Comandante da Cavalo Marinho I volta ao mar, mas passa mal

Osvaldo Barreto ganhou férias da empresa CL Transporte após a pressão subir durante a viagem

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  • Luan Santos

Publicado em 10 de outubro de 2017 às 17:15

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Eduardo Freire/Divulgação/CL

Quarenta e seis dias após a tragédia que deixou 19 mortos na Baía de Todos os Santos, o comandante da lancha Cavalo Marinho I, Osvaldo Barreto, 52 anos, retornou ao mar nesta segunda-feira (9) para pilotar uma embarcação na travessia Salvador-Mar Grande, mas acabou passando mal. O marinheiro retornou ao trabalho no mesmo horário do naufrágio, às 6h30, mas o reencontro com uma lancha não foi como ele esperava."A sensação foi horrível. Minha pressão subiu e acabei tendo um mal estar. Não foi fácil", contou Osvaldo, que ganhou um mês de férias da empresa CL Transporte Marítimo, para a qual trabalha há dois anos.Ele diz que não chegou a pilotar a embarcação, mas ficou na cabine de comando ao lado de outro comandante.

"Fiquei sentado na cabine, observando. Não cheguei a pegar o comando. De fato, ainda preciso de um tempo", confessou ao CORREIO, revelando que as lembranças do dia da tragédia vieram à tona enquanto estava na lancha. "Passou um filme de tudo que aconteceu naquele dia", afirmou. Ele fez a viagem de ida a Mar Grande e de retorno a Salvador.

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Descanso O comandante conta que pretende, agora, seguir fazendo tratamento psicológico e tirar o mês para relaxar e ficar com a família. "Meu irmão tem uma casa em Morro de São Paulo, e pretendo passar alguns dias lá. Quero passar mais tempo com minha família", comentou.

No entanto, apesar do mal estar, Osvaldo diz que não vai desistir do retorno ao comando de uma embarcação."Vou voltar viajando devagarzinho, até que as coisas voltem ao normal. O próprio terapeuta disse que é normal, que aos poucos vou me acostumando e de vez em quando vai ter um pouco de oscilação", pontuou.Antes de voltar ao mar, ele disse que se sentia preparado, apesar de ainda estar receoso. "Eu me sinto preparado para voltar ao mar, mas acho importante esse teste, ter um outro comandante ao lado para ver como me saio, como me comporto. Vamos ver como vou me comportar quando estiver na embarcação", disse o marinheiro, no domingo (8), em contato com o CORREIO. Durante sessão de terapia, dias após tragédia, sobrevivente abraça o comandante, em reconhecimento a seu esforço para salvar vidas (Foto: Eduardo Freire/Divulgação/CL) Parabéns pelo esforço  Após o acidente, ele conta que passageiros que sobreviveram à tragédia o procuraram para parabenizá-lo e agradecê-lo pelo esforço feito para salvar pessoas. Osvaldo diz que tem conversado com muitos dos sobreviventes neste período em que ficou afastado. "Sempre converso com alguém. Eu também sou um sobrevivente, né? Então, sempre estamos nos falando e compartilhando as emoções", disse, ressaltando que fez o possível para salvar o maior número de pessoas. "Fiz o meu papel de comandante da lancha", complementa.

Lembrando do dia do acidente, ele afirma que os últimos dias não foram fáceis, mas que tem trabalhado para superar as imagens da tragédia."Não é fácil depois desse acontecimento todo. Mas creio que tudo se supera", resumiu.Conduzir pessoas em transportes de massa sempre foi a vocação de Osvaldo. Antes de se tornar piloto de embarcações, há 15 anos, ele era rodoviário. "É o que eu gosto de fazer. Aprendi essa profissão há 15 anos e me identifiquei, é o que dá sustento aos meus filhos. Desejo muito voltar e me sentir bem", comentou.

Pai de três filhos e avô de um neto, ele conta que seus dias pós tragédia foram com a família. "Aquilo mudou a minha vida, completamente. Para mim, o apoio de família foi o que me deu forças para seguir em frente, para levantar a cabeça e olhar a vida de uma forma mais bonita", frisou.