Bahia lidera número de mortes de homens jovens no Brasil, diz IBGE

Dados são de homicídios, suicídios, acidentes de trânsito e outros

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  • Da Redação

Publicado em 14 de novembro de 2017 às 10:03

- Atualizado há um ano

. Crédito: Mauro Akin Nassor/Arquivo CORREIO

A Bahia foi o estado brasileiro que teve o maior registro de mortes de homens jovens - entre 15 e 24 anos - no ano passado, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ao todo, 3.394 jovens perderam a vida por causas externas - a exemplo de homicídios, suicídios, acidentes de trânsito, afogamentos, quedas acidentais etc. Em todo país, foram 26.989 mortes nessa faixa etária. Os dados fazem parte das Estatísticas do Registro Civil de 2016 e foram divulgadas nesta terça-feira (14).

Em dez anos, de acordo com o IBGE o número de baianos jovens mortos quase triplicou e passou de 1.251 para 3.394 entre 2006 e 2016. Com isso, o crescimento foi de 171,3%, o maior entre os estados - a Bahia ultrapassou São Paulo e chegou à liderança nacional.  Ainda segundo o instituto, as mortes de jovens por causas externas cresceu 13,4% entre 2006 e 2016, passando de de 23.792 para 26.989. Dos 3.197 homens jovens a mais que morreram por causa externas no país nesse intervalo de tempo, 2.143 mortes (67%) aconteceram na Bahia. 

Em 2006, São Paulo tinha o maior número absoluto de jovens mortos por causas externas, com 5.055, e a Bahia era o sexto no ranking, com 1.251 mortes. Agora, o estado teve uma redução de 36,5%, e tem 3.208 registros de mortes de homens jovens por causas externas, enquanto a Bahia passou a líder, com 3.394 jovens mortos. 

Apenas 10 estados conseguiram reduzir esse número: São Paulo (-36,5%), Espírito Santo (-30,7%), Mato Grosso do Sul (-25,8%), Paraná (-25,7%), Rondônia (-22,9%), Distrito Federal (-21,9%), Rio de Janeiro (-16,4%), Santa Catarina (-11,6%), Pernambuco (-4,2%) e Minas Gerais (-0,7%). 

A Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) ressaltou que os dados divulgados pelo IBGE não registram apenas mortes relacionadas à violência. O órgão afirmou que, dos 3.394 jovens mortos, 70% estão relacionadas ao envolvimento com o tráfico de drogas.

“A SSP reforça a importância do envolvimento de todos os poderes e da sociedade civil organizada no resgate dos jovens do mundo das drogas e, principalmente, na conscientização e educação das crianças e adolescentes, sobre os perigos que envolvem o consumo e a alimentação das quadrilhas de venda de entorpecentes, principais responsáveis por essas mortes”, diz nota enviada ao CORREIO.

A SSP-BA ainda afirma que realiza um “trabalho intensivo de captura dos responsáveis por crimes”, além de ações sociais como o Programa Educacional de Resistências às Drogas e à Violência (Proerd) e projetos nas Bases Comunitárias de Segurança, “oferecendo lazer, esporte, educação e conhecimento em localidades carentes de serviços básicos e comumente utilizados pelo tráfico de drogas para a conquista dos jovens”.

A ONG Reaja ou Será Morto, Reaja ou Será Morta afirma que a incidência de morte de jovens no estado, no entanto, deve-se a uma "omissão" ou à "ação direta" do estado. “O governo fracassou em todos os seus projetos e é responsável direto por todas essas mortes. Não há um suporte para as comunidades socialmente afastadas. Os próprios agentes de segurança pública, em serviço ou até mesmo fora de serviço, atuam com o auxílio da impunidade assassinando pessoas”, criticou o o coordenador da ONG, Hamilton Borges.

“A gente chegou a ter 12 jovens assassinados em uma semana no Nordeste de Amaralina esse ano. Sem nem falar no Caso do Cabula. Nós temos graves violações de direitos humanos pela nossa polícia”, afirmou.

Para Borges, o número de mortes só irá reduzir com a criação de um programa de segurança pública efetivo pela SSP-BA. “Quando o governo diz que 70% vem do tráfico, o governo está dizendo que a sua perspectiva de segurança pública é fracassada”, criticou. Borges ainda defende a desmilitarização, uma “civilização” da polícia e ações da Polícia baseadas nos direitos humanos.

O superintendente da Transalvador, Fabrizzio Muller, comentou sobre os dados de Salvador, ressaltando que a capital baiana tem reduzido o número de mortes em acidentes de trânsito nos últimos anos, diferente da situação da Bahia. Para ele, o motivo da diminuição é a fiscalização mais intensa na cidade. “A gente tem a certeza de que isso é reflexo de ações que estão sendo tomadas desde 2013, como controle de alcoolemia e radares. A população se sente mais vigiada e com isso tende a ser mais prudente. São ações permanentes, não pontuais, nem esporádicas e isso cria no cidadão uma cultura de respeito às normas”, pontua.

A Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) e o Departamento Estadual de Trânsito (Detran) não comentaram os dados.