Destruição em fazenda causa prejuízo multimilionário; veja vídeo

SSP determinou investigação sobre ataque no Oeste baiano

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  • Mario Bitencourt

Publicado em 7 de novembro de 2017 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Reprodução

Ao menos R$ 10 milhões é o prejuízo mínimo estimado com a destruição de maquinários diversos da fazenda Rio Claro, pertencente à empresa Lavoura e Pecuária Igarashi LTDA., em Correntina, no Extremo Oeste da Bahia.

Os proprietários da empresa começaram a fazer o cálculo nesta segunda-feira (6), dia em que também prestaram queixa do ocorrido à Polícia Civil de Correntina, município de 33 mil habitantes, a 914 km de Salvador.

A fazenda foi praticamente destruída na quinta-feira passada por cerca de 500 pessoas, a maioria pecuaristas e agricultores, que invadiram o local em protesto contra o novo sistema de irrigação da Igaraschi, produtora de batata, cenoura, feijão, tomate, alho e cebola.

Os manifestantes residem ao longo do Rio Arrojado e nos povoados de Praia, Arrogeando e São Manoel, e cujas propriedades estão situadas, boa parte delas, às margens do rio, do qual praticamente todos dependem para sobreviver.

A insatisfação com o novo projeto de irrigação na fazenda Rio Claro já vinha de ao menos dois meses, quando começaram a ser construídas duas piscinas de 125 metros quadrados, com profundidade de seis metros.

Segundo a Polícia Civil, os manifestantes alegam que o nível da água do rio baixa quando as bombas do sistema de irrigação das fazendas são ligadas – além da Rio Claro, a Igarashi colocou sistema de irrigação em parte de uma propriedade vizinha, a Fazenda Curitiba, também invadida.

O sistema de irrigação nas duas fazendas possui, ao todo, 32 pivôs para captação de água do Rio Arrojado, que faz parte da Bacia do Rio Corrente, composto por quinze rios, seis riachos e cinco córregos.

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Outorga De acordo com o site Matutar, que atua na defesa da Bacia do Rio Corrente, a Igarashi possui a outorga da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema) desde 2015 para irrigar 2.530 hectares com 180 mil metros cúbicos de água por dia.

O CORREIO procurou o Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Inema) para checar essas informações e saber sobre a situação atual do Rio Arrojado, mas o órgão não respondeu até a publicação da reportagem.

Na manifestação, além dos pivôs de captação de água, os populares destruíram caminhões, máquinas colheitadeiras, uma retroescavadeiras, uma patrol, uma máquina pá carregadeira e ao menos dez tratores. Todo o sistema elétrico da fazenda foi danificado.

Cinco funcionários da Igarashi ouvidos pela Polícia Civil nesta segunda informaram que os manifestantes invadiram a fazenda com paus e facões e os expulsaram das propriedades, se retirando no dia seguinte.

Investigação “Estamos tentando identificar essas pessoas pelas fotos e vídeos que circulam na internet. Não há um grupo que assumiu a autoria dos atos. Durante a semana, os funcionários da empresa estarão fazendo os cálculos do prejuízo para nos passar, acredito que na próxima segunda possamos ter já o real prejuízo da destruição”, disse o delegado de Correntina, Marcelo Calçado.

O governador Rui Costa determinou nesta segunda que o fato seja apurado e determinou o reforço policial na região. Ele se reuniu com o secretário da Segurança Pública, Maurício Barbosa, segundo o qual “a Polícia Militar se fez presente desde o primeiro momento.”

“Agora, estamos reforçando as estruturas de segurança, tanto da Polícia Militar, como já fizemos com o envio de tropas especializadas, como também enviando reforços para a Polícia Civil, que ficará à frente das investigações. Equipes de inteligência da secretaria também estão envolvidas na operação”, declarou Barbosa.

O secretário disse ainda que “a prioridade é evitar novas invasões e também identificar quais foram as pessoas ou grupos que financiaram a depredação de um patrimônio privado e de atentado às pessoas que estavam trabalhando”.

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Reações Em nota, a empresa declarou que os invasores “promoveram um ato de vandalismo injustificável e criminoso, ferindo, inclusive, um de seus colaboradores” e destacou que “todas as atividades desenvolvidas possuem as autorizações ambientais”.

“A Igarashi repudia todos os atos criminosos de vandalismo praticados, dos quais foi vítima. Ato que não tem qualquer legitimidade ou justificativa ambiental, ao tempo em que adotará todas as medidas legais para defesa dos seus direitos e responsabilização dos indivíduos que cometeram referidos atos de vandalismo”, diz o comunicado.

Entidades de classe como a Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), a Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa) e a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) também se manifestaram por meio de nota sobre o fato.

A Aiba classificou o manifesto como “extremista e sem embasamentos técnico-científico, onde os participantes atribuem o baixo volume dos rios exclusivamente aos pivôs utilizados na irrigação das lavouras, desconsiderando estudos recentes sobre a disponibilidade hídrica da região, fatores climáticos e o próprio ciclo da natureza.”

A CNA diz que “espera dos governos federal e estadual uma sinalização clara de que não compactuam com a violência no campo, assegurando aos produtores rurais brasileiros o respeito aos ditames do Estado de Direito para que possam continuar a produzir com liberdade e segurança.”

A Abapa, por sua vez, observou que “o rio Arrojado está com a vazão normal para este período do ano e nunca teve riscos de seca”. Para a entidade, “antes de serem levados ao ato de destruição, os representantes do movimento deveriam avaliar de forma objetiva qual o verdadeiro uso das águas para a Irrigação.”

Nenhum representante dos manifestantes foi localizado para comentar a ação.