Cientistas descobrem 12 novas espécies de esponjas; cinco no mar da Bahia

As espécies foram identificadas no Arquipélago de Abrolhos

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  • Thais Borges

Publicado em 18 de outubro de 2017 às 07:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: André Bispo/ Divulgação

O que lhe vem à mente quando pensa em uma esponja marinha? Talvez muita gente só se lembre do desenho animado Bob Esponja. Mas esses animais – os mais antigos do planeta – são bem mais do que a inspiração para um personagem: elas têm funções que vão desde a purificação da água do mar até a fabricação de fármacos. 

É por isso que a descoberta de 12 novas espécies de esponjas é tão importante – e pelo menos cinco delas estão em águas da Bahia. O estudo, fruto de uma pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, foi publicado em agosto na revista científica Zootaxa.  A esponja Clathrina lutea é uma das espécies novas descobertas na Bahia (Foto: André Bispo/ Divulgação) Na Bahia, as novas espécies foram encontradas no Arquipélago de Abrolhos - o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos criado em 1983, na cidade de Caravelas, Extremo-Sul do estado. Além disso, outras esponjas foram identificadas no Arquipélago de São Pedro e São Paulo (PE), no Arquipélago de Fernando de Noronha (PE), em Atol das Rocas (RN) e na Ilha da Trindade (ES).

“Essa descoberta indica que o estado atual do conhecimento sobre a fauna de esponjas calcárias no litoral brasileiro ainda está bastante subestimado e que a ilhas oceânicas e costeiras são áreas com uma biota ainda pouco estudada, apesar de serem áreas de grande interesse econômico, estratégico e científico”, explica a líder da pesquisa, a bióloga e pesquisadora Fernanda Azevedo, do Laboratório de Biologia de Porifera da UFRJ, em entrevista ao CORREIO.

De acordo com ela, atualmente, 77 espécies de esponjas calcárias são conhecidas em todo o litoral do Brasil, mas a expectativa é de que esse número seja duplicado com o aumento de esforço de coleta em áreas nunca investigadas ou pouco amostradas.

Desde 1997 As pesquisas que levaram à descoberta das 12 novas espécies começaram há 20 anos: no material examinado, há um espécime coletado em 1997. Ao todo, participaram pesquisadores não apenas da UFRJ, mas de instituições como o Museu Nacional (MNRJ), do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. 

“Este não foi um estudo contínuo ou com o propósito de monitoramento de longa duração. O material estava disponível na coleção (de Porifera da UFRJ) para estudo, porém parte dele já havia sido objeto de estudo da tese de doutorado do pesquisador Fernando Moraes em 2006, o que já indicava várias possíveis espécies novas”, diz Fernanda.

Uma das espécies novas que já despontavam desde aquela época era justamente uma das esponjas ‘baianas’ –  a Clathrina lutea. Além disso, a Clathrina aurea foi registrada pela primeira vez. Agora, há, ainda, as espécies Leucascus sp. nov., Amphoriscus sp. nov. e Grantia sp. nov. Além disso, foi detectada a presença da espécie australiana Clathrina luteoculcitella, confirmada através de abordagens morfológicas e moleculares. A esponja Clathrina luteoculcitella, original da Austrália, foi localizada no litoral baiano (Foto: André Padua/CORREIO).         Segundo Fernanda, as esponjas desempenham muitas funções nos ecossistemas marinhos. Além de purificar a água do mar com o processo de filtração (retendo partículas de vírus e bactérias e substâncias tóxicas) e de gerarem moléculas para produção de fármacos, as esponjas são bioindicadoras da qualidade da água. “Elas servem de moradia para vários outros organismos, desde o micro ao macro, sendo consideradas hotéis vivos e apresentam  participação efetiva na ciclagem de nutrientes nos ecossistemas de recifes de corais”.