Com praias badaladas, cidade baiana é 'rebaixada' e perderá recursos

Camamu perde posição no Mapa do Turismo; estrada local recebeu R$ 37 mi em 2009

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  • Da Redação

Publicado em 1 de março de 2018 às 05:40

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Prefeitura de Camamu/Divulgação

Apesar de registrar aumento de 40% no fluxo de turistas, de 2017 para 2018, quando recebeu entre final de ano e Carnaval mais de 150 mil visitantes, a cidade de Camamu, Sul da Bahia, foi rebaixada de categoria pelo Ministério do Turismo em um ranking nacional que mede o desempenho econômico dos municípios brasileiros no setor.

Fundado em 1562 às margens do Rio Acaraí, Camamu, com 36 mil habitantes, fica na Costa do Dendê e é porta de entrada para a Baía de Camamu, Taipu de Fora e Barra Grande (pertencentes a Maraú, cidade vizinha) e caiu da categoria C para a D, o que na prática significa direito a menos verba para eventos patrocinados pelo Ministério do Turismo. Banhistas em piscina natural de Taipus de Fora; praia pertence a Maraú, mas para chegar turista parte de Camamu (Foto: Divulgação) Já 17 cidades da Bahia registraram crescimento pelo setor, a exemplo de Lauro de Freitas, Mucugê, Santa Cruz Cabrália e Teixeira de Freitas (leia abaixo).

O ranking que vai de A a E, apresentado em um 'Mapa do Turismo' que pode ser acessado online, mostra a Bahia com 150 cidades: 4 com classificação A – Salvador, Porto Seguro, Cairu (com Morro de São Paulo) e Mata de São João, com Praia do Forte – e as demais com B (19 cidades), C (31), D (85) e E (11 municípios).

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Segundo a portaria 39/2017 do Ministério do Turismo, somente municípios classificados entre A e D podem pleitear apoio a eventos geradores de fluxo turístico. Nas categorias A, B e C, o teto é de, respectivamente, R$ 800 mil, R$ 500 mil e R$ 400 mil, que têm de ser gastos em dois eventos que não ultrapassem a metade do teto.

Cidades da categoria D recebem R$ 150 mil para um único evento. Além de Camamu, foram rebaixados para a categoria D os municípos de Amargosa, Dias D'Ávila, Maragogipe, Saubara e Simões Filho.

Empregos Coordenador-geral de Mapeamento e Gestão Territorial do Turismo, do Ministério do Turismo, Leonardo Riul disse que a queda de categoria de Camamu se deu devido a redução de empreendimentos de hospedagem (de nove para três) e de empregos formais nesses empreendimentos – caiu de 25 para sete postos de trabalho.“Mas isso não significa que a cidade não terá investimentos para infraestrutura. Estando dentro do orçamento e o projeto sendo aprovado, o Ministério do Turismo pode enviar recursos para que a cidade desenvolva o setor”, declarou Riul, avisando em seguida que a pasta passa por “contingenciamento de verbas”.Os dados, informa o Ministério do Trabalho, são referentes ao ano de 2017, quando 747 estrangeiros passaram pelo município que foi o maior produtora de farinha de mandioca do Brasil na época colonial e, assim como Salvador, é dividido entre cidade baixa e alta, de onde se avista a Baía de Camamu, terceira maior do país.

Leonardo Riul reconhece que Camamu teve melhoria no fluxo de turismo, mas destaca que os dados que baseiam a pesquisa do Ministério do Turismo são coletados junto ao Ministério do Trabalho, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e a consultorias contratadas pelo ministério para avaliar a demanda de turistas.

A Secretaria Municipal de Turismo de Camamu discorda dos dados do Ministério. Afirma que possui cerca de 600 leitos de hospedagem em oito pousadas e um hotel dentro da cidade, outras quatro pousadas na Ilha Grande, além de cerca de 40 bares e restaurantes na cidade e nas dezenas de ilhas da Baía de Camamu.

O setor de hospedagem, diz a secretaria, gera cerca de 50 empregos, e a rede do turismo ao menos 300, contando com estabelecimentos da cidade, das ilhas e dos empregos em lanchas e escunas, que transportam até 140 pessoas por passeio, com preço que varia de R$ 35 a R$ 40.

Sem vida noturna Moradores da cidade que atuam no setor do turismo disseram ao CORREIO, no entanto, que a cidade em si precisa melhorar a infraestrutura local para os turistas e criar atrativos para que eles possam ficar mais em Camamu. A cidade não tem, por exemplo, vida noturna e lazer infantil (de dia ou à noite).“Dá 22h e todo mundo já está na dormindo. O turista que busca algo para fazer à noite, vai para Itacaré (a uns 40 minutos de carro) ou para Barra Grande, quando tem lancha para levar. Mas na praça, mesmo, só tem pedra, não tem um banco descente para a pessoa sentar”, criticou a gerente do único hotel da cidade, Naiade Arouca Moreno Costa.“Aqui é mais um lugar para a pessoa passar, não tem muitos atrativos locais, somente cachoeiras e balneários a algumas dezenas de quilômetros, e as ilhas da Baía. Não tem um restaurante bom. O restaurante do hotel é o único ‘à la carte’. O que tem aumentado o fluxo de turistas são Taipu de Fora e Barra Grande”, completou.     

Presidente da Associação de Lancheiros, entidade que reúne 13 donos de embarcação (entre lanchas e escunas, são cerca de 30), Josimar Longo Ramos acha que Camamu precisa melhorar a infraestrutura para fazer o turista ficar mais na cidade. “O fluxo de turistas aumentou, todo mundo vê. Mas o turista só passa aqui e vai embora”, disse.

“Mas não está ruim não. Dá para a gente viver tranquilo. Acho que o problema daqui da cidade, de não ter atrativo e maior estrutura, é competir com as belezas naturais de Barra Grande e Taipu de Fora, e com as ilhas. O turista prefere ficar mais perto delas”, comentou o dono de uma agência de turismo local, Marcos Paulo Conceição.

Em 2009, foi entregue uma rodovia estadual e uma ponte, sobre o Rio de Contas, ligando Camamu a Itacaré.  A inauguração da BA-001 pelo então governador Jaques Wagner contou com a presença do ministro do Turismo, Luiz Barreto. A estrada seria uma via alternativa, mais curta, de ligação entre a capital e a região do Sul. O custo total da ponte e dos 13,5 quilômetros foi de R$ 37 milhões, recursos do Prodetur II. À época, a expectativa do município era de que o turismo fosse potencializado.

Irreais O secretário municipal de Turismo Carlos Cássio Oliveira Silva afirmou que os dados do Ministério do Turismo não refletem a realidade de Camamu. Admitiu, porém, que a cidade precisa melhorar a vida noturna e oferecer opções para que o turista aproveite mais a cidade, sobretudo a orla que fica à beira do Rio Acaraí.

“Temos uma orla muito bonita, agradável à noite. Estamos trabalhando com os bares para que eles abram e ofereçam um bom serviço, com boas comidas e apresentação de artistas locais”, declarou. “Mas temos bons restaurantes que oferecem comida de qualidade durante o dia, sem deixar a desejar”.

“De dois anos para cá, só temos registrado crescimento”, disse o secretário. “Acho que esses dados do Ministério do Turismo estão defasados, longe da nossa realidade. Mas, independente disso, estamos trabalhando para melhorar o setor, atrair mais turistas e recepcioná-los da melhor forma possível”, comentou.

Silva lamentou o fato de a cidade ter perdido o direito de pedir mais verba, usada geralmente para a Festa da Padroeira, realizada dia 15 de agosto. São sete dias de festa. “Já fizemos a solicitação deste ano e espero poder contar com o recurso. A festa agita toda a cidade e tem participação de artesãos, artistas e o festival de gastronomia”.

Dezessete cidades baianas subiram de posição Na nova categorização do Ministério do Turismo, 17 cidades da Bahia registraram crescimento pelo setor, a exemplo de Lauro de Freitas, Mucugê, Santa Cruz Cabrália e Teixeira de Freitas. Cemitério Bizantino em Mucugê (Foto: Suzana Matos/Divulgação) Em todas elas, foi verificado aumento do número de empregos por meio do turismo, a ampliação dos estabelecimentos formais de hospedagem e do fluxo de visitantes domésticos e internacionais.“A melhoria de destinos como Mucugê, cenário de várias cachoeiras do Polo Chapada Diamantina, e Santa Cruz Cabrália, com os encantos das praias da Costa do Descobrimento, mostra que as cidades têm trabalhado para fortalecer a atividade turística”, disse o ministro do Turismo Marx Beltrão.O Ministério destacou que “a categorização é um processo dinâmico e perene que, assim como o Mapa do Turismo Brasileiro, deverá ser atualizado e aperfeiçoado periodicamente”.

Informou ainda que a “categorização serve também como balizador de políticas do setor e direcionamento de verbas federais. Com essa atualização, é possível perceber que alguns municípios estão se estruturando em regiões e fortalecendo, naturalmente, a economia do turismo.”

O motivo da alteração de categoria (para baixo ou para cima) é a dinâmica do desempenho da economia do turismo nos municípios, seja pelo aumento ou redução do seu fluxo turístico, da oferta de hospedagem ou pelo encolhimento ou expansão da mão-de-obra ou infraestrutura ligada ao setor.

Assim, se um município teve seu fluxo turístico e seus estabelecimentos formais de hospedagem ampliados, provavelmente, na próxima categorização, quando dados serão novamente avaliados, ele poderá mudar de posição.

Verba para recuperação Com o objetivo de melhorar a infraestrutura das cidades e recuperar posições na categorização, o Ministério do Turismo informa que já destinou, desde 2003, R$ 5,6 milhões a Amargosa, Camamu e Maragogipe para obras de reforma de praças, urbanização, revitalização de orlas e sinalização turística.

A Secretaria do Turismo da Bahia (Setur) informou que tem incentivado os municípios a atender às orientações do Ministério do Turismo com o propósito de facilitar a integração com as políticas de desenvolvimento do setor.

“O mapa contempla destinos consolidados e aqueles que possuem grande potencial para crescer, a exemplo de Santa Cruz Cabrália, Mucugê e Esplanada, ratificando o nosso trabalho para a expansão da atividade turística”, afirma o secretário estadual José Alves.

O presidente na Bahia da Associação Brasileira da Indústria de Hoteis (ABIH), Glicério Lemos de Santana, disse que “acompanha de longe a categorização do Ministério do Turismo”.

“Ele pode ser importante para balizar as políticas públicas para o setor, mas tem pouco efeito prático no consumidor final, que é o turista”, disse Lemos.

“Estamos mais antenados é com as redes sociais da internet, que têm sido o nosso termômetro. Por meio delas, temos monitorado quais são os locais que têm mais recebido críticas e elogios. O relato nas redes sociais da experiência que as pessoas tiveram é o que tem mais influenciado outras pessoas a ir ou deixar de ir a certos lugares, seja um restaurante ou uma praia”, concluiu.

Cidades que subiram de categoria: Adustina Aratuípe Esplanada Formosa do Rio Preto Gentio do Ouro Ibicoara Ibotirama Itanhém Lauro de Freitas Mucugê Palmeiras Pindobaçu Planaltino Santa Cruz Cabrália Sento Sé Teixeira de Freitas Uruçuca ***

Salvador permanece no topo da classe A; gestores explicam A capital baiana permaneceu na categoria A, segundo o ranking do Ministério do Turismo. A cidade recebeu ano passado 4.272.041 turistas nacionais e 2.855.561 estrangeiros. Os dados do ministério apontam que Salvador em 2017 tinha 13.749 estabelecimentos de hospedagem, onde trabalhavam 4.987 pessoas.

Segundo o secretário de Turismo do município, Claudio Tinoco, os cuidados com a infraestrutura da cidade, o calendário de eventos, além do investimento em novos atrativos e tecnologias contribuíram para a manutenção da cidade na posição mais alta do ranking e vão continuar fomentando o turismo em 2018. “Temos feito muitos investimentos ao longo dos últimos anos, não só com  obras de qualificação urbanística, como na orla, mas também infraestrutura de mobilidade e de acesso, tudo isso tem ajudado Salvador a se manter numa boa posição. Também temos trabalhado para melhorar a atenção ao turista e qualificar ainda mais os nossos serviços”, afirma Tinoco.

A expectativa é que o turismo, que já apresentou crescimento no último ano, seja ainda mais estimulado. “Abrimos 2018 com a melhor taxa de ocupação nos hotéis desde 2012. Estamos no caminho certo para melhorar nosso desempenho”. 

O Festival Virada Salvador, realizado no Réveillon, atraiu cerca de 430 mil visitantes, que movimentaram R$ 405 milhões na economia da cidade, de acordo com o Ministério do Turismo. A rede hoteleira e outras 50 atividades ligadas ao turismo também se beneficiaram do evento. Um levantamento feito pela Federação Baiana de Hospedagem e Alimentação (FeBHA) apontou que a ocupação média na cidade foi de 96,09% em 31 de dezembro. 

Já o Carnaval 2018 deixou Salvador no topo da ocupação hoteleira entre as capitais brasileiras, de acordo com a FeBHA. A capital baiana registrou 96% de ocupação, enquanto o Rio de Janeiro teve 85% e São Paulo 45%. A movimentação financeira da folia foi de R$ 1,8 bilhão. Além de Salvador, Porto Seguro, Cairu (Morro de São Paulo) e Mata de São João também estão na categoria A do ranking.

*Colaborou Raquel Saraiva.