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Da Redação
Publicado em 16 de maio de 2022 às 07:53
Ignorados durante o fluxo acelerado das grandes cidades, os garis ganharão nesta segunda-feira (16), no Dia dos Garis, o protagonismo tão relegado pela população. A Empresa de Limpeza Urbana de Salvador (Limpurb) preparou a mostra itinerante “Gigantes”. Seis caminhões compactadores e plotados com 12 artes fotográficas dos garis circularão pelos bairros de Salvador a fim de celebrar a data comemorativa evidenciando os profissionais. A exposição que começa hoje também estará aberta ao público no Shopping da Bahia até 31 de maio. >
Gari há cinco anos, Taiane Carvalho trabalha realizando a limpeza das faixas de areia no Rio Vermelho. A soteropolitana de 30 anos afirma que a invisibilização da classe tem diminuído. “Ainda existe sim o preconceito. Só que hoje eu acredito que seja menos. Existe aquelas pessoas que desmerecem a nossa profissão. Mas hoje as pessoas passam por mim e falam que o nosso trabalho é indispensável, que a cidade precisa”, conta. >
Varredora em Santa Mônica, Elaine Oliveira, de 41 anos, está cursando administração e pretende seguir na área de gestão. Reconhece, porém, que trabalhar como gari a fez ver “o outro lado da história”. Na profissão, aprendeu a importância dos pequenos gestos de boas maneiras, a exemplo de desejar “bom dia”. Segundo Elaine, atos como esse podem fazer a diferença no dia a dia de um trabalhador. Em especial naqueles que são invisibilizados. >
“Teve um encontro no Dia Internacional da Mulher que eu gostei muito. Um desfile, um pouco antes da pandemia, na Praça da Sé. Fizeram questão que uma gari [Elaine] estivesse bem vestida como gari e bem maquiada para representar as mulheres do Brasil. Nesse dia me senti tão especial dentro da função, me senti vista, valorizada”, celebra a soteropolitana. "Tem pessoas que passam e não querem nem [nos] olhar. Outras elogiam o trabalho. Diz que o trabalho da gente tem valor, levanta a autoestima da gente", conta.Ela, no entanto, reclama sobre o machismo na profissão. Por muitas atividades precisarem de força ou resistência física, Elaine desabafa que os homens questionam a capacidade feminina de realizar as tarefas. Outra questão são os assédios sofridos na rua. "Tem homens que acham que podem mexer por ser uma trabalhadora de rua. A mulher tem que se impor, mostrar que está ali para trabalhar e não para estar sofrendo qualquer tipo de cantada, abuso”, protesta. >
Para Rafaela de Assis, agente de varrição, a realidade feminina se expressa de uma outra forma. Com o sonho de ser modelo, a jovem de 23 anos conta que é cuidadosa com a imagem. Sempre que possível vai ao trabalho com o cabelo bem tratado e maquiada. “As unhas eu faço às vezes sim, às vezes não, porque é grande e incomoda um pouco [durante] o trabalho”. "Eu sempre gostei de ser modelo, ser gari foi uma opção. Mas eu amo, tenho orgulho", diz. Importância do gari “Para mim, eles são verdadeiros heróis. São homens e mulheres que, faça chuva ou sol, estão lá, trabalhando de forma digna, não apenas para manter a limpeza da cidade. Mas contribuindo diretamente para a saúde e bem-estar de toda população”, destaca o Secretário de Ordem Pública e presidente da Limpurb.>
As contribuições da classe para a população vão além da limpeza da cidade, que torna a vivência mais confortável e atrativa para moradores e turistas. Mas também são uma questão de saneamento, saúde pública e preservação. >
“[No] meu serviço, todos os resíduos, tudo que se encontra na areia, no calçadão termina indo pro mar. Através desses espaços a gente encontra animais mortos com tampinha de garrafa na boca, presos em rede, com plástico. Tudo que fica na fachada na areia vai para o mar. Se não tivesse essa limpeza diariamente, como estariam os mamíferos no mar?”, indaga Taiane. >
Segundo dados da Limpurb, os agentes de limpeza recolhem uma média diária de 2,7 mil toneladas de resíduos domiciliares e 2,4 mil toneladas de restos da construção civil. Para realizar a limpeza em Salvador e também nas Ilhas é necessário o suporte de mais de 4 mil profissionais que atuam realizando diversos serviços, como lavagem, varrição de praias e vias, capinação e coleta.>
Apesar da atividade ser efetiva na limpeza da cidade, o operador de roçadeira e gari há 10 anos, Joilson da Silva, faz um alerta. “Quando se fala em limpeza urbana tem que envolver toda a sociedade em massa. A gente faz a nossa parte. Mas a sociedade também precisa fazer a dela”. *Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo>