastante das duas coisas. Gosto de fazer editorial também mas tem dias que, dependendo de como estou, são mais sofridos ou mais prazerosos.Qual a maior aposta da maquiagem que você fez e viu ganhar o público?Tenho bom faro pra isso, na verdade você vai desenvolvendo os canais, e realmente tem algumas coisas que eu noto que tem potencial. As coisas mais avant garde daqui cinco anos pra frente normalmente são o que você acha esquisito hoje. Eu sempre tive a tendência, até por ser provocativa, de repensar e tudo que as pessoas acham muito feio, medonho. Quando algo assim vai parar na capa de uma revista e tem um grupo mais outsider que abraça aquela coisa, aí uma atriz ou influencer incorpora aquilo, vira uma reação em cadeia. Até chegar no público final, demora, porque as tendências passam pelo crivo das celebridades, em tapetes vermelhos lá fora ou em novelas aqui. Tem algumas coisas, como o gloss, que pouco tempo atrás não tinha espaço já que só se falava do matte, voltou. Eu falei que ia volta e todo mundo torceu o nariz e fez cara feia.Tecnologia anda de mãos dadas com a maquiagem. Existe algum produto de beleza que revolucionou sua vida profissional nos últimos tempos?Tem algumas coisas, como as bases novas que são maleáveis, você manipula e consegue fazer uma pele natural sem ficar com um aspecto de massa corrida. Isso eu acho maravilhoso já que há pouco tempo não se via produtos fora da MAC com essas características. Não acredito muito em produto com efeito Cinderela, temporário. Acredito no produto que te oferece um benefício real.Existe uma beleza ideal?Existe a de cada pessoa bem revelada. Você pode ter ícones de beleza, mas não adianta querer ser aquela pessoa. Parece demagogia, mas você só aprende depois de velha a começar a se revelar, sacar que não vai adiantar mudar.  Você não é obrigada a se sentir bem o tempo todo, é uma luta diária. Você tem que se amar, ver o que gosta em si e como pode valorizar isso. Se você não fizer isso, ninguém vai fazer por você.A maquiagem pode ser usada para empoderar uma mulher?Totalmente, quando ela é bem usada. Não gosto da maquiagem que esconde a mulher, a não ser quando ela se caracterizar de uma personagem.

Como surgiu a ideia do canal no Youtube “Meu Glitter, Minha Vida” com Vanessa Rozan?A gente é amiga há 15 anos e é com os amigos que você fala suas melhores coisas e todo mundo ri. Um dia, tava lavando louça em casa e tive a ideia do canal. Pensei: a gente é amiga, trabalha com maquiagem, tem uma puta experiência e as crenças são muito parecidas. Nos últimos anos, os canais de tutorial de maquiagem cresceram no Youtube. Você acha que eles ajudaram a familiarizar as mulheres com o universo da beleza?A brasileira tinha uma relação distante com a maquiagem. Tinha medo de errar. Eles ajudaram muito nessa aproximação. O que eu acho questionável são os padrões. Como o de ter que afinar o rosto, contorná-lo pra ele ficar com forma oval. Não tou falando nem de técnica, mas da obrigação. Tem alguns vídeos que são de caracterização, quando você transforma uma pessoa e é muito legal pro teatro, mas na vida real é bom tomar cuidado para você não virar uma personagem todos os dias.