"Muito chateado", diz patrão de caseiro que matou garoto de programa; crime chocou vizinhança

O caseiro e o garoto de programa se encontraram pela primeira vez algumas horas antes do crime, na rodoviária de Salvador

  • Foto do(a) author(a) Alexandre Lyrio
  • Alexandre Lyrio

Publicado em 16 de fevereiro de 2016 às 07:32

- Atualizado há um ano

Um funcionário de confiança, um homem tranquilo, um sujeito prestativo. Os que conhecem de perto o caseiro Erivaldo Nascimento dos Santos, 30 anos, levaram um susto quando souberam do que aconteceu entre a noite de sábado e a madrugada de domingo. Erivaldo matou, com um golpe de estilete na nuca,  um homem ainda não identificado, apontado como um garoto de programa, com quem o caseiro teria acertado um encontro por R$ 80. O crime, que aconteceu por volta das 23h50 de sábado, causou alvoroço na tranquila Rua Timbó, área nobre da cidade, bairro do Caminho das Árvores. Apresentação de Erivaldo ontem na sede do DHPP, na Pituba; antes do crime, ele bebeu cerveja com vítima(Foto: Arisson Marinho/CORREIO)Ontem, a casa 184 ainda tinha manchas de sangue nas escadarias da frente e nas paredes. Erivaldo apenas toma conta da casa, que está vazia e à venda há seis anos. Há oito, o caseiro trabalha no local. Segundo disse à polícia o vigia noturno de uma obra ao lado da casa, tudo foi motivado por um acordo que o caseiro e a vítima fizeram para um programa no valor de R$ 80. Ao final do programa, Erivaldo teria desembolsado apenas R$ 44, o que irritou o rapaz. Quando tentava ir embora com um aparelho de DVD, um relógio e um celular do caseiro, o michê foi atingido. “O vigia conta que Erivaldo chamou ele dizendo que um ladrão havia entrado na casa. Mas a própria vítima contou ao vigia que eles haviam acertado um programa e estava levando as coisas porque o acordo não foi cumprido”, explicou a delegada Mariana Oais, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).  Encontro na rodoviária O caseiro e o garoto de programa se encontraram pela primeira vez algumas horas antes do crime, na rodoviária de Salvador. Depois de tomar cerveja juntos, seguiram para o local de trabalho do caseiro. “O autor costuma ir na rodoviária tomar cerveja e angariar parceiros sexuais. Ele mesmo confirmou isso”, disse a delegada.  Ao ser apresentado à imprensa ontem, Erivaldo confirmou que é homossexual e admitiu que levou a vítima para casa com a intenção de se envolver sexualmente. Mas, ao chegar, conta Erivaldo, o rapaz já foi pegando os pertences na casa. “Na rodoviária, ele me pediu uma cerveja e eu paguei. Aí ele me pediu um lanche. Como eu não tinha dinheiro, chamei ele lá para casa. Quando ele acabou de entrar, disse que não foi atrás de comida. Ele queria roubar”. Erivaldo disse não se lembrar do nome da vítima. “Na verdade, ele nem disse o nome, só um apelido. Mas eu não me lembro”. O caseiro disse também que o rapaz chegou a revelar que era de Aracaju e, de vez em quando, vinha a Salvador para passear. Aos jornalistas, além de negar o acerto do valor, o autor do crime disse que foi ameaçado pela vítima com uma faca. “Ele veio para cima de mim. Eu não queria fazer isso. Fiz para me defender. Nunca fiz nada de mal a ninguém”, destacou Erivaldo, que matou o garoto de programa com apenas um golpe. “Ele veio com uma faca e eu meti o estilete. Se eu tivesse a intenção de matar, tinha dado vários golpes nele. Só dei um e pensei que ia pegar no braço. Quando vi aquele mundo de sangue, saí correndo”.  Foi na apresentação que o assassino pediu desculpas à família da vítima e a seu patrão, proprietário do imóvel. “Peço desculpas à família dele. Não tinha essa intenção”, repetiu Erivaldo. “Peço desculpas também a meu patrão. É muito difícil falar porque meu patrão é um homem muito honesto e toda a vida gostou de mim”. O CORREIO ligou para o proprietário da casa 184, mas ele preferiu o silêncio. “Estou muito chateado. Não quero dar declaração”.

[[saiba_mais]]Vizinhos surpresosNão há qualquer indício que mostre que o caseiro é um homem perigoso. Sem passagem pela polícia, na Rua Timbó, Erivaldo é tido como um ótimo funcionário e um sujeito muito tranquilo. Vizinhos mostravam surpresa ao saber do envolvimento dele em um homicídio. “Não entendi nada. Cuidava da casa há anos e fazia biscate. Um cara tranquilo”, disse o zelador de um prédio em frente à casa. “Eu conversava com ele todo dia. Tranquilo e muito discreto. Não sabia que ele é homossexual”, afirmou um funcionário da obra ao lado. Os próprios policiais militares chamados ao local prenderam o autor do crime facilmente. “Eu mesmo abri o portão e me entreguei”, disse Erivaldo.

‘Ele correu para o meio da rua pedindo ajuda’, conta vizinha O CORREIO localizou uma das vizinhas que chamaram a polícia e assistiram quase tudo da sacada de seu prédio. “A gente tava assistindo televisão quando ouviu os gritos. Chegamos na varanda e vimos um rapaz todo ensanguentado pedindo socorro. O caseiro saiu da casa dizendo que era um assalto”, conta a mulher, que mora no prédio bem em frente à casa. A cena do rapaz pedindo socorro com a mão no pescoço, sem que ninguém fizesse nada, chocou a mulher. “Ele gritava que estava ferido e tinha sido esfaqueado. Acenou pedindo socorro e foi para o meio da rua parar alguns carros. Quando a polícia chegou, estava no chão, mas ainda respirando”, relatou. Os PMs acionaram o Samu, mas o rapaz já chegou no Hospital Geral do Estado (HGE) sem vida. O comandante da 35ª Companhia Independete de PM (Iguatemi) conta que o autor estava dentro da casa chorando na hora do flagrante. “A polícia foi chamada para conter uma briga e quando chegou era um homicídio. O curioso é que o caseiro ficou o tempo todo no local do crime. Me parece que não tem índole de assassino”, disse o major Robson Souza. 

Assista ao caseiro recontando o crime (vídeos por Alexandre Lyrio):

Assista um depoimento da vizinha: