Fábio Rocha: ‘O forte hoje é o modelo feminino’

Segundo especialista, profissionais devem se preparar para as mudanças velozes dos novos tempos

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  • Da Redação

Publicado em 2 de outubro de 2017 às 23:03

- Atualizado há um ano

. Crédito: Betto Jr./CORREIO

A ideia de que sucesso profissional está ligado a ter estabilidade e longevidade em uma única carreira está com os dias contados. É o que defende o coach e especialista em Gestão Integrada de Organizações, Fábio Rocha. Ele diz que o que antes levava séculos agora ocorre em um ou dois anos e  as pessoas devem se preparar para as mudanças que estão por vir. “‘Pensar fora da caixa’ é algo ultrapassado. A gente tem que destruir a caixa”.

Fábio Rocha ministrou  a oficina Mindset Digital: A Mudança das Pessoas e das Organizações, durante o Seminário Conexões do Fórum Agenda Bahia 2017. O especialista  acredita que as pessoas precisam programar seus modelos mentais - forma com que explicam o mundo a si mesmas - para enfrentar o futuro.  “Nossa visão de mundo é o que nos define. Mudar um modelo mental é mais difícil do que mudar hábitos”.

Rocha explica que os modelos mentais possuem alguns “bloqueios”, como convicções advindas da cultura, história pessoal, origem, influência familiar e experiências vividas por cada um.  Nesta entrevista para o CORREIO, o especialista fala sobre de que forma o mundo digital impacta nas carreiras. Confira:

Como serão as empresas no futuro? E os empregos? 

Antes de mais nada, serão bem diferentes do que a gente está acostumado. Talvez a gente não tenha mais uma relação tradicional de patrão-empregado, talvez não tenhamos a  tradicional carteira assinada ou até mesmo ambientes tão rígidos quanto escritórios. Aquilo que hoje ainda é uma exceção, como home office, será o comum. E é aí que a gente está falando em grandes revoluções na forma de produzir, na forma de consumir, que vão ter reflexo nas empresas. Só sobreviverão as empresas que consigam se adaptar. 

A mudança seria uma fluidez maior nas organizações? 

Sem dúvida, porque aquilo que é fluido foge um pouco do padrão atual. Eu inclusive brinco que o “pensar fora da caixa” é algo ultrapassado. A gente tem que destruir a caixa para enxergar os novos empregos, as novas profissões, as novas empresas. A gente precisa destruir a caixa e pensar em uma nova caixa, que talvez ainda não exista de fato. 

Existem carreiras que estarão em alta e outras que podem vir a ser extintas?

Os dados mostram que 65% das carreiras serão reinventadas ou extintas. O que eu quero chamar atenção é que a ideia de carreira é bem diferente de formação acadêmica e profissões. Alguns dizem que essas novas gerações terão, no mínimo, três profissões. Quando a gente fala de carreira, a gente fala de jornada, de vários ciclos de projeto de vida. Então nós estamos falando de algo muito maior do que simplesmente um ‘estudei contabilidade, vou ser contador a vida toda, vou trabalhar no varejo’. Não é que as profissões vão sumir. Com essa mudança você tem, muitas vezes, profissões tradicionais que vão ser reinventadas. Mas também teremos novas profissões. Recuperador de drone, talvez um gestor de robôs. A própria figura dos youtubers e dos influencer digitais surge como algo novo.  Quer dizer, você tem vários campos que estão nascendo.

Qual será o perfil buscado pelas empresas para seus empregados e colaboradores?

Primeiro, um alinhamento com a cultura organizacional, que é uma coisa que as empresas ainda estão engatinhando. É uma cultura mais agressiva? De excelência de serviço? É uma cultura mais de ética e responsabilidade social? Ou seja, o quanto aquele arquétipo cultural, o quanto aquelas normas, regras, símbolos e rituais da empresa têm a ver com o meus valores. Então diria que esse é o ponto principal. E, sem dúvida nenhuma, 80% do nosso sucesso profissional está em comportamento. Proatividade, disciplina, foco, concentração e capacidade de reaprender, por exemplo, são elementos mais fundamentais do que a competência técnica. Caso você não tenha a competência técnica, mas esteja alinhado à cultura organizacional e tenha talento, a empresa pode te contratar e investir em você.

Quais características as pessoas que vão liderar a transição para o digital devem ter?

Eu acho que, antes de mais nada, o forte hoje é o modelo feminino. Mas o que é o modelo feminino? ‘Então eu nasci mulher, tô feita na vida?’. Não. Falo que é uma forma de pensar e liderar pessoas que é mais a cara do feminino. Respeitar as individualidades, perceber que o ser humano não separa pessoal e profissional, perceber que muitas vezes ele quer mais propósito de vida do que simplesmente uma remuneração variável. Ou seja, é um modelo em que você crie um ambiente e gerencie uma grande família. Não no sentido pessoal, no sentido romântico ou humanitário, mas de você perceber que precisa fazer com que aquele funcionário enxergue que o projeto de vida e carreira está conectado com o propósito da organização.

Como tirar o melhor proveito da tecnologia? 

Não ficando refém dela. Entendendo que a tecnologia é um meio, pois quem transforma tudo, seja uma cidade, um planeta ou uma empresa são as pessoas. Então a tecnologia é meio, ela não vai nos substituir. Ela não vai nos substituir se a gente tiver conectado com a nossa essência. Se eu perder a minha essência, viro um robô, e aí o robô vai ser melhor do que eu.

O que fazer agora para  se preparar para o futuro? 

Investir no seu autoconhecimento. Tentar entender um pouco mais sobre você. Tente conhecer suas forças e fraquezas. Se permita enxergar a sua essência. Se isso é possível com o ser humano, claro que com um grau de complexidade maior, também é possível com as organizações.  As organizações precisam criar novos ambientes, novas formas de liderar, novas formas de gerenciar pessoas.