Cidadãos cuidam da natureza por iniciativa própria em Salvador; veja como ajudar

As atitudes dos cidadãos refletem um conceito da biologia no que diz respeito ao uso dos ‘serviços ecossistêmicos’

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  • Da Redação

Publicado em 5 de junho de 2017 às 06:50

- Atualizado há um ano

Existem contas que chegam todos os meses nas portas das casas para garantir a manutenção de serviços básicos como telefone e internet; há outra, simbólica, e de dimensão universal que recai sobre o uso que fazemos do meio ambiente. É preciso pouco para percebermos o custo de ter um ar ou uma praia poluída. Afinal, a saída para o estresse do dia a dia está em uma caminhada pela areia da praia, um mergulho no mar, em respirar o ar puro debaixo de uma árvore plantada em um dos parques da cidade. A natureza compartilha com todos seus benefícios e exemplos não faltam das razões pelas quais esta dívida é de cada um, cidadão, produtor rural, industrial, poder público. Pedro Oliveira, 78 anos, é um dos voluntários que cuidam e se utilizam da horta comunitária que tomou lugar de um terreno baldio na Avenida Paulo VI, no bairro da Pituba (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO)Em Salvador, há quem tenha a iniciativa de acertar a dívida ambiental sem que haja cobrança formal. Há 6 meses, quem passava pela avenida Paulo VI podia ver, escondido atrás de dois outdoors, pilhas de entulho: máquina de lavar roupas, aparelho de ar condicionado e latas de tinta. A partir da iniciativa do comerciante Wilson Brandão, 55 anos, as cinquenta toneladas do lixo que demorariam centenas ou milhares de anos para desaparecer foram removidas e atualmente a área, de utilidade pública e 2,1 mil metros quadrados deu espaço para uma horta comunitária. Brandão idealizou o projeto Hortas Urbanas de Salvador. 

Morador da região, o comerciante há um bom tempo já pensava em colocar a ideia em prática. “São uns 35 anos de acumulação de entulho. Tudo de ruim estava lá: lixo, rato, mosquito”, lembra. O primeiro passo foi entrar em contato com a Secretaria da Cidade Sustentável e Inovação (Secis) para a liberação do lugar. Com a aprovação, toda a área foi limpa e em pouco tempo as plantas - que vão de hortaliças e verduras até árvores frutíferas - começaram a ser cultivadas por voluntários.

QuintaisNo mesmo time dos que pagam a conta sem cobrança está a artesã Rita de Ribeiro, 55. Ela sonhava com os quintais do bairro Santo Antônio Além do Carmo repletos de hortas e pomares. Há um ano, ela e duas amigas, Meire Cabral e Ana de Morais, tomaram uma decisão coletiva: ocupar os quintais ociosos na região.

Hoje, seis deles já têm desde pé de andu e maracujá a couve. “A ideia é que a gente tenha produção. Se mais pessoas abraçarem o projeto Dus Quintais, teremos uma feira de troca e venda”, afirma Rita. A artesã diz que acredita que a prática também é uma forma de ser mais sustentável. "Os quintais estão sendo ignorados. Se conectar a eles é despertar uma memória afetiva. Da mesma forma que à ideia de, ao invés de comprar, colher do quintal".

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As atitudes dos cidadãos refletem um conceito da biologia no que diz respeito ao uso dos ‘serviços ecossistêmicos’. “São os serviços que a natureza presta pra gente, mas que não demos conta. E no momento em que não a respeitamos, a qualidade deles é afetada. É preciso entender que cada um tem papel importante e afetar uma abelha, por exemplo, pode  desencadear em reações maiores”, explica o professor e diretor do Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Francisco Kelmo. 

Nem toda árvore pode ser plantada em Salvador

Reza a lenda que existem três coisas que devem ser feitas antes de morrer e uma delas é plantar uma árvore. Gustavo Surlo, 21 anos, estudante de Biologia em Salvador, realizou a meta cedo, aos 6. A mangueira cultivada por ele em Itamaraju, Extremo Sul do estado, foi a primeira de muitas e hoje divide o quintal com pé de goiaba, acerola e tangerina. 

Mas há diferenças entre plantar em quintais e em áreas urbanas. André Fraga, secretário da Cidade Sustentável e Inovação de Salvador (Secis) orienta que a interferência de cidadãos na paisagem urbana exige determinadas precauções. 

"Não se pode plantar uma árvore em qualquer lugar e nem de qualquer espécie", diz. Segundo André, isso pode gerar desde rachaduras em calçadas e a constante queda de folhas podem entupir o sistema de drenagem. 

Para quem tiver interesse em plantar uma árvore ou uma espécie vegetal de menor altura, o primeiro passo é procurar a Secis para receber orientações técnicas. 

A secretaria tem a previsão de lançar, em até dois meses, o Manual Técnico de Arborização Urbana, com a especificação de parâmetros técnicos para quem quiser contribuir com o meio ambiente urbano e planta árvores e outras plantas pelas áreas da cidade.

Dicas de como ser um cidadão em dia com a naturezaLixo Sempre que sair de casa e estiver em ambiente público, guarde o próprio lixo consigo até localizar um local adequado para deixá-lo.

Passeio com pets  Ao sair com os animais de estimação, preocupe-se em recolher as fezes. Há, inclusive, lixeiras específicas  para isso, os ‘Pet Stop’ em parques, na orla e  outras  regiões da cidade.

Água  Atente-se às instalações em casa e evite vazamentos. No dia a dia, fuja do desperdício e use balde quando for lavar o carro e as calçadas.

Energia Elétrica  Ao sair dos ambientes, lembre-se de desligar as lâmpadas. Economize energia desligando os equipamentos que ficam em stand by.

Consumo sustentável   Compre o produto quando realmente precisar. Evite consumir desefreadamente, pois  a cada item comprado  há mais lixo agregado, desde a embalagem ao próprio  objeto

Descarte corretamente  Equipamentos eletrônicos podem ser fatais para determinadas espécies e são um risco à natureza. Há pontos de coletas na cidade, inclusive dos próprios fabricantes, onde é possível descartar os produtos.

Na ida a praia  Lembre-se que outras pessoas irão usar o espaço e que poluir à praia, além de atrapalhar a diversão, faz com que os animais que vivem nos oceanos sejam impactados.

Construções sustentáveis  Ao comprar um empreendimento, verifique as instalações e se a empresa é responsável com o meio ambiente. Outra dica é optar e incentivar a construção de jardins no topo dos empreendimentos.

Hortas  As hortas comunitárias são uma opção para quem quer fugir dos agrotóxicos e ainda quer contribuir  para o meio ambiente.

Jardineiras  Manter um espaço no apartamento ou casa para as plantas é um modo de colaborar com a manutenção de espécies.

Doe  Uma forma de frear o consumo e incentivar a prática saudável é a de doar o que não é mais usado para outra pessoa. Com as doações, evita-se a compra e a produção de mais lixo.