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Fenômeno ocorre todo Inverno no local, mas frequentadores apontam que está mais intenso
Da Redação
Publicado em 27 de julho de 2019 às 06:45
- Atualizado há um ano
A areia da Praia do Buracão, no Rio Vermelho, desapareceu. Parece magia ou brincadeira, mas é verdade. É que a força do mar deixou a beira-mar “no osso” - como os vendedores locais chamam quando as pedras ficam à mostra.
Quem frequenta o local não se assusta com o fato, já que ele costuma se repetir todos os anos, sempre quando o Inverno chega. Apesar disso, o barraqueiro Hugo Santana, 52 anos, garante que tem uns 20 anos que o fenômeno não acontece de forma tão intensa.
“Tenho 15 anos trabalhando aqui, mas conheço a praia há mais tempo. Isso sempre acontece, mas essa maré, com essa frente fria, castigou demais a praia”, contou o vendedor, que disse ter levado um susto quando viu que a praia amanheceu sem areia. Segundo o barraqueiro, o fenômeno começou na semana passada.
Hugo tem razão: a areia da praia se esvai por "culpa" da maré. Segundo explica o oceanógrafo, Bruno Scherr, diretor de pesquisa e desenvolvimento da startup baiana i4sea, o fenômeno acontece porque a força dos ventos provoca uma agitação no mar, o que gera ondas. Essas ondulações mais fortes se propagam até chegar à costa, onde batem na areia e, com bastante força, arrastam o sedimento para o fundo do mar. Pedras ficaram à mostra na Praia do Buracão (Marina Silva/CORREIO) O oceanógrafo explica que é no Inverno que as ondas têm uma energia maior, já que a ocorrência de ventos e chuvas aumenta. Nesta semana, por exemplo, a agressividade do mar gerou danos à cidade, como destruição de píeres, danos em imóveis à beira-mar e crateras na Orla. E, como desta vez a ressaca marítima foi mais forte, também é normal que uma maior quantidade de areia tenha sido levada.
No preju Com o sumiço da areia, os vendedores perderam grande parte do seu local de trabalho. Na Praia do Buracão resta apenas uma ínfima faixa de areia, o que deve gerar um prejuízo de R$ 2 mil por semana para Hugo.
O local está cercado por paredões - casas e prédios - e até mesmo varandas. No condomínio Terrazzo Rio Vermelho, por exemplo, o mar adentrou o play no último sábado, levando lixo para dentro do local. A piscina com borda 'infinita' do imóvel, que fica de frente para o oceano, também teve o vidro de proteção destruído, mas ninguém ficou ferido.
Moradores e comerciantes O prejuízo até assustou, mas as pedras, não. Frequentador assíduo da Praia do Buracão, o tatuador Lucas Sepúlveda, 29, já sabia que seus pés pisariam em pedras, não em areia neste Inverno. “Esse fenômeno já aconteceu algumas vezes. A maré desce, a areia se esvai e as pedras sobem. Mas todo ano parece que agrava um pouco mais”, observou.
Vendedores da região têm a mesma impressão do tatuador. Segundo o gerente do Blue Praia Bar, Jair Silva, nunca o fenômeno foi tão intenso. “Isso começou no início de julho, lentamente, até que em uma semana veio mais forte”, contou.
A observação faz sentido. Segundo o diretor de pesquisa e desenvolvimento da startup i4sea, como a causadora da retirada de areia é a maré, é natural que o processo seja mesmo aos poucos, até que as pedras fiquem à mostra.
“É a terceira vez que tem uma grande ondulação, uma grande ressaca. Com os três eventos, a praia foi sendo desgastada aos poucos. O último, que foi muito intenso, terminou de tirar a areia”, esclareceu. Frequentadores observam a força da maré (Marina Silva/CORREIO) Quando ela volta? Assim como a areia some, a maré também se encarrega de trazer o sedimento de volta para cobrir as pedras. Jair, que está no seu terceiro Inverno no restaurante, sabe que o cenário voltará ao normal, mas mesmo assim admite que ficou assustado.
“Esse trecho no quebra-mar tinha mais areia, mas esse ano ela foi toda embora. Mas sei que a maré traz a areia novamente”, disse.
Bruno Scherr confirma. “É cíclico, o transporte ocorre tanto do norte e sul, quanto da região submersa para o raso. O sedimento retirado vai para o fundo do mar e, depois, quando a energia diminuir, é transportado pelas ondas menores de volta para a costa”, garantiu.
A i4sea aponta que a agitação do mar deve se manter constante nos próximos dias, mas com uma redução na altura das ondas, de 2 metros para 1,5 metro, até domingo (28). Acompanhando a redução da ressaca, o vento permanece intenso na madrugada deste sábado (26), mas perde força durante o final de semana, quando deve se manter entre 18,52 km/h e 27,78 km/h.
Isso não significa, no entanto, nenhum alerta para os banhistas. Todos os alertas para a população são emitidos exclusivamente pela Marinha do Brasil e podem ser consultados no site oficial ou nas redes sociais oficiais das Forças Armadas.
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro